Acerca das pressões sobre os media de âmbito local/regional

Há alguns anos, Rui Vasco Neto chegou a Portalegre e abriu o Jornal d’Hoje. Uma lufada de ar fresco invadiu o Norte Alentejano, pensei, na altura. Só que alguém não partilhava essa opinião, e mais que brisa, considerou que se estava a aproximar um ciclone.

No actual cenário de Portalegre, ou de outra localidade qualquer do interior do país, a viabilidade financeira dos meios de comunicação é extremamente débil. Mas os meios de comunicação existem… portanto subsistem. Como? E a que preço?

Há alguns anos, Rui Vasco Neto chegou a Portalegre e abriu o Jornal d’Hoje. Uma lufada de ar fresco invadiu o Norte Alentejano, pensei, na altura. Só que alguém não partilhava essa opinião, e mais que brisa, considerou que se estava a aproximar um ciclone.

A pluma esclarecida e directa do Rui depressa se tornou numa pedra no sapato para o poder estabelecido. Porque publicou em cada momento aquilo que se devia publicar, as suas crónicas nunca tiveram a preocupação de agradar a gregos ou a troianos.

Este acerto jornalístico foi a morte do Jornal d’Hoje. Porque os media de dimensão local só podem sobreviver economicamente com o apoio da publicidade institucional, das publicações de grandes editais, anúncios de grandes concursos, etc. E numa terra onde não existem outros recursos publicitários com a mesma repercussão, quem publica anúncios a toda a página que permitam pagar os ordenados no fim do mês tem o poder na mão. E não admite críticas, sob nenhum conceito. Foi essa mão que estrangulou um projecto de jornalismo local que certamente teria merecido a pena acompanhar… Porque essa mão não só fechou a porta ao Jornal d’Hoje, como também deu indicações para que outras portas se fechassem.

Antes do Jornal d’Hoje, Portalegre já contava com outros meios de comunicação. Que continuam a existir. A qualidade de alguns brilha pela sua ausência. Mas eles estão cá de pedra e cal. Porque se arrastam pelo chão perante o poder. Porque sabem a quem lamber as botas. Não fazem jornalismo. Rastejam em busca da sobrevivência, a qualquer preço.

Nunca conheci pessoalmente o Rui Vasco Neto… Mas ainda não perdi as esperanças de um dia lhe dar um abraço. Pela coragem que teve quando fundou o Jornal d´Hoje, um projecto que, desde a nascença estava condenado ao fracasso.