Quase meio século dedicado à cestaria

Fazer cestos é uma arte que Manuel Frutuoso faz desde os doze anos de idade. Os anos passaram e muitas coisas mudaram. Hoje em dia é o único cesteiro da região de Portalegre que persiste em manter viva a tradição devido à falta de seguidores. Enquanto a saúde o deixar.

Sentado nem pequeno banquinho de madeira, Manuel Frutuoso, canastreiro há 60 anos, refere que começou a trabalhar nesta arte aos 12 anos. “Como não tinha vontade de ir trabalhar para o campo, comecei a aprender a fazer cestos e canastras com o meu pai, mal que acabei a escola primária”, recorda.

Mais tarde, a vida obrigou-o a procurar uma actividade mais sólida e mais bem remunerada. “As encomendas eram poucas e por isso fui trabalhar para a fábrica de cortiça Robinson onde tinha um ordenado fixo. Mas como tinha que andar 12 quilómetros a pé todos os dias, aborreci-me e fui-me embora”, explica.

Das várias actividades que Manuel Frutuoso exerceu, a cestaria foi sempre a que mais o cativou. Com o passar do tempo, aprendeu a aperfeiçoar os acabamentos dos cestos, e por volta dos 24 anos foi convidado a ir para Alcobaça trabalhar nesta arte. “Nem pensei duas vezes, uma vez que lá ganhava quase o dobro”, conta o cesteiro.
Passados dez anos Manuel Frutuoso deixou de ter trabalho, porque o mercado abastecedor de Lisboa proibiu o transporte da fruta nos cestos de vimes, aceitando apenas a fruta que chegava em caixas de madeira.

Devido a essa crise, o artesão foi trabalhar para uma fábrica de porcelanas. Mas como as saudades da família começaram a “apertar” decidiu regressar a Portalegre, onde continua a produzir cestos “até a saúde permitir”.

A arte de fazer um cesto

“É preciso muito tempo e paciência para fazer um cesto”, desabafa Manuel Frutuoso.

A primeira coisa a fazer é ir ao souto apanhar os vimes. De seguida, e com a ajuda de uma navalha, descasca-se o vime. Para facilitar esta operação, os vimes são previamente cozidos em água, e posteriormente postos a secar.

Manuel Frutuoso explica que “esta cozedura serve para lhe dar uma cor acastanhada. A variedade mais branca de vime é descascada a frio, sendo apenas mergulhada em tanques de água durante um ou dois meses”.
Cortado, descascado e seco, o vime está pronto a ser trabalhado.

Com a ajuda de um machado, abre-se ao meio e depois lavra-se no cavalo, “porque quando se corta com o machado, umas vezes fica mais grosso de um lado, e então este aparelho endireita-o”, justifica o cesteiro.
De seguida, começa-se por tecer o fundo do cesto. Cruzam-se oito pares de vimes, entrelaçados com fiadas torcidas de dois ou três vimes. (foto 2)Cose-se cada volta à anterior, num movimento que avança do centro para a periferia, até se atingir o rebordo. Levantam-se as hastes estruturais e prendem-se com um cordel para se começar a tecer o cesto do fundo para as asas. O pano do cesto é rematado com o debrum. Por fim, e consoante as encomendas, acrescentam-se ou não as ou asas e a tampa.

Como é conhecido localmente, Manuel Frutuoso recebe várias encomendas. As mais frequentes são os cestos para as vindimas, os açafates, destinados a usos domésticos ou para conter objectos de costura, cestos de quatro asas para a fruta, cestos para os gatos e para a roupa e vasos para as flores.

Faltam seguidores

Convidado pela Região de Turismo de Portalegre, Manuel Frutuoso participa, há 16 anos, em diversas feiras de âmbito nacional e internacional.
O cesteiro revela que nas feiras vende muito pouco. “Lá consigo vender um ou dois açafates. Mas o mais importante é mesmo o convívio”.

O artesão considera que “as pessoas não compram artesanato porque, para além da vida estar cada vez mais cara, o artesanato não é nenhuma necessidade mas sim um gosto”.

Manuel Frutuoso acrescenta que este é um trabalho pobre, uma vez que se trabalha muito e o lucro é reduzido. “Já não aumento os preços há três anos, porque se o fizesse os poucos clientes que tenho abalavam”, justifica.

Como é o único cesteiro da região e sendo esta uma actividade em vias de extinção, as escolas primárias costumam convidar o artesão, uma vez por ano, para mostrar e incentivar as crianças a continuar esta arte.
Com muito pesar não perspectiva transmitir a sua arte, uma vez que não surgem interessados. “Os jovens de hoje em dia procuram algo com mais futuro. Porém, e enquanto tiver saúde e não me aborrecer, quero continuar a exercer esta actividade que sempre me acompanhou”, diz.