Quando a misericórdia é o último dos lares

Com mais de 100 utentes, o lar da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre é um dos principais centros de acolhimento para idosos na cidade. Entre as iniciativas de resposta social encontram-se o lar residencial, o centro de dia e o apoio domiciliário que para os familiares são “a única alternativa para eles viverem com conforto e comodidade quando a família não pode acompanhá-los 24h por dia”.

É na Avenida da Liberdade que se situa a Santa Casa de Misericórdia de Portalegre onde está integrado o lar de idosos, casa de Joaquina Sobreira há tanto tempo que não se consegue recordar. Com 79 anos e um nível de surdez elevado, afirma que o lar “é um bom sítio para se estar, temos que estar num qualquer e estou bem aqui”.

Já Manuel São Pedro é apenas utente do centro de dia e afirma não gostar de estar no lar apenas pelo motivo que o levou a necessitar de ajuda – a debilidade física. De cigarro na mão, em conversa de esplanada, Manuel São Pedro conta que tem sete filhas e um filho mas que “eles trabalham e não têm tempo para cuidar de mim durante o dia”. Apesar da condição física, Manuel optou por não deixar a sua casa: “a minha casa mantem a minha vida, sempre fui o chefe de família e apesar de estar sozinho não posso deixar o que é meu”.

É no pátio aberto do lar da Santa Casa da Misericórdia que se reúnem idosos, visitantes e funcionários, num ambiente de harmonia e conversa. A um canto, de cadeira de rodas e acompanhada da filha, Maria Parente, com 94 anos e um sorriso encantador, afirma gostar de estar no lar onde já trabalhou há muitos anos como cozinheira. Apesar da convicção, a filha de Maria Parente desmente as afirmações da mãe que entrou há um ano para o lar da Santa Casa por doença física e mental. Todos os dias recebe a visita da filha, que a acompanha em atividades como ginástica e fisioterapia. Gosta de exercitar as pernas e deixa o recado: “quando alguém se esquecer do meu nome que saibam que sou parente de toda a gente”.

Um novo lar

Após longos anos de espera, a esperança para a construção do novo lar da Santa Casa da Misericórdia surge em meados de 2012, quando é aprovado o projeto e iniciada a obra. O novo lar da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre tem um orçamento de mais de 3 milhões de euros e os objetivos, segundo Marisa Candeias, diretora técnica, são “proporcionar o maior e melhor conforto para os nossos utentes através da criação de espaços e estruturas como ginásio, água terapia, balneários e dormitórios mais amplos”. A necessidade de melhorar as infraestruturas da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre são “um projeto já pensado há muitos anos mas que só agora foi possível realizar”.

A construção do novo lar e a remodelação do antigo são desta forma “uma vitória conseguida, mas com alguns constrangimentos”, afirma a diretora técnica.

Em fase de renovação, os utentes do lar da Santa Casa da Misericórdia estão curiosos. É o caso de António Gonçalves, que se refere à obra como algo desejado há muito tempo: “Falavam da obra no lar e da construção de outro há tanto tempo que eu já não acreditava que isso fosse acontecer, pelo menos que o pudesse estrear. Agora acho que sim, devo chegar lá, já que esta é a minha casa quero ver como fica”.

A Santa Casa como último lar

Para muitos idosos o lar é a sua última casa, onde vivem e convivem com outras pessoas e existe a oportunidade de reaprender a viver de forma mais saudável e dinâmica. Segundo a diretora técnica da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre o lar e centro de dia da instituição é “sem dúvida uma fantástica última casa para os nossos utentes, não só pelas condições como pelas pessoas”. O carinho pela instituição é reconhecível no olhar comovido de Marisa Candeias ao afirmar que “já trabalhei noutras instituições até com melhores instalações, mas não são as infraestruturas modernas que fazem uma instituição mas sim as pessoas que lá trabalham e todo o ambiente envolvente”.

São pessoas e rostos marcados pelo tempo e pela vontade de fazer crescer a instituição de apoio a idosos que tem registado um aumento nos pedidos de auxílio. São muitas famílias e trabalhadores que se envolvem diariamente no contexto da terceira idade e cuidam dos mais velhos dando um pouco de si e transmitindo a sua alegria, todos os dias. O lar de idosos é uma casa que para muitos é a última, o último dos lares.