Cruzeiro Seixas homenageado em Portalegre

 

O pintor, ilustrador e escritor, Cruzeiro Seixas, com 92 anos, conhecido pelo seu trabalho na corrente surrealista, foi ontem homenageado numa peça de teatro levada à cena no Centro de Artes do Espectáculo de Portalegre.  

Pedro Jardim e Fátima Reis, coencenadores da peça, lançaram o desafio do projeto ao Museu das Tapeçarias, à Biblioteca Municipal, às Tunas de Artes das Escolas José Régio e São Lourenço e aos Internatos de Portalegre, para a realização do espetáculo. “É um projeto coletivo, uma ideia de inclusão, uma vez que trabalhámos com jovens muito diferentes”, explicou Pedro Jardim.

Gabriel Resende, um dos atores amadores que deu vida à peça de teatro, afirma que “estudar a sua obra, trabalhar na peça durante três meses para representar a vida dele, foi fabuloso. Conhecer o Cruzeiro Seixas, e interagir com ele, é algo de que nunca me vou esquecer.”

A homenagem a Cruzeiro Seixas, realizada na celebração do dia 25 de Abril, tem uma justificação. “Aprofundando o estudo sobre o artista percebemos que ele é de facto um grito alto da liberdade, uma vez que o surrealismo também é isso na sua filosofia de base. E sendo assim, fazia todo o sentido que este espetáculo acontecesse neste dia. Para além disso, também foi uma liberdade para nós, criar e nos relacionarmos”, explica-nos Pedro Jardim.

Para os espectadores, a peça sobre o Mestre, assim carinhosamente chamado por quem o admira, foi enriquecedora. “Foi fantástico ver a forma diferente como representaram numa peça deste tamanho a vida do Cruzeiro Seixas”, afirma uma das presentes. Outros criticaram o facto de o país não valorizar o talento que muitos artistas portugueses nos oferecem. “Fiquei muito emocionada a respeito do trabalho dele, é pena um dos grandes surrealistas da Europa estar tão pouco divulgado em Portugal”.

Para Pedro Jardim, a homenagem não podia ter corrido melhor. “Tivemos o rigor de todas as palavras que foram ditas em palco, foram ditas por ele. Deve ser fantástico ver a sua vida cronologicamente retratada e ouvir as suas próprias palavras. Não foi só, o dizer da poesia. Foi a palavra incluída num ato teatral. Acho que deve ter ficado tão feliz quanto nós”.

Com o Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre quase lotado, no final, Cruzeiro Seixas agradeceu a toda a plateia e à homenagem que lhe foi atribuída. “Se eu não tivesse feito tudo o que fiz ao longo da minha vida, eu tinha sufocado. Este trabalho traduz a minha respiração.”