A democracia “não está segura”

O ex-presidente da república Ramalho Eanes aproveitou um encontro com jovens, em Évora, para tecer algumas críticas à União Europeia. A Europa “cometeu todos os erros possíveis e nunca aprendeu com eles”. E referiu que se devia ter em conta as novas potências políticas extremas, dando a França e a Áustria como exemplo, reiterando: “A democracia na Europa não está segura”.  O ex-chefe de Estado participava no 2.º Encontro/Debate com Jovens no âmbito das comemorações dos 40 anos das primeiras eleições presidenciais em democracia, que decorreu quarta-feira, na Universidade de Évora e que contou com a participação do Instituto Politécnico de Portalegre, com alguns alunos de Jornalismo e Comunicação e de Administração de Publicidade e Marketing. A sessão foi moderada pelo jornalista Joaquim Letria e contou também com a participação do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Ainda sobre a NATO fez ainda questão de referir que “já não serve para aquilo que era suposto servir”.

Num auditório repleto de jovens do ensino secundário e superior, o Presidente da Republica deixou bem claro que “não é frequente uma personalidade cimeira da democracia nacional estar presente e a responder às questões dos jovens”.

Eanes considera que os jovens se afastaram da política por “acharem que não vale a pena” deixando uma mensagem para o futuro, que “hoje quem faz o futuro são os jovens ou não é ninguém”.

Confrontado por várias perguntas e vários temas, por parte dos jovens presentes, Eanes começou por dizer que o povo português está habituado “a ter medo”. E deu como exemplo um comício de campanha que fez naquela cidade, em que “as pessoas ficavam à porta, por estarem com medo”. Por isso foi para cima de um carro, e quis mostrar ao “povo” que era importante enfrentar o medo, numa altura pós-ditadura. Lembrou que a democracia “tanto se constrói, como se pode destruir. Para se manter erguida, é preciso todos os dias erguer-lha.” Avaliando os anos em que esteve no Palácio de Belém, Eanes afirmou que foi “presidente de todos os portugueses”, mas que se ainda fosse Presidente da República, “haveria coisas que faria de maneira diferente”.

Quanto a um possível sistema presidencialista em Portugal, Eanes evocou que os sistemas presidencialistas têm dado bastante problemas, dando como exemplo o Brasil. Admite que o sistema atual em Portugal (semipresidencialista) é um sistema equilibrado, mas com alguns contras, dizendo que “o governo deveria responder politicamente perante o Presidente da República” e defende o “aumento dos poderes do Presidente”, assim como uma “maior atuação no contexto de política externa.”

Ramalho Eanes foi ainda confrontado com o facto de não ter apoiado o atual Presidente e sobre o assunto defendeu que “o julgamento, em democracia, é um em muitos.”