Mas afinal, as jornalistas percebem de futebol?

O futebol é um desporto muito popular em Portugal e que desperta os sentimentos que há de melhor e de pior nas pessoas. Talvez por isso, o jornalismo em torno deste desporto seja tão escrutinado pelos adeptos que compram jornais, seguem os jogos na rádio, veem programas com comentadores e desabafam sobre artigos online.

Na teoria, têm que ser homens na linha da frente porque, como são homens, percebem de futebol, certo? Errado. Nem todos gostam ou percebem de futebol. Verdade! Há homens que não fazem ideia quando é “canto”, o que é um “fora-de-jogo” e um “pontapé de bicicleta”, ou para quem um “frango” é para o almoço e um “chapéu” não passa de algo para pôr na cabeça ou proteger da chuva.

(Perdoem-me por esta “entrada a pés juntos”.)

Sabe-se que, historicamente em Portugal, as mulheres eram afastadas do desporto em geral e por isso é natural que o interesse simplesmente não existisse. Pouco a pouco foram começando a singrar nas áreas que anteriormente eram tidas como totalmente masculinas e afirmando-se graças em empenho em mostrar que não eram, de todo, o chamado “sexo fraco”. Nas últimas décadas, as mulheres estiveram mesmo em maioria nos cursos de jornalismo em Portugal, mas aquele desinteresse anterior é revelador quando falamos na quantidade que segue a especialização em desporto. Ainda assim, são cada vez mais.

Mas afinal, as mulheres podem ser jornalistas especializadas em futebol? Claro que sim! O futebol é uma temática como outra qualquer.

No início do ano de 2020, soaram alarmes quando da China chegavam notícias de uma nova doença, altamente contagiosa e que ninguém conhecia. Face a esta nova condição, a classe médica entrou em polvorosa e começou a estudar este vírus e as formas de transmissão. As notícias espalharam-se pelo mundo através de meios de comunicação social que, sem saber bem do que se tratava, foi passando a informação de acordo com o progresso desta doença por todos desconhecida. Os jornalistas não são médicos, mas foram aprendendo, com o tempo, os padrões desta doença mortal e foram partilhando toda a informação sobre este assunto específico. Aprenderam. Adaptaram-se.

Com o futebol é igual. O jornalista deve investir tempo a ver muitas horas de jogo seja de futebol de topo ou amador, estudar esquemas táticos, reconhecer jogadores, treinadores e restante equipa técnica e estar a par das constantes alterações às regras. Precisa estudar, como para qualquer outra área.

Longe vão os tempos em que os programas de futebol na televisão eram apresentados por senhoras, tentando garantir mais audiência face à concorrência, mas em que o papel era apenas o de aparecer como “uma cara bonita”. Com o tempo elas aprenderam, estudaram, especializaram-se e surgiram com mais responsabilidades. Começaram a fazer história por apresentar programas, mas com um papel mais interventivo, comentam jogos em canais especializados, tornaram-se repórteres de campo em jogos da I Liga, tornaram-se narradoras de jogos da principal Liga de futebol masculino e alcançaram tanto que, em 2021 estes acontecimentos continuam a ser dignos de registo. Também em 2021 e face a estas notícias que celebram os feitos das mulheres no jornalismo especializado em futebol continuam a existir comentários machistas de quem considera que uma pessoa de determinado sexo não é capaz de fazer algo para o qual estudou e em que se especializou.

Para se ser bom não é só preciso tirar o curso de jornalismo. É preciso especializar-se em determinada área e continuar a estudar. Neste caso, só precisa disso e de ser apaixonado pelo futebol, seja homem ou mulher.

Autor: Liliana Pêgo (Mestre em Jornalismo, Comunicação e Cultura, autora de uma tese sobre mulheres jornalistas no desporto)

Ver também: Jornalismo desportivo no feminino

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