“A assessoria de imprensa perdeu volume, mas não perdeu eficácia” Dossiês XXIX Jornadas da Comunicação 27 Março, 202527 Março, 2025 O assessor de imprensa e o jornalista precisam um do outro e o crescimento das redes sociais alterou esse relacionamento. Esta foi a ideia principal discutida durante o debate que decorreu na manhã do segundo dia das XXIX Jornadas da Comunicação no auditório Abílio Amiguinho na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais. As relações estabelecem-se através da interação profissional, mas essa relação desenvolve-se numa base de confiança entre as duas partes. Apesar de ser uma relação mais formal de assessor para jornalista, esta vai evoluir através do contacto informal: “São relações que se vão construindo ao longo do tempo” referiu Joana Penderlico, técnica superior na Cátedra de Energias Renováveis na Universidade de Évora. Também Raquel Patrício Gomes, conselheira de imprensa do Parlamento Europeu em Portugal, considerou que é “uma relação, ponto! E é uma relação evolutiva. É uma relação de proximidade”. “Conflito, existe sempre, mas é algo saudável porque ambos precisam um do outro” disse Joana Penderlico, referindo-se à relação de disputa e dependência entre assessores de imprensa e jornalistas. Sobre esta questão, Vasco Ribeiro, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirmou: “não temos de ter amigos jornalistas. O nosso trabalho é feito de forma interesseira para melhorar a imagem da minha instituição. Somos propagandistas!” Contudo, a credibilidade é um elemento central na relação de confiança que se quer estabelecer. Raquel Patrício Gomes referiu que essa confiança se vai construindo, porque os profissionais mudam de local de trabalho com regularidade: “ao longo da carreira os jornalistas andam de jornal em jornal, nós também, tem de ser uma relação pessoal e impessoal”. Sobre esta questão, Vasco Ribeiro reforçou: “eu não minto a jornalistas, pois vivemos de credibilidade e isso é fundamental numa relação de confiança. A verdade tem de estar na base disto tudo. A tua carreira assenta na base da tua credibilidade”. Sobre a profissão de assessor de imprensa, Vasco Ribeiro afirmou que, hoje, essa tarefa é apenas uma parte ínfima do trabalho de um profissional de comunicação, mas “é na proatividade que está o segredo da assessoria de imprensa”. Raquel Patrício Gomes referiu também que é preciso inovar nas práticas: “se eu me quero aproximar do jornalista, então eu tenho de lhe apresentar propostas diferentes”. O papel redes sociais na assessoria de imprensa Com a surgimento das redes sociais, a interação entre o jornalista e o assessor de imprensa deixou quase de existir, porque o jornalista já não se dirige ao assessor de imprensa para procurar informação e este encontrou em outros meios uma forma de transmitir a sua mensagem. Vasco Ribeiro disse que “com as redes sociais deixamos de ter contacto com o jornalista e ele passa a ser a quarta ou quinta opção.” Raquel Patrício Gomes referiu que, no contexto do Parlamento Europeu, “o nosso foco é o Twitter, com a salvaguarda de isto ser uma bolha, uma bolha do Twitter e uma bolha de Bruxelas”. A forma como a informação é transmitida pelos assessores de imprensa também mudou. Esta passou a ser feita através de ferramentas digitais, porque são mais rápidas, mais diretas e menos dispendiosas. Vasco Ribeiro afirmou que “as conferências de imprensa são formatos ultrapassados” e Raquel Patrício Gomes prefere usar as comunidades no Whatsapp para comunicar com os jornalistas. As redes sociais contribuem também para aproximar a assessoria de imprensa das pessoas, ligando de forma mais rápida assessores e públicos. Raquel Patrício Gomes destacou a sua experiência no Parlamento Europeu e como é que a assessoria de imprensa usa as redes sociais para criar “uma relação de maior proximidade” já que, no seu caso, a distância com os eleitores é grande. “O Parlamento Europeu é muito progressista neste domínio e recorremos muitas vezes à colaboração com influenciadores digitais, porque estes têm importância no seu segmento”. A assessoria de imprensa na construção da reputação das instituições Todas as instituições têm uma reputação a manter e que também é construída pela assessoria de imprensa, porque ela é importante para manter a imagem da instituição ou pessoa que representa. Raquel Patrício Gomes, referindo-se ao seu caso, considerou que a sua função é deixar uma imagem clara de quem representa: “No meu caso”, referindo-se a Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, “quero que ela apareça sozinha, não quero ‘muletas’, aquela senhora vale por si só, quero uma imagem despoluída”. Uma estratégia também mencionada por esta profissional é o recurso ao embeded journalism, que é o acompanhamento por parte de um jornalista do trabalho de um representante de uma instituição. Raquel Gomes destacou que esta estratégia contribui para a construção da reputação junto do público e afirmou que “muitas vezes, as instituições têm uma imagem muito aborrecida e pesada, por isso é preciso humanizar a instituição, dar-lhe uma cara”. Vasco Ribeiro destacou a importância da assessoria de imprensa porque esta “continua a ser a única tática das relações públicas ou da comunicação estratégica que cria reputação. As redes criam visibilidade. É uma coisa diferente!”