Programa Erasmus atrai estudantes de toda a Europa

Todos os anos é a mesma coisa, jovens de todos os cantos da Europa participam no programa ERASMUS em busca de novas experiências e de uma nova cultura. Apesar das dificuldades sentidas no início, no final todos admitem ter sido uma experiência que ficará marcada para o resto da vida.

Anualmente, centenas de jovens universitários em toda a Europa deslocam-se para outras universidades europeias no sentido de participarem num programa, que acaba muitas vezes por se tornar numa marcante experiência de vida.
O desafio de conhecer um novo país, uma nova cultura e novas pessoas, leva anualmente vários jovens universitários a participar no ERASMUS, um programa de acção comunitária que abrange os vinte e cinco estados-membro da União Europeia mais a Noruega, e que pretende criar uma mobilidade entre os estudantes das universidades europeias, no sentido de aumentar os conhecimentos sobre a cultura desses mesmos países e abordar o ensino universitário segundo outras perspectivas.

O Instituto Politécnico de Portalegre, através da Escola Superior de Educação, participa neste programa desde 1994.

Este ano, o IPP voltou a receber alunos provenientes de outras universidades europeias. No total, foram vinte alunos que se deslocaram para Portalegre, vindos de vários países europeus como a Polónia, Bélgica, República da Irlanda, Espanha, Noruega, Alemanha e Republica Checa.

Ivan Bohatka e Lenka Tomastiková chegaram a Portalegre a 27 de Fevereiro deste ano e na bagagem traziam a vontade de conhecer um novo país e uma cultura completamente diferente daquela a que estavam habituados na Republica Checa.
Para estes jovens provenientes da universidade de Ostrava, “a língua foi um problema difícil de contornar ao início, pois era complicado perceber o que estava escrito e o que as pessoas diziam”. Além disso o sentimento de solidão, melancolia e saudade da terra natal também se manifestava pois “quando chegámos não conhecíamos ninguém e estávamos um pouco perdidos, já que nada conhecíamos”
Sebold e Henri Ramirez, alunos provenientes da Alemanha e Espanha, respectivamente, defendem que “inicialmente deveria existir um maior acompanhamento aos alunos de Erasmus, quer por parte dos responsáveis, quer por parte dos alunos, para que nós nos sintamos mais ambientados”.
Por outro lado, concordam que “o facto de Portalegre e as suas escolas serem um meio substancialmente mais pequeno daquilo a que estavamos habituados permitiu-nos que conhecessemos pessoas e fizessemos amigos mais facilmente”
Ao chegar a Portugal, os alunos de Erasmus já têm em seu poder informações básicas do país onde se deslocam e alojamento garantido por parte da universidade para onde vão estudar durante os próximos meses.

Para estes estudantes comunitários, que passaram três meses e meio em Portalegre, as instalações onde residiam eram boas, contudo, lamentam o facto “de ser um pouco longe das escolas”.

Selecção de alunos e planos de estudo

Durante o período que os alunos de ERASMUS passaram em Portalegre, tiveram a possibilidade de desenvolver um plano de estudos especial que contemplou o estudo da língua portuguesa, educação ambiental, ciências sociais e prática pedagógica.

Contudo, inicialmente, os alunos podem escolher outras cadeiras pelas quais sintam maior apetência.

O processo de selecção de alunos para o programa ERASMUS no Instituto Politécnico de Portalegre é realizado de acordo com as notas apresentadas ao longo do curso, contudo, essa selecção nunca foi necessária realizar, já que, de acordo com Carlos Afonso, responsável pelo programa ERASMUS no IPP “apesar dos esforços feitos, a quantidade de alunos da instituição que se candidata para participar no programa é reduzido”. O facto de existir uma maior quantidade de alunos a chegarem anualmente ao IPP ao abrigo deste programa ser superior àqueles que partem desta instituição em busca de novas experiências, leva á existência de um certo desequilíbrio.

As razões apontadas para a falta de adesão dos alunos do IPP em participar num projecto desta ordem, devem-se, de acordo com Carlos Afonso, ao facto “das bolsas serem entendidas como um meio de compensar os alunos pela diferença do custo de vida entre o país de origem e o país para onde vão.

"Como a maioria dos países tem um nível de vida superior a Portugal, o valor das bolsas muitas vezes acaba por ser insuficiente. O outro problema é o facto de muitas vezes não ser dada equivalência do plano de estudos no país de origem”, explica Carlos Afonso.

