Uma lição ao mundo

Os Jogos Olímpicos são o evento desportivo com maior projecção e também aquele que mais contribui para a união entre os povos de todo o mundo, fazendo da arte do movimento do corpo a sua máxima para alcançar o objectivo da proximidade dos povos.

Os Jogos Olímpicos de Atenas foram, acima de tudo, uma grande lição de desportivismo e de convivência entre (quase) todas as nações do mundo através do desporto. Os Jogos Olímpicos são, por isso, o evento desportivo com maior projecção e também aquele que mais contribui para a união entre os povos de todo o mundo, fazendo da arte do movimento do corpo a sua máxima para alcançar o objectivo da proximidade dos povos.

Acompanhei as Olimpíadas no seu regresso às origens com alguma regularidade e, ao ver a prática de algumas modalidades, questionei-me sobre o seguinte: mas porque raio é que as modalidades de tiro e de luta existem fora do desporto? Ou seja, porque é que, por exemplo, os iraquianos bem como os palestinianos e os israelitas têm que andar aos tiros e à luta fora do recinto desportivo? Enquanto esses perdem e morrem, aqueles que praticam o tiro e a luta no desporto vencem sempre e sobrevivem todos ao esforço e ao sacrifício realizados. Parece que estou a ouvir o meu ex-professor de educação física a dizer-me ao ouvido: "no desporto não há vencedores nem vencidos". Isto tudo para dizer que a própria participação é, por si só, uma vitória, apesar de no plano prático as coisas serem ligeiramente diferentes. No desporto de alta competição, ou seja, aquele em que se ganha troféus, taças e medalhas, só podem vencer uns, mas os outros, porém, apesar de não vencerem também não perdem, porque vencem o tal prémio que eu referi anteriormente: o prémio da participação. Dentro do desporto, os atiradores e os lutadores vencem sem matar o adversário; vencem, mas no fim cumprimentam sempre o adversário. Fora do desporto, os atiradores e os lutadores matam o adversário julgando que vencem, mas, com esse comportamento assassino, acabam por perder. Perdem a honra, o respeito e a dignidade pelo adversário, o que é sempre de lamentar.

Para se ter uma noção exacta do quão digno é o desporto, tomo como exemplo o infeliz incidente que se passou na prova da maratona masculina. O corredor brasileiro que ia no primeiro lugar a poucos quilómetros da chegada é, subitamente, surpreendido por um indivíduo que invade o percurso da corrida e que o empurra para a multidão. Foi doloroso para mim assistir a esse incidente, não só pelo facto do atleta ser "nosso irmão", mas sobretudo por ir no primeiro lugar a lutar com todas as suas forças pela vitória final na maratona. Porém, o atleta teve um comportamento de enorme desportivismo ao entrar novamente na estrada para continuar a sua caminhada, porque não respondeu ao acto estúpido do louco que o empurrou. Num terreno de guerra o comportamento seria obviamente diferente. O atleta azarado soube dar a melhor resposta à provocação de que foi alvo, abrindo os braços e rindo-se a poucos metros da chegada como que a querer dizer: "o louco não me derrotou, porque eu vou cortar a meta e vou subor ao pódio na mesma".

De facto, uma grande lição para as pessoas que pensam que a melhor resposta é pagar com a mesma moeda.