Dançar sem preconceito Dossiês Igualdade de Género 22 Janeiro, 202128 Janeiro, 2021 Ricardo Baptista tem 39 anos. É o único dançarino da escola Es-Passo de Dança, no Entroncamento. Começou a dançar “por brincadeira’’. Como uma forma de tentar perceber a evolução e a paixão que as suas filhas sentem pela dança. Não se arrepende. Este cabeleireiro, maquilhador e costureiro de figurinos para espetáculos começou a dar os primeiros passos já lá vão 4 anos. Nota alguma evolução no modo como olham para ele, enquanto dançarino, mas ainda assim lamenta que ainda haja bastantes estereótipos e afirma já ter passado “por situações algo depreciativas, com comentários menos positivos”. Ricardo Baptista diz que ‘’ainda há muita vergonha’’ por parte das famílias em levar os rapazes para a dança. “Conheço algumas mulheres que têm filhos que gostam de dança, mas acabam por preferir inscrevê-los em desportos como o futebol ou o judo, só porque os pais acham que é mais coisa de homem’’. Há muito que temas como o sexismo e a igualdade de género são um ponto de discussão. Embora num mundo parcialmente mais desenvolvido do que antigamente, algumas pessoas têm ainda o hábito de associar determinadas atividades a um género. Normalmente, o homem é relacionado com profissões e/ou hobbies de força (e mais exigentes fisicamente) e a mulher é relacionada a ações mais subtis. O mundo da música, e em especial da dança, é o exemplo disso. Em Portugal, esta arte é constituída maioritariamente por mulheres, sendo especialmente reduzido o número de homens a praticar modalidades como o Ballet Clássico ou o Contemporâneo. Catarina Miranda, de 28 anos, é a fundadora do projeto EsPasso de Dança, em Portalegre, e professora de dança e confirma a reduzida procura de rapazes pela dança. Afirma que a escola tem cerca de 50 elementos do sexo feminino e apenas 5 do sexo masculino. ‘’Ainda vivemos num país e, especialmente, numa zona de muito estereótipo’’, considera Catarina Miranda. Afirma que algumas mães levam os filhos a experimentar, mas que alguns desistem devido a alguns comentários menos simpáticos por parte dos colegas da escola. ‘’É necessário um rapaz com uma grande autoestima e confiança para conseguir prosseguir’’, diz Catarina Miranda. Já Susana Valério, de 45 anos, é professora e diretora do Es-Passo de Dança, no Entroncamento. Conta que a sua escola tem cerca de 65 meninas e apenas um aluno do sexo masculino. Em concordância com Catarina Miranda, Susana afirma que sempre existiu preconceito em relação à presença de homens na dança, e em especial no Ballet, por ser considerado um ‘’género de dança onde os movimentos são mais suaves e delicados e, erradamente, mais associados às mulheres’’. Nada que tenha demovido Rui Oliveira, de 24 anos, de prosseguir o seu sonho. Estuda Dança Contemporânea e Clássica na Escola Superior de Dança (em Lisboa). Esta instituição conta com 135 raparigas e apenas 28 rapazes. O bailarino considera que em alguns países da Europa, ‘’a quantidade de bailarinos masculinos é muito maior e até existe formação específica só para homens, principalmente no ballet clássico. Aqui em Portugal, isso não existe porque o número de bailarinos é tão pequeno que não justifica a existência desse tipo de formação’’. Conclui com a certeza de que ‘’ainda existe um longo caminho na educação da população’’ relativamente a este tipo de ideologias, e questionando o porquê de o ser humano não poder ‘’tomar decisões sem ter receio de ser vítima de preconceito’’. EsPasso de Dança (Portalegre)Es-Passo de Dança (Entrocamento)Escola Superior de Dança (Lisboa)Es-Passo de Dança (Entrocamento) Autor: Adriana Zeferino Share on Facebook Share Share on TwitterTweet Share on Pinterest Share Share on LinkedIn Share