Registados 32 casos de violência doméstica em Portalegre desde o início do ano

O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica do distrito de Portalegre recebeu nos primeiros quatro meses de 2012, 32 casos que se somam às 77 situações verificadas em 2011, sendo que destas, 54 foram presenciadas pelos filhos. Os números foram divulgados na primeira sessão das Conversas Abertas, actividade organizada pelo Serviço Educativo do Centro de Artes e Espétaculo de Portalegre, realizado no dia 26 de Abril.

Trata-se de uma situação preocupante. Carla Baptista, assistente social e técnica do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica do distrito de Portalegre recordou que em Portugal “morrem cerca de 40 mulheres vítimas de violência doméstica por ano”. Para  Octávio Tavares, sargento da Guarda Nacional Republicana, só com uma mudança de mentalidades se poderá evitar que as situações cheguem a esses extremos.

A violência doméstica, referiu Octávio Tavares, “ainda é um assunto tabu na nossa sociedade” e muitas vezes a vergonha e o medo levam a que as vítimas se escondam por trás de uns óculos escuros. No entanto, como também fez questão de salientar, a violência doméstica é um crime público, de denúncia obrigatória.

Segundo os oradores, as vítimas não querem admitir que sofrem este tipo de violência e os vizinhos ainda vivem presos ao mito da frase “entre marido e mulher não se mete a colher”. Carla Baptista reforça esta ideia, mencionando que “muitas das vítimas que recebo não têm noção que são vítimas de violência, nomeadamente de violência sexual”.

Os dois convidados foram unânimes quanto ao perfil do agressor: “A maior parte dos agressores conhece as vítimas e tem problemas com o álcool”. Quanto às vítimas, estas têm normalmente entre o primeiro e o terceiro ciclo de escolaridade, sendo que onde há mais habilitações literárias, há também uma maior vergonha social. Para Octávio Tavares, “a vergonha é o grande obstáculo para pôr fim ao terror”.

Durante a sessão foram lidos depoimentos de algumas vítimas de violência. Para muitas mulheres que passaram por este tipo de situações, a pior violência não é a física mas a psicológica, uma vez que as marcas físicas desaparecem com o tempo. Segundo Sandra (nome fictício), “a violência psicológica deixa marcas que o tempo não pode mudar”.Para Paula (nome fictício), “o que dói não é a agressão em si, é a desilusão, afinal foi com ele que escolhi passar o resto da vida”.

Octávio Tavares explicou que “é difícil dizer se a violência doméstica está a aumentar ou a diminuir, mas as queixas na GNR estão a aumentar”.

Os intervenientes sublinharam que há várias formas de violência, já que a violência doméstica não é apenas física, pode também ser psicológica, económica e de género e normalmente começa no namoro. Carla Baptista salienta que “a vítima aceita casar-se na esperança que a situação mude. Isso não acontece, a situação piora”.