Comércio tradicional em risco

O florescimento das grandes superfícies comerciais e o crescimento do seu poder económico tem vindo a abafar a actividade dos pequenos negócios em todo o país. Portalegre já não pode contar com os períodos festivos para atenuar esta situação e recebe as queixas dos seus comerciantes, que demonstram uma atitude pessimista em relação a um futuro próximo. Há mesmo quem já tenha a loja para trespasse.

Os pequenos comerciantes e lojistas de Portalegre sentem-se desamparados e com falta de esperança nos negócios. Queixam-se da concorrência com os centros comerciais e da crise que nem a época pascal parece querer disfarçar.

Na tradicional Rua do Comércio é constante o movimento de pessoas. Passam, observam algumas montras e seguem o seu percurso. A opinião dos comerciantes é unânime: são as grandes superfícies comerciais e os hipermercados que vieram deteriorar a situação económica dos pequenos negócios.
A proximidade da cidade com o país vizinho é também apontada como um dos principais factores a levar os portalegrenses a desistirem de um consumo endógeno e mais localizado.

Em tantos anos, e após tantas crises, todos insistem em afirmar que esta é a pior e que parece não ter tendência a atenuar. Este ano, nem o período da Páscoa veio trazer uma melhoria nas vendas, que não têm registado qualquer alteração.

A diminuição geral do poder de compra dos portugueses é, igualmente, indicada como causa condutora a esta situação, segundo afirma Ana Maria Lopes Ramos, proprietária da sapataria mais antiga da cidade. “Está tudo muito caro e as pessoas vão ao mais barato deixando, muitas vezes, de dar tanta atenção à qualidade”.

É com grande mágoa que a dona deste estabelecimento confessa que já tem a loja para trespasse. “É muito complicado estar todo o dia atrás de um balcão sem vender uma única peça, por vezes durante dias”, explica esta comerciante que conta já com cinquenta e sete anos de negócio.

O conforto, a acessibilidade e a facilidade de compra são vantagens associadas aos centros comerciais que, hoje em dia, tanto atraem os consumidores. No entanto, são a atenção, o cuidado e, mesmo, a amizade com que os clientes são recebidos que fazem do comércio tradicional uma verdadeira arte e, para a maioria dos vendedores, um gosto. “Preocupamo-nos sempre em tentar resolver qualquer problema que haja com o produto para que o cliente fique satisfeito e volte” confessa António Rijo, vendedor numa loja de electrodomésticos.

Manuel Oliveira, comerciante há sessenta e três anos, alega que esta conjuntura “já não tem remédio. O comércio tradicional tem tendência a desaparecer. A clientela fixa é inexistente, transformando-nos apenas em lojas de bairro”.

Acerca desta situação, não nos foi possível obter declarações da Associação Comercial de Portalegre, entidade responsável pela representação de grande parte dos estabelecimentos de Portalegre e impulsionadora de actividades com o objectivo de promover os seus associados. O ESEP Jornal Digital sabe, contudo que, ao contrário de outros anos, esta entidade não tem planos para a época festiva que se aproxima.