Câmara quer descentralizar cultura

A descentralização da oferta cultural é a grande aposta da Câmara Municipal de Portalegre para os próximos meses. Luís Pargana, vereador da autarquia, adiantou ao ESEPJornal os projectos que estão em cima da mesa.

[ESEP Jornal Digital] Em termos de actividades culturais, o que está a ser projectado pela Câmara?
[Luís Pargana]
Há várias coisas que estão, neste momento, em curso. Uma delas, e que gostaria de distinguir, é o projecto “Há Música na Freguesias”, um projecto de descentralização cultural pelas freguesias rurais do concelho de Portalegre e que vai correr as oito freguesias rurais do concelho. Iniciou-se no passado mês de Maio na freguesia das Carreiras e terminará em Dezembro na da Alagoa. Já com a passagem em duas juntas de freguesia, Carreiras e Ribeira de Nisa, tem sido muito bem sucedida.

[EJD] E o que distingue este projecto dos outros?

[LP] É um projecto de música em espaço rural. Destaco este projecto precisamente pela inovação e pelos objectivos de descentralização cultural dentro do concelho.

[EJD] Como surgiu este projecto?

[LP]Inscreve-se dentro dos objectivos de política cultural do município que eu tenho vindo a desenvolver. Passa não só pela realização de iniciativas de carácter cultural na sede do concelho, na cidade, adequadas ao público citadino e destinadas a atrair visitantes, mas também por descentralizar essas actividades a públicos que, por circunstâncias várias, se encontram mais afastados da fruição cultural. Pretende, em simultâneo, levar às freguesias rurais, a pretexto da iniciativa, pessoas que, porventura, desconhecem as características dessas mesmas freguesias rurais e que, com este projecto podem, de facto, conhecê-las e ajudá-las também ao seu desenvolvimento local..

[EJD] Além do “Há música nas freguesias”, o que mais pode contribuir para a descentralização cultural a que se refere?

[LP] Existem ainda outras iniciativas da autarquia em termos de descentralização cultural pelas freguesias, por exemplo o programa “Artes do Palco”, que temos vindo a desenvolver em parceria com a Delegação Regional de Cultura do Alentejo e que passa também por realizar nas freguesias rurais eventos de natureza cultural variada.

Mas há outras actividades vocacionadas para a cidade de Portalegre, enquanto sede de concelho e capital de distrito. Por exemplo, o Festival Internacional de Dança Contemporânea que vamos acolher no próximo dia 14 de Junho e que é um Festival Internacional com características próprias, porque engloba um conjunto de cidades do centro do país. Permite uma rentabilização de recursos, uma diminuição de custos e a realização de espectáculos de dança contemporânea de grande qualidade em espaços do património arquitectónico de cada uma dessas cidades criando, assim, uma rede de espectáculos numa rede de cidades, com características muito urbanas.

Esta estabelece uma ponte para uma outra estratégia também da política cultural do município de Portalegre: o dinamizar locais do património histórico e arquitectónico da cidade.

Nós entendemos que é preciso criar pretextos para que as pessoas conheçam este património que é seu e que tantas vezes está divorciado da cidade e dos portalegrenses. Assim temos tido a preocupação de dinamizar estes espaços, agora por exemplo no Convento de Santa Clara, com a Feira do Livro, ou a iniciativa nos meses de Verão, Julho e Agosto, nos claustros. A Feira de Doçaria Conventual que realizámos no Mosteiro de São Bernardo, os concertos que já realizámos e que estamos a perspectivar na fábrica Robinson ou o concerto que vamos realizar agora no dia 24 de Junho no Castelo de Portalegre são outros exemplos. Enfim, há a preocupação, tanto quanto possível, de dinamizar espaços do património arquitectónico de Portalegre com iniciativas culturais que sejam o pretexto para que as pessoas ali se desloquem e usufruam desses espaços, mantendo-os vivos.

[EJD] Como encara o comportamento do público portalegrense perante estas actividades?Acha que existe já um público fixo ou que as pessoas vão aderindo gradualmente?

[LP] Acho que estão a aderir gradualmente, aliás é esse o objectivo: criar públicos. Naturalmente que não é objectivo desta política cultural que toda a gente goste das mesmas coisas e goste de tudo, pelo contrário é que exista uma oferta constante e regular para que as pessoas vão, em primeiro lugar, tendo contacto com formas de expressão artística e cultural, formando os seus gostos, definindo as suas escolhas e as suas opções, e constituindo as suas agendas de fluição cultural. Queremos que haja diversidade de públicos para a diversidade de ofertas culturais que entretanto vai sendo organizada e proporcionada.

[EJD] Enquanto responsável autárquico pela cultura, como caracterizaria o actual panorama cultural da cidade de Portalegre?

[LP] Eu não gosto de ser juiz em causa própria, e serei a pessoa menos indicada para fazer essa caracterização já que, enquanto vereador com responsabilidades no pelouro da cultura, serei um dos principais agentes na dinâmica cultural da cidade de Portalegre. Portanto, essa é uma pergunta que deve ser feita à população, às pessoas, na certeza de que o trabalho que eu tenho desenvolvido se insere numa política cultural definida com objectivos e fases. Não são objectivos alcançáveis no mesmo momento, mas devidamente faseados e que têm estado a ser conseguidos. Estamos no caminho certo para a construção de bases para uma política cultural que sirva para o seu objectivo final que é o ser a base do desenvolvimento sustentável...