“Procuramos melhorar a qualidade de vida das nossas crianças”

Os internatos masculino e feminino de Portalegre são a casa de algumas crianças que já viveram aquilo que a maioria não conhece em toda a vida. O objectivo é integrá-las acompanhá-las e acima de tudo dar-lhes toda a atenção que merecem.

São miúdos que necessitam de acompanhamento, de carinho e da atenção que os ambientes familiares não lhes proporcionaram. Apesar de muitos deles terem sido “vitimas de abandonos, agressões, discriminação ou pobreza” estas crianças são iguais a quaisquer outras, sempre dispostas a mais uma brincadeira, uma gargalhada, uma palavra simpática. Normalmente passam os seus dias entre a escola e o internato onde, para além de fazerem os trabalhos escolares, podem participar em muitas outras actividades como por exemplo os cursos de informática, natação ou futebol. Para alegria dos mais pequenos o internato costuma organizar colónias de férias, passeios e outras festas. “Gosto de estar aqui” diz Diego, onze anos, enquanto faz mais um desenho na sala de trabalhos manuais do Internato Distrital de Santo António. “O que mais gosto de fazer é trabalhar nos computadores e de jogar à bola”, esclarece. Já o Vítor adora desporto e fazer desenhos, quando crescer quer praticar natação.

Numa mesa redonda, de umas folhas brancas, da mistura de muitas cores e imaginação surgem os desenhos e as “obras de arte” que forram as paredes da sala de trabalhos manuais.

No campo de futebol um grupo de rapazes prefere passar o tempo a “dar uns chutos na bola”, outros optam pela sala de jogos ou pela mediateca mas quando é necessário também gostam da sala de estudo.
Ao contrário do que se possa pensar não há insucesso escolar. “Os nossos miúdos estão bem integrados na escola, participam nas actividades escolares como qualquer outra criança” afirma Gonçalo Pacheco director deste internato. A maior parte dos rapazes que viveram nesta instituição têm o 9º ano de escolaridade concluído mas a ideia de uma vida independente fê-los optar por uma profissão em detrimento dos estudos. O acompanhamento destes jovens não termina quando decidem deixar os estudos ou a casa onde passaram grande parte das suas vidas. Na consciência do grupo de pessoas que os viram crescer continua presente a vontade de os apoiar sempre que for necessário, assim, tentam garantir-lhes condições de bem-estar e de integração no mundo do trabalho, “é o acompanhamento de um processo educativo” refere Gonçalo Pacheco. Apesar da capacidade para acolher apenas trinta crianças, hoje são trinta e um rapazes entre os seis e os dezoito anos que vivem nesta instituição. Existem listas de espera.

“A nossa casa, a nossa família”

“Olá Ilda gosto muito de ti”. A sala de Ilda Farinha, directora do Internato Feminino de Portalegre, está repleta de mensagens carinhosas e desenhos coloridos que lhe vão sendo oferecidos pelas crianças que actualmente vivem nesta casa. É assim que as trinta raparigas dos seis aos vinte e um anos gostam de se referir à instituição: “A nossa casa”. É para lá que vão quando saem da escola, é lá que passam os seus tempos livres nos cursos de informática, nas salas de convívio ou de estudo, mas acima de tudo, é lá que têm os verdadeiros amigos e o carinho de toda uma família.
Na escola, os resultados são satisfatórios e ao contrário dos rapazes, elas preferem continuar os estudos, “a maior parte das raparigas termina o 12º ano de escolaridade” afirma Ilda Farinha. Mas também elas querem ter uma vida independente, começar a trabalhar. Depois de conseguirem uma situação estável “quer material, quer sentimental” podem deixar a casa, mas nunca deixam perder os contactos, “costumam vir aqui fazer-nos visitas. Ainda hoje esteve aqui uma miúda” diz a directora da instituição.

Actualmente o Internato Feminino tem duas camas disponíveis para os “casos de emergência”, situações em que é necessário acolher as crianças de imediato, sem aguardar pela decisão do tribunal. Também aqui há lista de espera, chegam muitos pedidos de ajuda de outros distritos.