Fernando Rocha: “Storytelling é uma técnica que contribui para que as marcas contem a sua história”

Fernando Rocha, mestre em Comunicação Estratégica, Publicidade e Relações Públicas e doutorando em Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior, esteve presente nas XXIX das Jornadas da Comunicação para realizar um workshop sobre storytelling e deu uma entrevista ao JC Online.

 

JC Online – O que é o storytelling?

Fernando Rocha – Ele pode ser uma ciência e também pode ser uma arte, não é? Arte de contar histórias e de envolver, de alguma maneira, com conexão o público. No caso da minha participação, aqui foi focado no universo das marcas, mas o storytelling não é de agora, ele vem lá da pré-história, quando as pessoas se reuniam em volta da fogueira para contar as suas aventuras de caça do dia. Então não é um tema novo, mas é relativamente novo aplicado ao universo das marcas. E assim, num cenário onde existe uma saturação muito grande de conteúdo, um algoritmo muito afunilado, fragmentação da audiência, enfim, o storytelling acaba por ser uma técnica que contribui para que as marcas contem a sua história e de alguma maneira também engajem o público e possam transmitir também o seu conteúdo.

 

JC Online – Qual a importância das histórias na vida das pessoas?

Francisco Rocha- Existem alguns autores que eu uso como referência que dizem que é mais fácil agregar informações por meio das histórias. Trouxe a minha filha junto, inclusive aqui e geralmente, quando preciso passar algum tipo de conhecimento, eu uso contar através de histórias o que eu sei que fixa mais. As histórias têm essa capacidade, inclusive de outras espécies, que não conseguem perceber muito bem as histórias. O nosso cérebro, ele é ativado, como existe uma mudança de valor nuclear, de positivo para negativo, quando existe um ponto de viragem, um ponto de virada e isso dá-se muito por meio das histórias. Então, a importância das histórias é entreter, conectar, emocionar, sensibilizar, transmitir mensagens.

 

JC Online- Quais são as características de uma boa história?

Francisco Rocha – Existem, como eu transmiti aqui, umas estruturas narrativas e aí pode se utilizar uma variedade de estruturas narrativas para poder contar uma boa história. O importante é saber que isso não é apenas uma inspiração natural ou empírica, nós aprendemos com o tempo. Existem técnicas para poder contar alguma boa história e usei o exemplo aqui do Robert MCKee, que é um autor em que lá no final da década de 90, procurado por pessoas que faziam animações que mais tarde eram da Pixar. Eles tinham grandes animações, mas não tinham histórias por trás. Robert MCKee então desenvolveu uma estrutura de história onde praticamente todos os filmes da Pixar seguem o mesmo padrão e entregam uma história com diferentes valores, porque alteram de positivo para negativo nesse valor nuclear. Então existem técnicas de estrutura narrativa e, para isso, é preciso estudar bastante. Contar uma boa história não é só ser um bom orador, só saber se comunicar, mas é também estudar muito profundamente o universo do storytelling para entender bem as estruturas narrativas, entender o que o público espera e, aí sim, poder entregar uma história de valor.

 

JC Online – O storytelling é apenas importante para quem trabalha em comunicação ou para as outras áreas em geral?

Francisco Rocha – Eu acho que em todas as áreas. Vamos pegar um exemplo. Eu, por exemplo, hoje quando a gente colocou no GPS eu parei lá no Politécnico de Portalegre, no edifício da saúde. Vamos usar o exemplo da saúde. Um médico, quando vai transmitir um diagnóstico, quando vai precisar de alguma maneira conversar com o paciente, se ele falar em termos técnicos, dificilmente alguém vai perceber. Inclusive antigamente, por exemplo, quando a gente faz uma análise de sangue, os parâmetros que eram números que ninguém percebia, hoje, existe por exemplo storytelling com dados que é aplicado inclusive nessa cena das análises de sangue em que a gente vê ali graduações e a gente logo já percebe se está bem ou se tem que correr para o hospital. Assim, o storytelling, principalmente no universo digital onde praticamente todos são comunicadores hoje, precisa estar integrado a praticamente todas as profissões, porque é a forma mais emocional de poder transmitir a mensagem coerente com aquilo que se pretende.

 

JC Online – Partindo do desafio que lançou à plateia, qual seria o seu slogan?

Francisco Rocha – Agora quando perguntam para mim é mais difícil. Mas eu tinha um slogan de vida antes e acho que depois que eu fui para a área da docência, mudou um pouco que e é tentar transformar a vida por meio da educação. Eu tento estruturar com o modelo dos três atos, onde existe um contexto, uma confrontação, um incidente que vai fazer com que as pessoas de alguma maneira se prendam àquele conteúdo e, no fim, o clímax, que é aquilo que de facto vai ficar e os alunos vão poder absorver melhor. Então, o slogan, terei que pensar um pouco, mas é tentar de alguma maneira transformar a vida de alunos e a minha também por meio da educação. Nós temos muitos influenciadores hoje que ditam o ritmo de que jovens precisam seguir e às vezes até falam: “olha, não precisa estudar, não precisa de fazer um curso, uma formação superior” e eu tenho uma certa preocupação com essa geração. Acho que as vidas se transformam por meio da educação, da troca de diversidade e de nacionalidades, etnias, etc. Para mim, o slogan é mais ou menos isso, é tentar transformar as vidas, mas nesse espaço físico da educação.

 

Texto: Ana Pinto

Fotografia: Marta Borralho

Topo