Vamos falar sobre igualdade de género?

O tema da igualdade de género está a ganhar força na nossa sociedade. De facto, vivemos num mundo cada vez mais “líquido” (Bauman, 2007) diverso e global, que deveria ser também, necessariamente, mais igualitário e respeitador dos direitos humanos fundamentais. Ou seja, como vivenciamos muitas mudanças é importante desconstruir os estereótipos de género e debater a cristalização dos papéis.

Em Portugal, na sequência do 25 de Abril, foi instaurada a democracia que tentou terminar com a desigualdade constitucional que limitava a participação pública feminina.  Ultrapassadas as questões legais é necessário contornar as convicções sociais que, através de hábitos e práticas, condicionam à necessidade de aceitação da voz feminina no espaço público.

De facto, a igualdade é um tópico que diz respeito a todos os géneros e deve ser debatido nas escolas, universidades e politécnicos.  Assim, entendemos que o jornalismo escolar, como o JC online, tem a obrigação de abordar a problemática. Afinal, ainda vivemos num mundo desigual, encoberto por uma “violência simbólica” (Bourdieu,2005) onde as atitudes de discriminação são perpetuadas diariamente, de tal forma que fazem parte do nosso quotidiano.

Os exemplos são múltiplos. Desde crianças começamos a construir um mundo binário azul e rosa e esquecemos que a construção do género é social e apreendida.  Este mundo dual condiciona escolhas e oportunidades.

Em relação às mulheres, muitas situações de desigualdade estão camufladas. Veja-se o caso das campanhas de publicidade que continuam a apostar na representação da figura do corpo feminino como um objeto, ou a sobrecarga que muitas têm na distribuição de tarefas em casa. As disparidades salariais são uma realidade e é comum constatar que muitos não sabem lidar com a presença feminina nas posições de chefia. 

Ainda nos deparamos com mentalidades arcaicas:  jovens que julgam que é melhor suportar um namoro violento a não ter namorado…   Muitos, até hoje, não dominam conceitos fundamentais como o que é consentimento sexual. Observamos situações onde os jovens homossexuais ou transexuais vêm os seus direitos violentados e têm de se esconder, o que gera aterrorizadoras implicações para a sua autoestima. No mundo virtual, os casos de violência de género prosperam entre intimidações e cyberbullying. Isso sem falar de temas como o abuso sexual ou o feminicídio. Por tudo isso é urgente a aceitação e tolerância do diferente, tanto de cor de pele como de orientação e identidade sexual.

Enfim, o tema marca a nossa atualidade e é, no fundo, uma questão de direitos humanos. Logo, diz respeito a todos nós. Lembremo-nos ainda que a missão do JC online deve ser contribuir para a concretização da igualdade sem reproduzir estereótipos nem sensacionalismos. Acreditamos que a igualdade de género deve ser trabalhada nos média sistematicamente (e não apenas pontualmente) de forma a fomentar o debate e para proporcionar ferramentas de ação.  Afinal, é importante discutir o que não pode ser silenciado.

Bauman, Z. (2007) Tempos líquidos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Bourdieu, P. (2005) A dominação masculina. Tradução de Maria Helena Kuhner. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Autor: Adriana Guimarães (Professora do curso de Jornalismo e Comunicação).

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