A doença das mãos sujas

Álvaro Pacheco, director do Hospital de Elvas
Álvaro Pacheco, director do Hospital de Elvas

O Quisto Hidático é uma doença parasitária grave, que o cão e os outros animais transmitem ao homem. O Alentejo é a zona mais afectada do país por uma patologia que, caso não seja tratada a tempo, pode levar à morte.

O Alentejo, em particular os concelhos de Elvas e do Alandroal, é a zona do país com maior incidência de casos de pessoas contaminadas com o quisto hidáctico. Trata-se de uma doença que é transmitida ao homem pelo cão e que é frequente em zonas rurais onde a pastorícia é uma actividade muito praticada. Também conhecida por Hidatitose ou Equinococose-Hidatitose, a doença é transmitida por um parasita conhecido por equinococos. Uma vez alujado no corpo humano, o parasita passa a ser chamado de Hidatitose.

Esta doença é mais conhecida como quisto hidático porque é o nome mais vulgar, pois quando o parasita se hospeda no corpo humano, e se desenvolve no fígado, local mais frequente desta patologia, vai criando uma bola com um líquido.
Este quisto pode variar entre os 5 e os 19 cm de diâmetro e se não for tratado pode provocar a morte.

Álvaro Pacheco, director do Hospital de Elvas, explica que “todas as doenças têm um ciclo e esta não foge à regra. Este parasita existe no gado bovino e caprino e depois é transmitido ao homem através do cão. Ou seja, se não houver cão, a doença não é transmitida.”

O ciclo começa quando o cão se infecta ao ingerir vísceras de animais que por sua vez apanharam o parasita por se alimentarem de pastos e águas contaminadas.
A transmissão da doença para o homem acontece normalmente quando alguém que esteve em contacto com um cão não teve os cuidados necessários de higiene como levar as mãos à boca depois de tocar no cão contaminado ou ingerir óvulos do parasita existentes no meio ambiente, através de alimentos crus, frutos e vegetais mal lavados.

“Se houvesse a possibilidade do homem apanhar esta doença através da ovelha não fazia mal nenhum porque se trata de um embrião novo. Só se torna num embrião adulto quando passa no intestino do cão. Por isso é que o cão é o animal intermediário. Sem cão não haveria esta doença”, acrescenta o director do hospital.
Esta doença existe na maioria dos casos em países de clima mediterrâneo, sendo o Alentejo a região mais atingida em Portugal. “Estas doenças existem em zonas pastorícias, onde existem pastores, de gado bovino e ouvino, e consequentemente um cão. Normalmente o cão apanha esta doença de duas maneiras: se comer vísceras cruas dos animais, porque ainda hoje, existem as típicas matanças do porco ou do gado ouvino, ou então através do contacto com os animais já contaminados.”

É possível evitar a doença

Para evitar esta doença existe um conjunto de medidas que podem ser tomadas. “Não dar vísceras cruas ao seu cão, não deixar animais mortos ao alcance dos cães, desparasitar e levar regularmente o seu cão ao veterinário, lavar bem os frutos e os vegetais, lavar as mãos antes de comer e depois de mexer nos animais e não abandonar os animais já que são um perigo para a saúde pública”, sublinha o clínico Álvaro Pacheco.

Estas precauções e outras informações sobre o Quisto Hidático estão descritas num panfleto informativo, elaborado pelo Grupo de Luta Contra a Equinococose-Hidatitose, que cobre os concelhos de Elvas e Alandroal.

Este grupo de luta, único em Portugal, com quase dez anos de existência realiza frequentemente acções de prevenção, junto das pessoas, através de folhetos e palestras, educação sanitária e rastreio.

Durante o período de existência do grupo, foram feitos quase dois mil rastreios, sempre aleatoriamente, nas populações dos dois concelhos alentejanos.
O município do Alandroal é a zona mais contaminada com esta doença, mas segundo Álvaro Pacheco, este número tem vindo a diminuir.