A última conquista

Ver o “velhinho” estádio da Luz com 120 mil benfiquistas a celebrar o título de campeão nacional ante o Vitória de Guimarães é a prova de que o Benfica não é grande. É enorme.

Neno, Veloso, Mozer, Hélder, Abel Xavier, Kenedy, Vítor Paneira, Isaías, Rui Costa, João Pinto e Ailton. Eis o “onze” do Benfica que bateu de forma inapelável e magistral o seu eterno rival Sporting em pleno Estádio José de Alvalade por 6-3, na época 93/94, tendo, assim, conquistado o seu último título de campeão nacional.
Uma equipa de sonho liderada pelo Toni, o qual pegou na equipa deixada pelo grande Erickson. A juntar aos “11 magníficos” que eu acima referi, não me poderei esquecer de jogadores como o Rui Águas, o Iuran, o Kulkov e o Scharwz, os quais também contribuíram sobremaneira para a conquista do último campeonato.
O campeonato da época 93/94 foi inesquecível para todos os benfiquistas. A luta foi feroz entre os “três grandes”, em que o Sporting, liderado pelo professor Carlos Queiroz, poderia muito bem ter ganho o campeonato, não fosse as “diabruras” do pequeno, mas grande jogador, João Pinto, na famosa vitória do Benfica em Alvalade por 6-3, onde o João Pinto marcou três golos. Foi, sem dúvida, o melhor jogo da carreira do antigo número 8 do Benfica.

Lembro-me do jogo como se tivesse sido ontem. Viu-o acompanhado pelo meu pai, que é sportinguista não-sofredor, já que ele não dá muita importância ao futebol, e até diz, em tom de brincadeira, que só percebe de futebol quando o está a ver. Porém, nesse dia a expectativa em torno do maior “derby” português era tanta, que o meu pai até encomendou sapateira e lagosta juntamente com duas grades de cerveja para irmos reconfortando o estômago à medida que o jogo se desenrolasse e, assim, podermos aliviar mais os nervos. Devo confessar que foi a primeira vez que comi esse tipo de marisco, mas o sabor da sapateira e da lagosta foi tão delicioso quanto o sabor da vitória do Benfica.

O jogo dos 6-3 foi surreal, até porque ninguém esperava três golos do João Pinto, nem uma vitória tão expressiva do Benfica sobre o Sporting. E o Sporting nessa época tinha também uma equipa soberba, a qual lutou “taco-a-taco” pelo título até às últimas jornadas. Porém, acabou em terceiro, tendo o FC Porto ficado em segundo. Esse campeonato terá sido, quiçá, o mais equilibrado e o mais espectacular dos últimos anos, tal a luta titânica que houve entre os “três grandes”.
Queria aqui referir os grandes jogadores que marcaram o grande campeonato de 93/94. Além dos benfiquistas João Pinto, o melhor jogador do campeoanto, marcando três golos em Alvalade, dois deles simplesmente geniais, o Mozer, o Isaías e o Rui Costa; do Sporting o Luís Figo, que nessa época já demonstrava ser um grande jogador, com a força e a técnica que hoje o caracteriza, o Balakov e o Cadete; e do FC Porto o Domingos, um dos melhores avançados portugueses dos últimos anos, o Fernando Couto que, apesar de alguns excessos, viria a tornar-se num dos melhores centrais que Portugal conheceu em toda a história do futebol português, e o Vítor Baía, o qual sofreu apenas 15 golos (?!) durante a época, sendo, por isso, o guarda-redes menos batido.

Enfim, um título memorável para o Benfica e, sobretudo, para o João Pinto que, quanto a mim, fez a melhor época da sua carreira coroada com 18 golos. Em boa-hora o presidente Jorge de Brito evitou a saída do “menino-bonito” do clube da “águia” para o Sporting, como aconteceu com o Paulo Sousa e o Pacheco. Porém, não abalou nessa época, abalou depois mais tarde para o Sporting, tendo realizado também uma magnífica época, ajudando grandemente o Sporting na conquista do título. É a prova de que quando um jogador é bom, é bom em qualquer equipa. Guardo religiosamente a cassete de vídeo com o resumo da época de 93/94, porque sempre que a vejo, sinto um enorme orgulho em ser do Benfica. Ver o “velhinho” estádio da Luz com 120 mil benfiquistas a celebrar o título de campeão nacional ante o Vitória de Guimarães é a prova de que o Benfica não é grande. É enorme.