. Assessoria de imprensa e inteligência artificial – que futuro? A recente evolução da inteligência artificial (IA) tem gerado bastante debate sobre o impacto desta tecnologia em muitas profissões e a assessoria de imprensa não é exceção. Joana Penderlico abordou este tema e acredita que a IA pode ser uma ferramenta valiosa, mas destacou que o trabalho humano será sempre importante. Para ela, a IA “não representa ameaça porque as relações humanas são fundamentais e vão ser sempre necessárias nesta profissão”. Raquel Patrício Gomes vê a IA como um desafio que exige adaptação e considera que ferramentas como o ChatGPT podem ser úteis no processo jornalístico, ajudando a formular questões mais precisas e aprofundadas. “Não sou tão fatalista. O ChatGPT ensina-nos a saber fazer perguntas. Obriga-nos a fazer a pergunta certa. Não acredito na morte do jornalismo, acredito na renovação e reinvenção”. Outro tema discutido foi o perigo da dependência da IA na produção de conteúdos. O receio de que os jornais percam credibilidade ao adotarem textos gerados por IA é um assunto preocupante. Raquel Patrício Gomes foi muito crítica em relação a esta questão e destacou o rigor e autenticidade que um jornal deve ter. “No dia que a IA escreva para um jornal devemos logo largar esse jornal”, disse. Os desafios do digital na assessoria de imprensa O monitoramento dos media é uma ferramenta essencial na assessoria de imprensa, que permite acompanhar a repercussão de notícias e avaliar o impacto das estratégias de comunicação. Para Raquel Patrício Gomes, esta prática é fundamental, mas deve ser utilizada no momento certo para medir a eficácia do trabalho desenvolvido: “É muito importante, mas tem o tempo útil para saber como a coisa está a correr em termos de impacto do meu trabalho”. Além disso, o monitoramento dos media é um recurso estratégico, especialmente em momentos de crise, na gestão de imagem e na resposta rápida a desafios comunicacionais. Raquel Patrício Gomes reforçou que esta acompanha as notícias “para controlo de narrativa em situações de crise”. A análise criteriosa das publicações permite também perceber quais informações foram alteradas pelos jornalistas, algo que Joana Penderlico considerou essencial para melhorar a comunicação. Saber “o que é mais relevante e o que não é, que alterações foram feitas no meu comunicado e, para uma próxima vez, melhorar o meu trabalho”. Vasco Ribeiro referiu que, no ambiente digital, as notícias circulam rapidamente e em múltiplos canais. “Hoje [o clipping] é muito mais importante porque, no ambiente digital, ganhou ainda mais relevância”. Uma ideia referida por todos os oradores é que as redes sociais, os blogs e os sites de notícias exigem um acompanhamento constante, tornando o monitoramento dos media uma prática indispensável para qualquer profissional de comunicação que queira antecipar tendências, corrigir falhas e fortalecer a presença mediática. O final da sessão ficou marcado pela partilha de algumas histórias ocorridas no decorrer da sua profissão. Raquel Patrício Gomes, referindo-se a um episódio que ocorreu numa visita da Presidente do Parlamento Europeu a Portugal, disse “nós, assessores de imprensa, somos colocados em situações muito surpreendentes e até anedóticas, mas a profissão é mesmo assim”. Também Vasco Ribeiro reforçou esta ideia, dizendo que os assessores têm de ser o escudo humano da pessoa ou instituição que representam: “Nós existimos, muitas vezes, para ficar com as culpas”. Os oradores reforçaram a importância de eventos como este. Vasco Ribeiro afirmou que “é uma troca de experiências quer na parte profissional, quer depois na academia, com a presença de académicos, que permite acima de tudo, trazer discussão e gerar rutura de alguns conceitos que tenhamos”. Joana Penderlico disse que “o tema foi muito pertinente, tendo em conta a atualidade e as questões sobre as redes sociais que são o presente e são o futuro”. Também Raquel Gomes salientou que “é importante mostrar como é que o mercado de trabalho funciona na realidade e como é que nós depois damos o salto de formar jornalistas para depois chegarem ao mercado de trabalho”. O debate foi antecedido por um momento musical protagonizado pelo grupo Nova Casta. Texto: Pedro Nogueira e Vasco Lopes Fotografias: José Neves Share on Facebook Share Share on TwitterTweet Share on Pinterest Share Share on LinkedIn Share