“Não quero pensar já em grandes projectos para depois não os alcançar"

O árbitro portalegrense Luís Tavares, tornou-se no passado dia 17 de Fevereiro o primeiro árbitro internacional da Associação de Futebol de Portalegre, e o mais novo de sempre a conseguir esse feito em Portugal.

Em entrevista, Luís Tavares fala da sua carreira, das dificuldades sentidas pelas equipas de arbitragem em Portugal e da crise que o desporto no Alentejo está a atravessar, nomeadamente no distrito de Portalegre.

[ESEP Jornal Digital] Que e sentimentos e memórias é que o dia 17 de Fevereiro deste ano lhe traz?
[Luís Tavares]
É uma data que vai ficar na memória por muitos anos, pois foi quando realizei o meu primeiro jogo internacional. Quando se é arbitro e se tem ambições, gosta-se de chegar ao topo, sendo nesse dia que me senti realizado.

[EJD] Tornou-se assim o primeiro árbitro da Associação de Futebol de Portalegre a ser internacional….
[LT]
  Felizmente sim. Estamos no interior do país e temos mais valores que ainda não conseguiram alcançar este patamar. Espero que não seja o único, mas o primeiro de muitos e que seja aqui a reviravolta na arbitragem no interior, nomeadamente no concelho de Portalegre.

[EJD] Sente que poderia ser feito mais alguma coisa, pelos desportistas e pelos árbitros para alcançarem maior notoriedade a nível nacional?
[LT]
  Eu por vezes chamo à arbitragem o parente pobre do futebol, porque apesar de se apostar muito nos clubes e nos jogadores, nunca se aposta nos árbitros. Por vezes sentimos falta de condições quer a nível de treinos, quer a nível médico, quer mesmo por parte dos dirigentes. Penso que a mentalidade teria de começar a mudar já por aí, e ainda por cima em ano de Euro, devíamos todos parar um bocadinho, e pensar que o futebol não é só os jogadores e os golos, mas também há a equipa de arbitragem, que muito se fala e se critica. Mas para exigir, também têm de dar certas condições aos árbitros.

[EJD] Até onde poderá ir o Luís Tavares como árbitro internacional?
[LT]
Neste momento o meu grande objectivo é conseguir manter-me como árbitro assistente internacional. Depois a ambição faz parte do homem, e sendo eu um homem ambicioso, gostaria de fazer uma final de um campeonato da Europa, do Mundo ou mesmo da Liga dos Campeões.

[EJD] Para quando é que perspectiva uma situação dessas?
[LT]
  Gosto de ser calculista e não dar passos maiores do que as pernas, porque tudo tem o seu timing. Não quero pensar já em grandes projectos para depois não os conseguir alcançar. Vamos esperar para ver.

[EJD] Que balanço faz da sua carreira até ao momento?
[LT]
Eu fiz o curso de árbitro em 1995 e sou um caso único no país, pois tenho 26 anos e já me tornei árbitro internacional. Penso que é uma carreira aliciante e é como se costuma dizer: foi chegar, ver e vencer.

[EJD] Como avalia a sua participação na temporada que está a decorrer?
[LT]
  Esta época está a ser muito boa. Consegui ser árbitro assistente internacional, os jogos estão a correr bem e espero que continue assim daqui para a frente

[EJD] Em Portugal fala-se muito de arbitragem. Houve alguma coisa que o tivesse desiludido?
[LT]
Não. Existem certas e determinadas opiniões que penso estarem erradas, pois as pessoas de certa forma não conhecem o mundo da arbitragem por dentro e não têm consciência das dificuldades que se tem. De certa forma eu tenho de desculpar as pessoas pela falta de sabedoria na matéria e só posso aceitar as criticas que por aqueles que tenham conhecimento de causa.

[EJD] Ainda sente pressão ao entrar num estádio com sessenta mil pessoas?
[LT]
A pressão que eu sinto neste momento é a da responsabilidade. Estamos no futebol profissional e podemos fazer jogos que decidem títulos ou que podem despromover equipas a um escalão secundário. Como sabemos o futebol é um mundo que gere milhões e qualquer decisão nossa, por mal dada que seja, pode influenciar muita gente e esse é o peso da responsabilidade. Tenho que admitir que existem certos jogos que sente-se mais o nervosismo, pois nem todos os fins-de-semana fazemos um Benfica-F.C. Porto com sessenta mil pessoas e no nosso país, infelizmente as pessoas vão pouco aos estádios, com excepção desses grandes jogos, e claro, quando os apitamos sentimos aquele tremelique nos pés.

[EJD] Qual a sua posição relativamente à profissionalização dos árbitros?
[LT]
Na minha opinião a profissionalização deveria existir. O problema é que as condições e estruturas que têm de ser criadas para isso suceder, dificilmente ocorrer, pois ainda não existe uma estrutura que consiga tornar os árbitros profissionais.

[EJD] Relativamente a questões mais técnicas, concorda com a existência de mecanismos electrónicos, nomeadamente com a ajuda da repetição dos lances via Televisão?
[LT]
Concordo. Isso já está a acontecer a nível de apreciação dos árbitros. Existe uma comissão de análise que todos os fins-de-semana fazem o visionamento dos jogos através do vídeo. Eu acho que sim, pois somos suficientemente humildes para reconhecermos que erramos e não temos qualquer tipo de problema que os jogos sejam vistos e analisados pela televisão.

[EJD] Como é que sente que está o desporto em Portalegre e na sua região?
[LT]
  Estamos a atravessar um momento mau. A nível nacional temos duas equipas nos Nacionais, o Elvas e o Benavilense. A nível de Portalegre não temos qualquer equipa nos nacionais. O nosso distrital, custa-me dizer, mas está pobre, e há que repensar. Esta situação não se passa apenas aqui, mas em todos os distritos e concelhos, por isso, há que repensar o nosso futebol, as mentalidades e ver o que queremos dele.

[EJD] Estando Portalegre pouco desenvolvido a nível desportivo, como é que se sente o Luís Tavares ao representar o Alentejo e a região de Portalegre em particular, ao mais alto nível?
[LT]
É um facto que o futebol a nível distrital está pobre, mas se nós olharmos para a nossa cidade, as suas indústrias e os apoios que elas poderão oferecer ao futebol, estes também não estão suficientemente desenvolvidos para que o futebol seja um chamariz da nossa cidade.

[EJD] Se pudesse mudar alguma lei do regulamento, qual seria?
[LT]
  Mudaria a lei do fora de jogo, que para mim é a mais complicada e a mais polémica do nosso futebol.