A vida de Mantorras

Ainda assim o Pedro tinha um sonho como todos os miúdos do seu bairro, da sua rua, ou da sua família. A guerra e a fome podiam tirar-lhe a vida um dia, mas, enquanto fosse vivo, o Pedro jamais deixava de sonhar por aquilo que tanto queria ser quando fosse homem. Esse sonho era ser jogador de futebol.

Pedro Manuel Torres Mantorras nasceu em Angola e, escusado será dizer que o mesmo nasceu pobre por força das circunstâncias, ou seja, por causa daquilo que todos vocês já sabem e que ouvem falar quase todos os dias através dos meios de comunicação social, que dá pelo nome de guerra e de fome. Ainda assim o Pedro tinha um sonho como todos os miúdos do seu bairro, da sua rua, ou da sua família. A guerra e a fome podiam tirar-lhe a vida um dia, mas, enquanto fosse vivo, o Pedro jamais deixava de sonhar por aquilo que tanto queria ser quando fosse homem. Esse sonho era ser jogador de futebol. O Pedro ouvia tiros e explosões, passava fome inclusive, mas, apesar disso, mantinha a mesma força interior para alcançar o seu sonho. E assim foi. Um dia, Pedro Manuel Torres Mantorras, mais conhecido por Mantorras entre os amigos, conseguiu alcançar aquilo que tanto ambicionava, que era ser futebolista a sério. Sim, a sério, daqueles que dão valentes pontapés na bola, que marcam golos, fazem fintas, enchem estádios… e ganham dinheiro, claro! Sim, porque isto de ser futebolista também é duro; os profissionais de futebol lesionam-se, ficam meses e meses parados por lesões, chegam a partir pernas… e joelhos direitos, inclusive. Como tal, os jogadores de futebol deverão ser bem remunerados, ou como dizia o Mantorras, em entrevista a um jornalista: “eu quero ser jogador da bola para ganhar dinheiro que é para ajudar os meus pais e a minha família.”

Porém, Mantorras nunca pensava no fracasso nem na infelicidade. O angolano era optimista por natureza e pensava até que um dia iria ser campeão do mundo pelo seu país e que iria para o Barcelona mostrar todo o seu valor, ou seja, a sua força e a sua raça na forma de jogar futebol. E o Mantorras tinha tudo isso e muito mais. Além de ter força e raça, o Pedro também tinha velocidade e muita potência no remate à baliza, mas aquilo que as pessoas mais admiravam no Mantorras era a sua humildade na forma como encarava a profissão, ou seja, o angolano não ambiciona a fama nem o dinheiro, mas sim a realização pessoal e o bem-estar de si e da sua família. Era religioso, católico praticante, e vai todos os domingos à Igreja à procura de fé.

Numa fatídica noite de Inverno aconteceu uma coisa muito dolorosa para si, que foi aquilo que eu já referi anteriormente e que se chama lesão. “Maldita lesão!”, disse o Mantorras para si próprio com ar triste e de poucos amigos. O tempo passou, passou e passou, sem que o Pedro recuperasse a 100%. Voltou a jogar e voltou a lesionar-se com mais gravidade ainda. Então, numa certa noite, chegou a pensar no fim da sua carreira com muita angústia, mas tinha sempre em mente a esperança, ainda que ténue, das palavras optimistas dos médicos quando lhes diziam que havia esperanças de um dia o Pedro poder voltar a fazer aquilo que mais gosta, que é jogar futebol. Quando vivia debaixo da guerra e passava fome, Mantorras nunca deixava de lutar pelo seu sonho, e o seu esforço recompensou-o, e, agora, no momento da lesão, Mantorras continua a lutar com a mesma força para conseguir suplantar o terrível calvário da lesão no seu joelho direito, de forma a poder voltar aos relvados na máxima força. Mantorras é, portanto, uma força da natureza!