A dor do adeus

O adeus faz parte da vida do ser humano e qualquer desportista, assim como qualquer médico, engenheiro, pedreiro ou qualquer artista, dirá um dia adeus à sua carreira, por mais longa que seja.

Há palavras que não deviam constar no dicionário; tais como: guerra, pobreza, todas as palavras relacionadas com a maldade, e também a palavra adeus. Porém, a palavra adeus jamais poderá desaparecer do dicionário, isto porque nós, como seres mortais, algum dia teremos de dizer adeus à vida, enquanto que as outras palavras que eu nomeei poderiam muito bem desaparecer do dicionário, ou seja, irradiarem-se de vez. No Iraque, a guerra continua, mas podia muito bem acabar. Na Selecção, Rui Costa disse adeus, mas o Rui jamais poderia dizer não ao adeus, ou seja, acabar com o adeus, assim como todos os seus colegas que um dia também terão de dizer adeus, quer seja o Figo, o Fernando Couto ou o Pauleta.
O adeus faz parte da vida do ser humano e qualquer desportista, assim como qualquer médico, engenheiro, pedreiro ou qualquer artista, dirá um dia adeus à sua carreira, por mais longa que seja. O adeus torna-se mais doloroso para um futebolista do que para um médico, por exemplo, porque a carreira de um futebolista, como toda a gente sabe, é demasiado curta, a qual dura em média cerca de 15 anos (18, 20 anos até aos 33, 35 anos). Com o médico é diferente. O médico inicia a sua carreira mais tarde (25 anos, aproximadamente), mas termina-a muito mais tarde em relação ao futebolista (50 anos, aproximadamente), o que perfaz uma média de 25 anos de carreira (mais 10 anos que a carreira do futebolista).
Porém, o jogador de futebol não é o único desportista que tem uma carreira curta; senão vejamos os exemplos do basquetebol e do ténis reflectidos no Michael Jordan e Pete Sampras, respectivamente. Michael Jordan e Pete Sampras serão, quiçá, os exemplos mais flagrantes da dificuldade e da dor que qualquer desportista tem em dizer adeus à sua carreira. O maior basquetebolista de todos os tempos e, convenhamos, um dos maiores desportistas de sempre, anunciou o adeus numa conferência de imprensa com toda a pompa e circunstância. A partir daí, o mítico número 23 dos Bulls mudou de modalidade e passou a dedicar-se ao basebol, mas um dia o “bichinho” do basquetebol reapareceu e Jordan não resistiu em regressar aos pavilhões para praticar a modalidade que mais ama. Jordan, agora, já disse definitivamente adeus ao basquetebol oficial. Também o maior tenista de todos os tempos já disse adeus à modalidade que mais ama. E também sentiu uma enorme dor em dizer adeus. Pete Sampras, o qual venceu tudo o que havia para vencer, à excepção da “maldita” terra batida do Roland Garros, não resistiu em soltar umas lágrimas muito sentidas na hora de dizer adeus. Sampras parecia um autêntico bebé a chorar.

Para terminar, não resisto em evocar o futebolista chileno Zamorano na sua hora de dizer adeus aos relvados, o qual disse simplesmente isto: “abandonar o futebol é como se Deus me tivesse cortado uma perna”. Mais palavras para quê?