Comerciantes contra a mudança de instalações da Câmara

A mudança de instalações da Câmara Municipal de Portalegre para a zona baixa da cidade está a deixar preocupados os pequenos comerciantes do centro histórico da cidade. Os comerciantes falam numa quebra das vendas na ordem dos 50 por cento.

Os comerciantes do centro histórico da cidade de Portalegre estão descontentes com a mudança das instalações dos serviços da Câmara Municipal de Portalegre (CMP) para as novas instalações situadas no edifício da antiga Fábrica Real de Lanifícios que foi alvo de obras de recuperação e reabilitação.
Com um investimento que ascendeu a 6 milhões de euros, a obra deverá ser inaugurada oficialmente, em data ainda por definir, e contará com a presença do primeiro-ministro, José Sócrates.

Um centro de congressos com capacidade para 330 lugares, uma galeria de exposições temporárias, um posto de turismo e um Centro de Monotorização Ambiental, são alguns dos novos equipamentos que os portalegrenses poderão desfrutar. A antiga Fábrica Real vai acolher também todos os serviços da CMP bem como os Serviços Municipalizados. O edifício, construído no século XVII para instalar o colégio de S. Sebastião (Ordem de Jesus) e adaptado no século XVIII a fábrica de lanifícios, foi adquirido pela autarquia por 1,5 milhões de euros.

Mas apesar da criação de outras estruturas, os comerciantes temem pelo seu futuro. “As vendas de uma forma geral baixaram e os clientes são cada vez menos”. A opinião é partilhada por todos os comerciantes da rua 19 Junho que em tempos se sentiram privilegiados dada a localização do seu estabelecimento. “Tratava-se de uma coisa que estava mesmo aqui ao pé e, quando as pessoas precisavam de tomar um café ou alguma refeição deslocavam-se até nós”, recorda, António Santos, proprietário do snack bar Alenco, com nostalgia das horas de maior agitação passadas no seu negócio. “Agora os nossos clientes são muito poucos e as horas mortas são muitas”, refere aquele comerciante.

“O negócio já conheceu melhores dias”

A diminuição do número de refeições servidas, as encomendas que deixaram de ser feitas, o tradicional café e o bolo que antecedia a entrada dos funcionários ao serviço são alguns dos exemplos de como o negócio já conheceu melhores dias.
“Tal como os restantes comerciantes desta rua [14 Junho] também já sinto, no final do dia, as consequências da mudança das instalações da câmara. Costumava servir refeições mas, ultimamente deixámos de vender”, afirma João Capote, proprietário do restaurante Casa Capote Portalegre.

“O meu caso até nem é dos piores. Há pessoas em pior situação que a minha, por exemplo, o mini-mercado ao lado”, diz aquele comerciante. Palmira Mendes, funcionária do mini-mercado Cabaço, confirma as palavras do seu colega de profissão. “Quando as pessoas iam pagar a luz, a água e as rendas aproveitavam para fazer pequenas compras”, sublinhou.

Já António Santos, admite que “neste momento temos quebras nas vendas na ordem dos 50%”, refere frisando que são os comerciantes do centro histórico os mais prejudicados com esta mudança.

Novas medidas

De acordo com o presidente da Associação Comercial de Portalegre (ACP), Francisco Silva, “a situação é preocupante nomeadamente nalgumas lojas de restauração, de vendas directas, de bijutaria e produtos do dia-a-dia. Estou convencido de que a curto e médio prazo as lojas a partir do arco vão ter muitos prejuízos”, prevê.

Para o representante dos comerciantes “é urgente a criação de novos espaços de atracção com vista a dinamizar o comércio no centro histórico da cidade e atrair a população para este tipo de comércio”. Para Francisco Silva algumas dessas soluções poderiam passar pela “construção de esplanadas e bares”. A finalidade, explica, “é fazer com que as pessoas venham não só às compras como também possam usufruir de espaços de lazer”.

Confrontado com a existência de algum mecanismo de protecção para os comerciantes, Francisco Silva, adiantou dizendo que “neste momento não existe nada. Nós, enquanto associação, estamos a aguardar a aprovação de um projecto que engloba um conjunto de iniciativas com vista a dinamização e incentivo ao pequeno comércio. Se tudo correr como previsto brevemente será aprovado”.
Uma passagem de moda, a distribuição de sacos junto dos comerciantes, um concurso de montras ou um concurso de design são algumas das propostas apresentadas pela ACP. Contudo, aquele responsável relembra que estas medidas são insuficientes e chama a atenção da autarquia para o incremento de outras.

Estacionamento por resolver

Para além da falta de clientes, os comerciantes protestam ainda contra a falta de estacionamento. “As pessoas também não nos visitam porque não têm um lugar onde possam deixar o carro enquanto vão as compras”. Já Francisco Silva, relembra, que a zona baixa da cidade vai ficar saturada porque o único parque de estacionamento que existe ainda não está a funcionar e quando for aberto não vai ser suficiente. Estacionar actualmente naquela zona da cidade já é um problema”, sublinha.

Opinião idêntica tem António Jesus, proprietário da Cervejaria e Restaurante “A Tasquinha”, situadas em frente às novas instalações da autarquia. Aquele comerciante refere que a recente mudança dos serviços camarários de nada alterou o seu negócio. “Pensava que com a vinda da câmara para aqui o negócio iria melhorar mas, pelo contrário, as vendas continuam na mesma”. E, acrescentou: “A única coisa que mudou, mas para pior, foi o estacionamento. Depois da mudança da câmara o estacionamento nesta zona acabou-se. E, como é natural, as pessoas deixam de vir porque não têm onde estacionar”, desabafa.

Posição contrária tem António Biscainho. O autarca confrontado com a possível quebra de vendas dos pequenos comerciantes, admitiu que “poderá haver alguns comerciantes que se sintam prejudicados”. Porém, relembra que “a criação de outros serviços irá contribuir para a animação daquela zona”, explicou.
O ESEPJornal tentou obter esclarecimentos junto da Câmara Municipal de Portalegre mas sem êxito.