A vida de quem faz arte na pele

Uma vida pela arte é o estilo de vida que Hélder Sousa escolheu. Aos 35 anos é tatuador mas também artista plástico e de artesanato. O seu percurso pelas artes começa desde cedo através de trabalhos com canas da ribeira e xisto. Apesar da tatuagem surgir mais tarde, Hélder defende que tatuar é mais que uma arte mas sim uma paixão: "A maioria dos tatuadores que eu conheço trabalham por amor, nunca se está interessado só na parte económica, eu faço trabalhos que valem muito mais do que o dinheiro que às vezes cobro, tenho gozo em fazê-los".

Para o tatuador, os estudos na sua área são considerados como nulos, chegando a afirmar que as formações de tatuagem em Portugal são pouco sérias: "Para mim não conta como formação porque quando a fui tirar já tatuava, fui com interesse, pensava que era uma formação séria mas infelizmente isso não existe em Portugal". Sem qualquer legislação específica relativamente a esta vertente artística, as formações podem ser feitas em qualquer lugar, assim como qualquer pessoa pode ter a profissão de tatuador, sem necessitar de legalização.

Viver numa cidade do interior trás vantagens para o artista que se tem afirmado como o principal tatuador da cidade. Com estúdio aberto há mais de cinco anos, Hélder Sousa guarda memórias de tatuagens com grande significado e também de experiências caricatas: "Chegaram aqui uma vez três amigas e uma delas queria tatuar a imagem do Hitler vestido com uma saia cor-de-rosa, perguntámos porquê e ela disse que tinha sido uma aposta... Dissemos à rapariga para pagar um jantar às amigas que ficava bem melhor".

O amor pela arte é encarado com respeito e responsabilidade. Na hora de tatuar, Hélder Sousa faz questão de explicar desde as regras de saneamento básicas aos componentes das tintas e das máquinas, tudo para que o cliente se sinta seguro e confortável. O tatuador faz sempre questão de referir que este processo é definitivo e deve ser ponderado.

Fazer arte na pele

O estúdio é pequeno, mas cheio de grandes histórias. Alguns optam por tatuagens com simbolismo, outros por questões estéticas. Para Hélder Sousa, o importante está na obra e ser tatuador é um desafio para o qual é necessária uma grande sensibilidade: “ao contrário do que possam pensar, um tatuador tem que ser uma pessoa com uma vida regrada porque se for muito nervoso vai tremer e se tremer não vai ficar um bom trabalho”.

Considera-se um tatuador artista e afirma que nem todos são iguais: “Há tatuadores artistas e tatuadores técnicos.”. Para ser tatuador artista é necessária uma capacidade para o desenho, a qual Hélder desenvolve desde a adolescência.

Antes do profissionalismo

Com um percurso fora do comum, a sua primeira experiência a tatuar foi prematura e artesanal. Aos 15 anos, Hélder Sousa vivia num monte alentejano e como rapaz do interior, conhecia muito pouco sobre a tatuagem: “Morava lá outro casal que tinha um filho um pouco mais velho do que eu e num dia de inverno estávamos ao lume num casão, não havia nada para fazer e ele pediu-me para lhe fazer uma tatuagem com um coração, uma flecha a passar e o nome da namorada... Na herdade havia porcos que são tatuados nas orelhas e foi essa tinta que usamos". A sua primeira tatuagem ainda existe atualmente e é recordada com alguma nostalgia. Ainda assim, Hélder Sousa faz questão de relembrar que eram tempos sem qualquer formação e que atualmente encara este episódio como um dos mais caricatos de todo o seu percurso artístico.

O artista define-se como “completo e realizado” e, apesar de a tatuagem não ser a sua primeira opção, tornou-se numa das grandes paixões da sua vida: "Nunca sonhava nessa altura um dia vir a ser tatuador mas realmente há coisas no caminho que surgem como um indício". Para o futuro, o desejo é continuar a tatuar em nome da arte na pele, na cidade de Portalegre.

 

Entrevista a Hélder Sousa:

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Galeria de fotos: http://www.slideshare.net/esepjornal/galeria-de-fotos-31073533