Quando a vida já não é viver

Sou a favor da eutanásia. Esse polémico tema tem originado as mais diversas opiniões e também grandes divergências entre a comunidade cristã e a não-cristã, e até entre as diferentes facções políticas.

Um dia estava eu a falar com a minha mãe sobre a doença grave do meu tio e, a certa altura, conformado com o facto digo o seguinte: “todos nós temos um fim”. A minha mãe responde prontamente: “pois é filho, mas eu não quero pensar nisso porque eu adoro viver”. Pois eu também adoro viver, assim como quase todas as pessoas deste mundo. O problema é quando a vida deixa de ser um prazer para passar a ser um sofrimento. Há casos em que o melhor seria pôr termo à vida da pessoa, mesmo que esta não tenha voz para dizer “sim”. Sou, portanto, a favor da eutanásia. Esse polémico tema tem originado as mais diversas opiniões e também grandes divergências entre a comunidade cristã e a não-cristã, e até entre as diferentes facções políticas. Porém, imaginem o quão doloroso não será para uma pessoa não poder ver os familiares, os amigos ou a magnificência da natureza; não poder andar pelo seu próprio pé; não poder ouvir a música que mais gosta; ou, até mesmo, não poder cheirar o cozinhado nem as flores. Uma situação deveras triste e insuportável.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos refere que todo o ser humano nasce livre, ou seja, todo o ser humano é livre nas suas escolhas e, como tal, julgo ser humanamente correcto uma pessoa querer terminar com a sua vida, sendo essa a melhor opção para acabar com a imensa dor do sofrimento. Que sentido faz uma pessoa viver dependente de uma máquina e com o cérebro praticamente morto? Por acaso isso é viver? Certamente que não. O mais recente filme do actor espanhol Javier Bardem, intitulado “Mar Adentro” é um exemplo perfeito de como a eutanásia, por vezes, é o melhor escape para acabar com o sofrimento de estar bastante doente, ou seja, de estar na fase terminal da vida sem que a pessoa consiga andar, falar ou ver. É certo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos também refere que ninguém tem o direito de tirar a vida a quem quer que seja. Mas também tiram-se tantas vidas todos os dias em guerra; daí a Declaração Universal dos Direitos Humanos não passar de uma mera convenção para iludir hipocritamente os povos.

Portanto, por essa lógica a eutanásia, bem como o aborto, estará sempre envolta em polémica. Porém, se cada ser humano é livre nas suas escolhas, dever-se-ia abrir uma excepção para a eutanásia no sentido do doente em causa poder ser livre de afirmar para porem fim à sua vida. No caso de perda de sentidos, julgo ser humanamente correcto o filho ou o irmão do doente terem também liberdade para pôr fim à vida do mesmo, uma vez que são feitos do mesmo sangue.