Portalegre numa pincelada de aguarela

Filha de pais operários, confessa que “aos 14 anos tinha um sonho: ser pintora”. A sua professora de desenho aconselhava um curso nas belas artes. “Filha de operários era impensável estudar fora por falta de dinheiro”. Maria Leonor acabou por seguir a via do ensino, mantendo a sua ligação ao desenho, nos desenhos a carvão e lápis de cor que fazia, agora com os seus dois filhos.

Entre muitos problemas pessoais e amorosos, foi crescendo com três sonhos. “Ser Pintora, ser feliz e encontrar o príncipe encantado”. A vida sempre deu muitas voltas e entre quedas e subidas “a menina que queria ser pintora, ter um príncipe encantado e ser feliz teve de começar do zero ou quase do zero”.

Em 2007 muda-se para Ericeira e apenas em 2009 começa a procurar realizar o seu sonho de infância . Este sonho esteve sempre presente e após vários incidentes pessoais e até de saúde como um AVC, Maria Leonor não desistiu e manteve a sua filosofia. “Leonor não dá pontapés nas pedras do seu caminho, nem as ignora, Leonor pega nelas porque sabe que é com elas que um dia irá construir o seu castelo”.

O iniciar da paixão

Durante 36 anos, a sua ocupação foi o ensino básico e só em 2009, o sonho se começou a materializar. “Pintava todos os dias não só para melhorar as técnicas mas porque a minha alma mo pedia”. O sonho de ser artista e desenhar ficou guardado, dentro de si, por mais de 40 anos.

Começou as suas aulas de pintura com o aguarelista Rui Pinheiro “foi logo paixão por esta técnica”. Fez igualmente alguns workshops com outro aguarelista de nome Almeida Coval e desenho com João Catarino. Maria Leonor afirma que “investigo muito na net e considero-me uma amadora”. Em 2012 realizou a sua primeira exposição na cidade de Portalegre, onde nasceu, de nome “Portalegre, Regresso às origens” (Reportagem aqui).

Portalegre em Aguarela

São várias as recordações de Portalegre e da sua exposição. “Quando desenhei a árvore do Rossio parecia que eu era um extraterrestre com os homens a olharem embasbacados como que: mas o que faz esta gaja de calções aqui sentada no chão a desenhar”. Recorda ainda outros momentos marcantes como “as reuniões com Zeca Afonso na clandestinidade” ou “ser a melhor aluna da formação feminina, de representar a escola e ter de andar ao lado de Marcelo Caetano”.

Longe dos seus tempos de infância, hoje a sua visão de Portalegre está mudada. “Hoje apercebo-me que é apenas uma linda cidade que se está transformando em aldeia. A mente de muita gente daí parou no tempo e a má língua impera assim como o preconceito”. Nas suas aguarelas, podemos encontrar locais que qualquer portalegrense identifica, assim como o calvário ou a rua direita, a título de exemplo.

As pessoas e a arte

As pessoas também mudaram na forma como interagem, ou não, com a arte. Maria Leonor afirma que “se dermos abertura às artes as pessoas aderem”, é necessário trazer a arte às pessoas e sobretudo jogar com as emoções. A pintora gostaria imenso de voltar a Portalegre mas “com um tema mais diversificado «As cores do Alentejo»”.

O acesso à arte depende muito do local e da disponibilidade das pessoas “se as pessoas tiverem um acesso mais facilitado, vão aprender a gostar”. Para melhorar a sua arte Maria Leonor, continua a enriquecer a sua formação, para além da pintura, pertence a um grupo de artes em Lisboa e gosta também de escrever. Encontra-se também a aperfeiçoar a sua técnica a óleo, na quinta da Raposa, na Ericeira, com o professor Pedro Ramos, enquanto prepara uma exposição também em Sinta e na Ericeira.

 “As coisas menos boas que a vida nos dá é como pintar a aguarela um tom mal pintado, já não dá para emendar mas dá para pararmos, olhar e aprender o que não devíamos ter feito e o que faremos na próxima pincelada, conclui Maria Leonor.

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