Comerciantes contra a construção de um novo shopping na cidade

Os comerciantes do comércio tradicional de Portalegre não têm mãos a medir face ao crescente número de pedidos de licenciamento para a abertura de novas superfícies comerciais na cidade. Só em Outubro foram inauguradas duas. Para breve está prevista a abertura de outra. Trata-se do “São Mamede Shopping”. Com uma área bruta de 16.200 metros o novo centro comercial empregará mais de 400 postos de trabalhos.

Os comerciantes do comércio tradicional de Portalegre estão descontentes com o anúncio da construção de uma nova superfície comercial na cidade.

O anúncio surgiu num aviso do Ministério da Economia e da Inovação, no qual se referia que a empresa Torresterra-Sociedade de Construção Imobiliária Lda, pretende instalar em Portalegre, um espaço comercial com uma área bruta locável de 16.200 metros quadrados, com o nome “São Mamede Shopping”.

“Estamos na fase em que há uma entidade que demonstrou interesse em construir um shooping em Portalegre. Neste momento já estamos numa fase avançada da aquisição do terreno. A empresa já fez o pedido de informação prévia que, por sua vez, já foi respondido positivamente. A partir daqui vão seguir todos os outros passos”, explicou o presidente da Câmara Municipal de Portalegre (CMP), Mata Cáceres.
“Eu sou indivíduo da economia aberta, da economia liberal e todos que querem investir devem fazê-lo. Isto porque, não há nada que me obrigue a não licenciar uma situação dessa natureza. Se o investidor se propõe a fazer aqui um investimento num determinado valor é porque tem uma expectativa de que, de facto, ele tem sustentabilidade”, defende o presidente da autarquia.

“Eu quando falei com as pessoas que estão disponíveis para fazer este investimento não ocultei que na cidade de Portalegre existe muitas superfícies comerciais que não têm nada a ver com o shooping. E, a resposta que obtive é de que uma coisa é nós sermos um destino de procura e quanto mais situações destas mais pessoas podem ser atraídas para cá e todos podem beneficiar com isso”, relembra Mata Cáceres.

Comerciantes preocupados

Confrontada com esta realidade, a Associação Comercial de Portalegre (ACP) mostra-se preocupada com o surgimento de um novo espaço comercial na cidade.
Para Francisco Silva, presidente da ACP “a Rua do Comércio, o epicentro do comércio tradicional em Portalegre, vai ser a mais afectada. Neste momento tememos que a rua mais emblemática da cidade fique deserta”.

Para o autarca não é a proibição da construção de um espaço comercial que depende a sustentabilidade do comércio tradicional. Na sua opinião, “as armas do comércio tradicional residem noutros factores, noutros argumentos, noutras abordagens ao consumidor e ao cliente em moldes completamente diferentes”, diz.
Francisco Silva, por seu turno, compreende que "a câmara faz muito bem em aceitar novos espaços de desenvolvimento, mas não pode esquecer o papel que o comércio tradicional tem na cidade".

O representante dos comerciantes reclama por novas medidas por parte da autarquia com vista à manutenção e à sobrevivência do pequeno comércio tradicional. "A autarquia tem que criar condições para estes comerciantes”, sustentou.

Já a autarquia garante que não tem faltado apoio ao pequeno comércio. “Quem tem que pensar em medidas não é a autarquia mas sim os comerciantes. Cada vez que a associação comercial nos propôs qualquer alteração ou proposta para revitalizar o comércio nunca a rejeitámos", diz Mata Cáceres. E, continuou: “Ainda no ano passado em determinada altura fizemos acções de rua e promoveu-se situações de acordo com aquilo que a associação entendeu promover. Contudo, depois chegámos à conclusão que pensou-se e promoveu-se situações para dinamizar a actividade comercial e o comércio não estava aberto”, lembra.

Os pequenos empresários da Rua do Comércio estão rendidos aos novos espaços comerciais e sentem-se sem forças para lutar contra a proliferação das superfícies comerciais nos últimos tempos na cidade.

“O negócio vai mal e a concorrência dos grandes centros comerciais vieram piorar as coisas e o facto de Espanha estar logo aqui também não ajuda”, lamenta Beatriz Vieira, empregada de uma sapataria há três décadas.
"Os clientes já são poucos então se tivermos um shooping na cidade nem quero pensar no que será o nosso futuro”, receia o proprietário do snack-bar “Cabaço,” José Duarte.

Luís Eduardo vai mais longe e diz que “se isto continuar assim em breve vamos ter que fechar as portas”.
O novo espaço comercial a instalar em Portalegre ficará junto ao Itinerário Principal (IP2), junto à entrada sul de Portalegre e empregará mais de 400 pessoas.