Se o primeiro problema apontado, leva muitas vezes os alunos a regressarem mais cedo a casa por falta de disponibilidade financeira, o segundo faz com que os estudantes reprovem o ano lectivo na universidade do país de origem, por falta de elementos de avaliação.

Para Vera Sebold, este é um problema secundário, pois defende que “a experiência humana que se ganha, acaba por compensar o ano lectivo perdido na escola”.
De resto, esta é uma ideia partilhada por todos aqueles que agora estão a acabar o programa ERASMUS em Portalegre. Para solucionar esta questão, Carlos Afonso, fez saber que este ano já foi aprovado em concelho científico uma proposta no sentido de conceder equivalência global aos períodos de estudo no estrangeiro. Por outras palavras, quem frequentar um semestre completo no estrangeiro, ao abrigo do programa ERASMUS e trouxer os créditos necessários, é concedida uma equivalência global do semestre e não disciplina a disciplina como se fazia até aqui.

Uma portuguesa na Irlanda

Andreia Gonçalves é natural de Sines, e frequenta o curso de Jornalismo e Comunicação na Escola Superior de Educação em Portalegre. A 6 de Fevereiro partiu para a República da Irlanda, concretamente para a universidade Mary Immaculate, em Limerick.

O seu regresso a Portugal foi um pouco prematuro, pois “os meus exames na Irlanda acabaram quinze dias mais cedo do que eu esperava, e não senti por isso a necessidade de ficar lá mais tempo”

À semelhança de Lenka, Ivan, Vera e Henri, também Andreia Gonçalves considerou difíceis os primeiros tempos vivido em solo irlandês, já que “era tudo muito novo e diferente daquilo a que eu estava acostumada”.
Para quem sai de Portugal, a diferença do nível de vida entre os países é um factor que se sente principalmente na carteira, e na Irlanda não é excepção. Andreia revela que “tudo era muito caro em relação ao nosso país. Um almoço na escola chega a ser três vezes mais caro do que na ESE”

O acompanhamento que esta estudante portuguesa teve por parte das entidades irlandesas, durante o período que passou em Limerick, mereceu os mais rasgados elogios. “Eles foram fantásticos comigo, sempre muito interessados na minha evolução ao longo do tempo em que estive lá”. De Portugal, o acompanhamento era feito através de e-mail”. Para Carlos Afonso, “o acompanhamento feito ao alunos que vão para o estrangeiro estudar é sempre mais complicado em relação àqueles que vêm de fora”.

Anualmente a Agência Nacional Sócrates Erasmus atribui uma verba às escolas que aderiram ao programa ERASMUS para bolsas de estudo e organização de mobilidade. É precisamente neste segundo ponto que as escolas aproveitam para ir buscar algum dinheiro para proceder ao acompanhamento dos alunos que estão a estudar no estrangeiro.

Na maioria dos casos, as escolas optam por deslocar alguém responsável ao país onde o aluno está a efectuar o programa para saber da sua evolução a nível escolar e pessoal. Essa é também uma prática corrente no IPP, mas, Carlos Afonso vai defendendo que “muitas vezes o dinheiro disponibilizado para esse tipo de acompanhamento é reduzido e não chega para ir a todo o lado”.

Um programa que não se esgota nos alunos

Mas o programa ERASMUS não se esgota na mobilidade de alunos entre escolas europeias ou que tenham acordos de cooperação bi-laterais. Este ano o IPP registou um aumento de professores que se deslocaram para o estrangeiro ao abrigo deste mesmo programa. Assim, se em anos anteriores partiam em média dois professores para fora, este ano verificou-se a ida de cinco docentes para países como Espanha ou Suécia. Por outro lado, o IPP contou este ano com a presença de quatro professores vindos da Polónia e da Espanha.

Para aqueles que participam neste programa, e apesar das dificuldades que todos admitem sentir no início, a despedida é sempre um momento doloroso.
Henri Ramirez já visitou países como França, Argélia ou Inglaterra e sente que “quanto mais gente conheço de outros países, mais vontade sinto de os visitar”.
Mas qual a melhor idade para passar por esta experiência? Andreia Gonçalves, agora com 22 anos diz que “esta foi a melhor altura para fazer o programa Erasmus. Se o tivesse feito antes, talvez não tivesse maturidade suficiente, mas se deixasse passar mais tempo já poderia ter sido tarde de mais”.