Dançar sem preconceito

Ricardo Baptista tem 39 anos. É o único dançarino da escola Es-Passo de Dança, no Entroncamento. Começou a dançar “por brincadeira’’. Como uma forma de tentar perceber a evolução e a paixão que as suas filhas sentem pela dança. Não se arrepende. Este cabeleireiro, maquilhador e costureiro de figurinos para espetáculos começou a dar os primeiros passos já lá vão 4 anos.

Nota alguma evolução no modo como olham para ele, enquanto dançarino, mas ainda assim lamenta que ainda haja bastantes estereótipos e afirma já ter passado “por situações algo depreciativas, com comentários menos positivos”. Ricardo Baptista diz que ‘’ainda há muita vergonha’’ por parte das famílias em levar os rapazes para a dança.  “Conheço algumas mulheres que têm filhos que gostam de dança, mas acabam por preferir inscrevê-los em desportos como o futebol ou o judo, só porque os pais acham que é mais coisa de homem’’.

Há muito que temas como o sexismo e a igualdade de género são um ponto de discussão. Embora num mundo parcialmente mais desenvolvido do que antigamente, algumas pessoas têm ainda o hábito de associar determinadas atividades a um género. Normalmente, o homem é relacionado com profissões e/ou hobbies de força (e mais exigentes fisicamente) e a mulher é relacionada a ações mais subtis.

O mundo da música, e em especial da dança, é o exemplo disso. Em Portugal, esta arte é constituída maioritariamente por mulheres, sendo especialmente reduzido o número de homens a praticar modalidades como o Ballet Clássico ou o Contemporâneo.

Catarina Miranda, de 28 anos, é a fundadora do projeto EsPasso de Dança, em Portalegre, e professora de dança e confirma a reduzida procura de rapazes pela dança.  Afirma que a escola tem cerca de 50 elementos do sexo feminino e apenas 5 do sexo masculino. ‘’Ainda vivemos num país e, especialmente, numa zona de muito estereótipo’’, considera Catarina Miranda. Afirma que algumas mães levam os filhos a experimentar, mas que alguns desistem devido a alguns comentários menos simpáticos por parte dos colegas da escola. ‘’É necessário um rapaz com uma grande autoestima e confiança para conseguir prosseguir’’, diz Catarina Miranda.

Já Susana Valério, de 45 anos, é professora e diretora do Es-Passo de Dança, no Entroncamento. Conta que a sua escola tem cerca de 65 meninas e apenas um aluno do sexo masculino. Em concordância com Catarina Miranda, Susana afirma que sempre existiu preconceito em relação à presença de homens na dança, e em especial no Ballet, por ser considerado um ‘’género de dança onde os movimentos são mais suaves e delicados e, erradamente, mais associados às mulheres’’.

 

 

Nada que tenha demovido Rui Oliveira, de 24 anos, de prosseguir o seu sonho. Estuda Dança Contemporânea e Clássica na Escola Superior de Dança (em Lisboa). Esta instituição conta com 135 raparigas e apenas 28 rapazes. O bailarino considera que em alguns países da Europa, ‘’a quantidade de bailarinos masculinos é muito maior e até existe formação específica só para homens, principalmente no ballet clássico. Aqui em Portugal, isso não existe porque o número de bailarinos é tão pequeno que não justifica a existência desse tipo de formação’’.  Conclui com a certeza de que ‘’ainda existe um longo caminho na educação da população’’ relativamente a este tipo de ideologias, e questionando o porquê de o ser humano não poder ‘’tomar decisões sem ter receio de ser vítima de preconceito’’.

Autor: Adriana Zeferino

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