Chineses estão há uma década no comércio portalegrense

A simpatia dos portalegrenses e a calma do país são alguns dos principais motivos que atraiu os chineses. De olhos rasgados, sorrisos afáveis e com alguma dificuldade na utilização da língua portuguesa, os chineses chegaram a Portalegre há já uma década. Montaram negócio e agora até já dão emprego a portugueses.

Já foi um dos mais célebres cafés de Portalegre. Já foi uma instituição bancária. Hoje é uma loja de produtos chineses. Com dois pisos, ali pode-se encontrar um pouco de tudo. Produtos de limpeza, higiene, de pronto-a-vestir, calçado, brinquedos, objectos de decoração e bijutaria. Há um pouco de tudo e a preços mais apetecíveis ao bolso da maioria dos consumidores.
Wang Weifen, de Quingtian, veio há dez anos para Portalegre. As semelhanças entre esta cidade e a sua cidade natal são muitas e por isso ”resolvi ficar por aqui”. Por outro lado, “a simpatia das pessoas também não passou despercebida”, refere.

Com a ajuda de muitos amigos e com algum dinheiro emprestado pela família, montou o seu primeiro negócio: um restaurante de comida chinesa, de resto, o primeiro a abrir em Portalegre.

Em poucos dias, fizeram obras, pintaram e decoraram todo o espaço. Trabalhavam de dia e de noite, o cansaço ficava sempre para segundo plano. O restaurante foi bem acolhido pela população, uma vez, que a oferta era outra e os preços até nem eram muito altos e havia a possibilidade de levar o almoço ou jantar para comer em casa.
Wang, proprietária do estabelecimento, com um português rudimentar mas com muita força de vontade, atendia e servia o cliente, sempre com um sorriso nos lábios, sem transparecer o cansaço que sentia.

Foram vários os chineses que alugaram casa, compraram carros nos stands de Portalegre, comem e vestem-se no comércio portalegrense e mandam os filhos para as escolas da cidade. Estes cidadãos do Oriente vieram e começaram a gerar riqueza para a própria cidade, porque aqui “gastamos todo o nosso dinheiro. Se cá o ganhámos, cá o gastamos”, afirma.

Depois de implementado o restaurante foi chegada a vez de expandir o negócio. Com uma extraordinária capacidade empresarial e uma dinâmica pouco vista, Wang e o marido pensaram abrir uma loja mais ampla, onde coubesse um pouco de tudo, com preços competitivos. Abriu há quase três anos e hoje até já dá emprego a portugueses.

Wang assegura que as acusações de concorrência desleal não correspondem à verdade. “Os chineses não fazem mal a ninguém, a única coisa que querem é trabalhar. Nós trabalhamos muito, muitas horas seguidas, a noite para nós não tem fronteiras”.

“As nossas margens de lucro são menores. Nós preferimos vender mais com uma margem mais pequena, do que ter uma margem muito grande e depois não vender os artigos”, explica Wang para justificar a razão pela qual vendem mais barato. “Este é o negócio da China, mas que já começa a ser utilizado por muitos portugueses”, diz o comerciante.

Artigos portugueses

Ao contrário do que se pensa “a maioria dos nossos produtos é comprado aqui em Portugal. Os vendedores viajantes vêm mostrar os artigos, e nós compramos aquilo que precisamos, tal como acontece a qualquer outro comerciante, sem que haja qualquer desconto ou bonificação por serem chineses”, garante Wang.
Há outros artigos que são importados da China “mas são poucos. O processo de importação é complicado e só se justifica quando se compra em grandes quantidades”. Uma visita à loja dá para perceber que são muitos os artigos iguais existentes em tantas outras lojas, alguns a preços mais baixos, outros nem tanto. “É a diversidade que nos permite ter preços mais baixos e angariarmos mais clientes, porque a oferta é maior”.

Um outro factor é o horário de funcionamento da loja. O facto de não encerrarem à hora de almoço permite-lhes dar uma resposta que nenhuma outra loja dá, logo aí, possibilita-lhes arrecadar mais algum lucro, em parte graças ao trabalho dos próprios donos do estabelecimento.

“Não é verdade que sejamos beneficiados em alguma coisa. Não é verdade, fazemos os mesmos descontos que qualquer outro comerciante”.