Museu em Nisa divulga artesanato local

Numa casa, aparentemente modesta e característica do centro histórico de Nisa funciona um núcleo museológico dedicado ao bordado. Deste projecto de valorização do artesanato tipicamente nisense fazem ainda parte a criação do Núcleo do Barro, do Centro de Documentação e Serviços Educativos e do Núcleo Central.

O sonho antigo da autarquia de Nisa para criar um museu exclusivamente dedicado à temática do artesanato foi parcialmente realizado com a inauguração do Núcleo Museológico do Bordado.

Na sua globalidade o projecto contempla mais três espaços: o Núcleo Central, o Núcleo do Barro e o Centro de Documentação e Serviços Educativos.
O Núcleo do Bordado vai servir essencialmente para mostrar os tipos de «pontos» característicos do concelho, bem como explicar a sua evolução ao longo dos anos. Para além dos bordados é possível encontrar neste espaço um antigo tear e, naturalmente, várias peças de «alinhavados», rendas de bilros e aplicações em feltro.

O Núcleo do Barro está projectado como se de uma verdadeira olaria se tratasse, com todos os utensílios necessários à produção das peças. Está previsto também que estejam oleiros no local a demonstrarem o seu trabalho aos visitantes, que poderão assistir a todo o processo.
O edifício de maior envergadura vai ser o Núcleo Central, a funcionar perto das «Portas de Montalvão», também em pleno centro histórico. Para além de comportar todas a funções administrativas e servir de «casa-mãe», vão estar aqui patentes exposições temporárias, a par de permanentes com o espólio do próprio museu.

Por último, o Centro de Documentação e Serviços Educativos vai dispor de uma pequena biblioteca apenas com a temática do artesanato, uma sala para projecções de filmes ou documentários sobre estas artes e uma área para as crianças «experimentarem e poderem brincar com os diferentes materiais usados».
Apesar de todos os espaços virem a ter um funcionamento autónomo, «está a tentar criar-se aqui um trajecto que una estas artes num ‘percurso’ único pelos diferentes núcleos», referiu Carla Calado, representante da autarquia.

Mudar mentalidades

Afirma-se de extrema importância para a câmara tentar trazer aqui um leque bastante alargado de visitantes. Segundo Carla Calado, «as pessoas não estão habituadas a irem a museus, nem a valorizar o que é da sua terra e é nossa função educá-las nesse sentido». Para fomentar o gosto e a valorização do artesanato deste tenra idade, vai ser privilegiada a cooperação com as escolas do concelho. Para o Núcleo Central está projectada uma esplanada e um pequeno quiosque, na tentativa de aproximar a população a este espaço e fazer com que «as visitas ao museu sejam vistas como ir beber um café ou ler um jornal».

«A população está muito feliz por ver a concretização do projecto»
A ideia de erguer os diferentes núcleos no centro histórico de Nisa deveu-se a vários factores. Por esta ser uma zona com uma população envelhecida e com algumas carências sócio-económicas e com inúmeros imóveis abandonados, esta surgiu como uma forma de reabilitar e revitalizar toda esta área. Para além de que «os visitantes seriam, de algum modo, ‘convidados’ a percorrer toda esta área tão característica da vila», salientou Carla Calado.

A inauguração do Núcleo do Bordado foi para a autarquia um bom prenúncio e um encorajamento para o futuro. Acerca do dia da abertura oficial, a técnica camarária afirmou que a população que reside neste local ficou «muito feliz por ver a concretização do projecto, sentiu-se valorizada por ver tanta gente a percorrer estas ruas e estão agora à espera de mais».

A visão dos artesãos

António e Joaquina Pequito, ambos com 62 anos e naturais de Nisa, dedicaram toda a sua vida à olaria e ao fabrico de «cantarinhas» e de peças típicas da região. Os seus clientes surgem, na sua esmagadora maioria, de fora dos limites com concelho e alguns até do estrangeiro, «esses sim valorizam o que fazemos, as pessoas daqui como conhecem tão bem, quase nem ligam», referiu Joaquina.
Apesar de gostar daquilo que faz, antevê um futuro pouco risonho para o artesanato de Nisa, dizendo que: «há mais de 50 anos que trabalhamos nisto e é uma pena ver que agora ninguém parece ter vontade de dar continuidade a esta arte». O facto de esta ser uma actividade pouco rentável e em que «é preciso sujar as mãos» surge para a artesã como uma possível explicação para a aparente falta de interesse em dar seguimento a este tipo de artesanato.

O projecto para a criação do Núcleo do Barro é para Joaquina uma boa iniciativa para a vila, na medida em que atrairá aqui mais turistas. Contudo não mudará, só por si, a maneira como as pessoas olham para o barro de Nisa. «Não acredito que com a abertura do museu tenhamos grandes vantagens ou apoios. Mais gente sim, mas não outro tipo de benefícios», afirmou a artesã.

A opinião da câmara municipal e dos artesãos parece não ser coincidente neste aspecto, mas a expectativa mantém-se para ver o que poderá acontecer.