Na companhia do Plátano

Dias cinzentos, como o de hoje, não fazem adivinhar que a grande árvore situada no Jardim do Rossio seja a mais acarinhada pelos portalegrenses. O tempo típico da estação despiu O Plátano do Rossio, aquela enorme árvore, que em dias quentes e solarengos de verão, abriga com a sua apetecível sombra, todos o que o desejam.

Sem folhas, com a baixa temperatura que se faz sentir e a chuva que nos faz desejar ficar em casa, o Plátano não tem muita companhia no Inverno, pois até os pássaros que cantavam nos seus ramos emigraram. No entanto, há sempre alguém que por ela passa e que a contempla, independentemente da meteorologia. O seu tamanho não muito comum é o principal chamariz, até mesmo para aqueles que a conhecem desde que nasceram e que cresceram à sua sombra.

“Sento-me à sombra do plátano todos os dias”, diz João Carvalho que atira: “é uma espécie de lar da terceira idade, onde se passa aqui o tempo e onde se diz umas mentiras, umas aldrabices e tal…”

O Plátano partilha segredos e guarda no seu silêncio muitos momentos de alegria e tristeza de várias gerações. É como “um membro da família” diz Maria Carrapiço.

De idade centenária, a árvore que foi mandada plantar em 1838 por José Maria Grande, botânico e médico em Portalegre, foi onde antigamente se “abrigaram feiras e negócios, conversas de ocasião, encontros de namorados e até reuniões políticas”, conta Emília Mourato Silva, responsável pelo serviço de turismo e eventos de Portalegre.

São as suas proporções e a sua localização geográfica que faz com que seja dos primeiros pontos de interesse a ser visitado. Considerada a maior árvore da Península Ibérica, o Plátano do Rossio faz parte do património de Portalegre e integra o roteiro turístico da cidade, sendo visto como um dos seus ex-libris.

Luís Borges está de visita a Portalegre e não tem dúvidas. “para mim não é uma árvore qualquer, também já me sentei à sua sombra, já por ela passei várias vezes e, de facto, a sua dimensão e o espaço de socialização que acabou por se criar à volta do seu enorme tronco e da sua sombra em terra alentejana, de imenso calor no Verão, tornam-na num elemento vivo da cidade”.

Acarinhada por todos os que ali alguma vez se sentaram ou por ela passaram, é uma árvore a quem ninguém fica indiferente e de quem todos conhecem a história de vida.

Se quisessem arrancá-la ficava chateado

Quando alguma vez se fala em abater a árvore, a reação do povo é igual, tal como nos diz António Alegre, habitante da cidade, “se arrancassem a árvore eu ficava chateado, com certeza que ficava chateado, não só eu como também toda a população de Portalegre”.

A verdade é que em tempos se tentou aniquilar o marco da cidade, Um dia a mão do homem decidiu confrontá-lo à “morte”. Para tanto foi chamado o “carrasco” que chegou a serrar o seu tronco até ao meio, mas o povo portalegrense orgulhoso de tão belo “monumento”, revoltou-se, não permitindo que se chegasse a concretizar o crime, conta-nos Ângelo Monteiro no seu livro Portalegre A Cidade e a Serra.

Segundo Emília Mourato Silva, responsável pelo serviço de turismo e eventos de Portalegre, “os vários livros que contam a história do plátano não se tratam de ficção pois existiu mesmo uma tentativa para o cortar, facto que foi impedido por um movimento de cidadania que se gerou na altura”.