É o medo que rege a humanidade
O preconceito é um dos entraves para uma integração bem sucedida por parte dos refugiados e são projetos como o Rostos com Futuro que trabalham para inverter esta situação.
Beja é uma das muitas cidades portuguesas que recebe requerentes de asilo. Para Helena Saiote, o facto de ser uma região em que a população é maioritariamente envelhecida explica a existência de algum preconceito que acaba por se tornar numa barreira para a reinserção dos refugiados na comunidade. Segundo esta Mediadora Intercultural para os Imigrantes, este é um cenário bem visível na comunidade alentejana.
São vários os projetos que trabalham com o objetivo de lutar contra estas ideias preconcebidas para, de alguma forma, conseguirem ajudar os requerentes de asilo a adaptarem-se à sua nova realidade e, ao mesmo tempo, mudarem as mentalidades das pessoas em relação a este tema.
Rostos com Futuro é o nome de um projeto dirigido pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e visa trabalhar com as minorias em prol da sua integração.
O projeto consiste no estabelecimento de pontes entre as pessoas que chegam e a comunidade de acolhimento. Trabalham vários fatores como a gestão de conflitos e a prevenção dos mesmos, auxílio em situações com as identidades públicas, apoio alimentar e, de uma maneira geral, dão uma resposta indireta a todas as necessidades que possam surgir.
Por virem ao abrigo de proteção internacional, os refugiados têm o direito de receber uma bolsa monetária mensal que têm de gerir. Este tipo de apoio direto é dado por parte da Santa Casa da Misericórdia de Beja (SCMB) e pela Segurança Social.
Uma das dificuldades que os mediadores interculturais enfrentam é a barreira linguística, o que torna a comunicação mais difícil e pode ter impacto na forma como se integram na sociedade. Helena Saiote confessa que: “A barreira linguística é um entrave para a comunicação e integração das pessoas na comunidade de acolhimento”.
O processo de integração é complicado, mas para que seja bem sucedido é necessário que haja compreensão e para Helena Saiote é extremamente importante que os cidadãos saibam colocar-se no lugar do outro.
Para além de serem uma ponte entre o problema e a solução, o Rostos com Futuro promove eventos onde realizam atividades interculturais que incentivam à participação de todos os que se mostrem interessados e, ainda, workshops para a formação dos técnicos da rede social do concelho de Beja.
Durante a entrevista ao JConline, Helena Saiote afirmou que ainda prevalece algum preconceito relativamente aos refugiados e o seu trabalho abrange também a sensibilização da população, de forma a alterar a sua visão. Este é um fator importante para facilitar a adaptação desta minoria.
Portugal é um dos países da União Europeia que, desde 2015, recebe refugiados de todo o mundo. Contudo, a discriminação ainda é um dos principais problemas que estas pessoas enfrentam. Isto acontece pela falta de informação da população, o que pode gerar conflitos como comentários racistas, agressões e até mesmo o sentimento de insegurança segundo Helena Saiote:
“Nós, seres humanos, temos medo do desconhecido e, quando as pessoas só conhecem pelo que ouvem dizer e veem na comunicação social, criam uma ideia diferente da realidade, porque só através das vivências é que podemos tirar as nossas conclusões.”
Para a Mediadora Intercultural, a humanidade rege-se pelo medo do desconhecido e, por isso, é compreensível que haja um choque de culturas quando as realidades não são semelhantes, no entanto, isto não significa que seja aceitável um tratamento vincadamente diferenciado entre as duas partes.
É fulcral que se dê a conhecer a importância que os refugiados podem trazer para o desenvolvimento dos territórios de acolhimento e só com a partilha destas informações é que se consegue alterar a perspetiva da comunidade em relação a estas pessoas.
O preconceito é uma realidade bastante presente nos dias de hoje, como afirma Helena Saiote: “Este não é um assunto muito abordado porque não é politicamente correto, mas ele existe e não deve ser ignorado”.
Autoria: Maria Bôto e Raquel Marvão
Ilustrações: Laura Pires