Música pimba para agitar semana académica portalegrense

 

Passavam 30 minutos da meia noite. José Mendes sobe ao palco com a sua banda e promete dar ritmo e aquecimento ao recinto, preparando o terreno para o ilustre nome da música pimba, Quim Barreiros, que actuaria momentos a seguir na Semana Académica de Portalegre.

Muita dança, saltos, braços movidos no ar como folhas soltas ao ritmo da música, salva de palmas e muito riso. Foram estes os mecanismos de proximidade utilizados pelo cantor, que concretizou a sua promessa de aquecer a noite portalegrense.

Ana Grenhas, aluna de Jornalismo na ESEP, trouxe com ela dois amigos, Micael e João. Os dois são de Pias, no Baixo Alentejo.

Aquela que se revelava uma tímida presença e a habituação a um ambiente académico mais reduzido e mais simplista tornou-se numa descontracção e gosto pelo acontecimento. “Estamos a gostar bastante. Tudo muito divertido e organizado. Vamos visitar Portalegre na próxima Semana Académica, com certeza.”, conta Micael, muito certo de que será esse o desfecho.

Já Ana Grenhas, juntamente com Ana Machado, também aluna de Jornalismo na ESEP, estavam ansiosas pela chegada de Quim Barreiros. Ana Machado mostrava uma descabida euforia na actuação de José Mendes: “é meu conterrâneo da patrimonial cidade de Évora”, disse a saltitar de orgulho pela sua cidade natal.

Enfermagem, Tecnologia e Gestão, Educação e Agrária cantavam e dançavam, sem pudores e sem rancores, de braço dado e de copo na mão. A festa começava a prometer.

“Agrária de Santarém! Agrária de Santarém!”, grita do palco um dos dois alunos convidados a subir. Pertenciam ao Grupo de Forcados Académicos da Escola Superior Agrária de Santarém, que participaram na garraiada académica realizada de tarde, na Praça de Touros José Elias Martins, em Portalegre.

Uns trajados a rigor, outros casualmente vestidos, encostavam-se à bancada e degustavam a sua imperial, enquanto contavam senhas, cada uma a valer 80 cêntimos.

E aqui se juntam os jogadores de futebol do Grupo Desportivo e Recreativo Gafetense, vencedores da Taça da Associação de Portalegre na edição deste ano. Equipados com os seus casacos azuis-claros, a destacar no meio da multidão, eram mais um grupo animado a festejar e a beber à sua saúde. Nada melhor que uma festa jovem com cerveja barata, e muitas veteranas giras.

É imperativo que se contem bem as senhas, para saber quem dá o quê e a quem dá. Um exercício de “ora pago eu, ora pagas tu; ora pagas tu, ora pago eu” e assim sucessivamente, até acabarem os barris de cerveja, ou até não aguentarem o peso dos copos acumulados nas mãos. Em ambas, se necessário.

Numa espécie de arraial, onde apenas dez por cento da tradição se mantém, dançam casais, dançam amigos, homens e mulheres, homens com homens, mulheres com mulheres. É a evolução do bailarico, chegado às semanas académicas de todo o país. Até na capital se baila ao som de pimba. É o rigor da tradição.

 

A sirene de Quim Barreiros

Tendência a “piorar”, com o som da tão característica sirene, dando entrada ao homem do chapéu e bigode farfalhudo, com a sua camisola vermelha, a destacar lá no alto. “Boa noite Portalegre!”, grita entusiasmada esta figura emblemática.

Conhecido pelas suas letras, um tanto ou quanto, polissémicas, Quim Barreiros leva a academia ao rubro. “Pessoal, esta [música] é nova”, diz animado, em tom de aviso.

Cantando, dançando, saltando. Assim se passavam os largos minutos de um concerto que cansava os mais preguiçosos e deliciava os activos.

Mas não só de estudantes se faz uma semana académica. As faixas etárias variam, conforme o estilo musical. E este… este tem a capacidade de juntar pessoas de todas as idades, desde a neta de 7 anos até ao avô de 65, passando pelo pai e pela mãe, pela tia e pelos primos.

 A cultura portuguesa é muito isto. Construir aglomerados, trazer bem-estar, alegria, vivacidade aos sítios mais solitários e vazios. O português é um pacato bicho social. E será sempre esta a nossa imagem de marca.

No meio de coreografias engraçadas, inventadas à pressão, as Anas – as tais que frequentam o curso de Jornalismo - libertam-se das suas preocupações, e ali ficam, no meio do recinto, duas formigas no meio do formigueiro. Sabemos como terminará a história. Por agora, nada de cansaço. As dores de pés são suportáveis, as dores de costas não incomodam o suficiente para as obrigar a parar. As pernas tendem a fraquejar, mas a noite ainda vai a meio. “Dança, João!”, insistem Ana Grenhas e Micael. “Aqui é para dançar!”, faz-se ouvir Ana Machado, no meio de tanta música.

Soam berros, assobios,… A “Cabritinha”, lembrando a vida rústica e trazendo risos às mentes mais criativas, entoa no recinto. Mas o auge do concerto, ainda estava para chegar.

O “Mestre da culinária” veio animar a malta, e não “enfeitar a travessa”, como cantarolava em uníssono com o público.

Desengane-se quem acha que a música pimba está démodé. Muito pelo contrário. É das poucas alturas do ano em que as pessoas se contactam e conectam, nas férias do Verão, em toda e qualquer aldeia, os típicos cartazes coloridos e cheios de patrocínios de empresas e cafés da terra.

Quim Barreiros termina a sua actuação, ecoa um “Obrigada Portalegre!”, e puxa pelos espectadores, que saltam ao mesmo tempo que cantam “Portalegre é nossa! Portalegre é nossa! Portalegre é nossa e há-de ser. Portalegre é nossa e há-de ser. Portalegre é nossa até morrer!”.

Toda uma farra insustentável aos olhos mais conservadores e antigos da cidade. Na rua França Borges, a população envelhecida queixa-se do barulho ensurdecedor. Do lixo. Da sujidade. Dos maus cheiros. Da falta de respeito por quem precisa, no mínimo, de oito horas de descanso continuado.

Não só de estudo se faz a universidade, e esta semana foi dos alunos e de quem por aqui apareceu. São bem-vindos a terras do norte alentejano. E Portalegre é nossa. E há-de ser.