É preciso um esforço concertado entre indústria, médicos e farmacêuticos

Marketing Farmacêutico foi o tema que deu o mote para um diálogo polémico relativo à venda livre de medicamentos, inserido na programação das X jornadas de comunicação da Escola Superior de Educação de Portalegre. A credibilidade das empresas farmaceuticas e os medicamentos de escolha livre foram alguns dos assuntos abordados.

“O que temos em comum é bem mais importante do que o que nos separa” disse Beatriz Gaminha, presidente da Comissão Especializada para a Automedicação da Apifarma, no início dos trabalhos do debate sobre Marketing Famacêutico realizado no âmbito das 10ª Jornadas da Comunicação da ESEP.

Aquela responsável defendeu a primazia da indústria farmacêutica como um serviço de valor acrescentado aos cidadãos, acima das querelas que por vezes a envolvem.
Os medicamentos de conceito de escolha livre no enquadramento de sintomatologias menores requerem, segundo a oradora, particular interesse na medida em que “ é preciso pensar qual a aproximação mais correcta a nível de estratégias de comunicação, não só em termos dos parceiros de profissionais de saúde, médicos e farmacêuticos, mas também a uma realidade de comunicação directa ao utente final, enquanto consumidor, destes produtos”.

Neste cenário estratégico a realidade foi alterada desde Setembro com o pedido de abertura de novos postos de venda autorizados pelo Infarmed. Em termos de crescimento, a quota de mercado destes medicamentos, não tem uma evolução substancialmente significativa, uma vez que “a lista de indicações passíveis de auto-medicação em Portugal é restrita, quando comparada com a realidade europeia”.

Nesta matéria o consumo per capita situa Portugal na cauda da Europa, assumindo “a necessidade de se efectuar um longo caminho a percorrer, tanto do ponto de vista potencial como na melhoria da qualidade de vida” no sentido de se nivelar ou aproximar da realidade europeia.

Pela primeira vez Portugal é inserido no grupo de estudos G 10 (grupo constituído para a inovação estratégica e competitiva da indústria farmacêutica ),o qual representa um desafio na aceleração do consumo destes medicamentos, refere Ana Gaminha.

O aumento da educação e informação das opções para os auto-cuidados, foi ainda outra preocupação destacada pela oradora, ao constatar que em “Portugal somos extremamente fracos ao nível de estratégias de comunicação directa” em programas de educação para a saúde, esquecendo que no centro deve estar o paciente como interveniente de uma participação na decisão para a saúde.

“Temos que ser inovadores, não apenas em definições estratégicas, bem como ao nível dos processos de gestão, de tácticas de aproximação do mercado, da transposição dos benefícios do produto e da forma como o diferenciamos” foi o repto lançado pela interveniente.

Venda ilícita é muito maior

A partir destes conceitos, Fernando Siborro, médico, optou por dizer que “a venda de medicamentos ilícita é muito maior, porque nem sempre as pessoas vão aos médicos, recorrendo directamente ao farmacêutico”. Deste modo, os pacientes pesquisam cada vez mais sobre a sua doença decidindo muitas vezes qual o melhor remédio perante a sua sintomatologia. No meio pequeno onde vive, o médico refere que a situação é diferente, “ já se faz uma educação para a saúde”, realidade esta, diametralmente oposta à das grandes cidades.

Cândido Barnabé, delegado de informação médica da Pfizer, pegou no sub tema “Marketing para além do produto” referindo com veemência a distinção entre três conceitos relevantes: paternidade, responsabilidade em informar e credibilidade, ligada esta ao retorno. Na sua óptica, “os produtos não são órfãos, alguém tem que conceber a ideia, investigar e comercializar”, ressaltando a indústria farmacêutica por maioria de razão.
O contacto com os pacientes é de primordial importância, salientou Fernando Siborro. “Coisa que um balcão de farmácia nem sempre consegue, na medida em que há todo um conjunto para além da doença”.

Cândido Barnabé referiu que estando perante a tónica dos medicamentos de acesso livre, o acompanhamento ao cliente é de igual modo realizado por pessoas competentes na área, ao que Ana Gaminha corroborou relevando que os locais exigem a responsabilidade de um farmacêutico o qual se encontra disponível num raio de cobertura de aproximadamente 50 quilómetros.

Credibilidade da empresa

No final do debate e perante um auditório lotado, altura pela qual as perguntas pareciam enredar-se umas nas outras, falou-se da marca de um produto, bem como do facto de as empresas farmacêuticas poderem aliciar os médicos com meios menos correctos.

Neste contexto, Cândido Barnabé respondeu incisivamente que “a responsabilidade de qualquer empresa farmacêutica não deverá nunca alienar-se da credibilidade”.

Por seu turno, Ana Gaminha referiu que “existem mecanismos de controle e averiguação, num enquadramento legislativo de regras bem definidas que se estendem, não a uma companhia farmacêutica, mas sim a todas, ou, caso contrário, o sector farmacêutico não existiaria, alertando para que deve haver respeito pela prática farmacêutica”. A marca é na verdade um valor acrescentado para qualquer empresa, associada esta a uma forma ética e correcta de eficácia do produto, caso contrário o utilizadores finais ditariam a sua sentença. A marca é fundamental para construir uma empresa bem como para retribuir o investimento que faz, “mas, só comunicando a verdade sobre o produto e fazendo uma estratégia comunicacional correcta junto dos profissionais poderá marcar a diferença.”

As implicações do marketing farmacêutico na vida dos utentes constituiu um tema ausente do debate, uma vez que, muito se falou dos medicamentos não sujeitos a receitas médicas, tema este da actualidade, e pouco das consequências do marketing farmacêutico.

A necessidade de um esforço concertado por parte da indústria farmacêutica aliado à classe dos médicos, farmacêuticos e delegados de informação médica, na definição de uma directriz ajustada ao bem-estar dos utentes de saúde, foi, por conseguinte a convicção transmitida pelos convidados no encerrar dos trabalhos.