Projecto para acolher jovens grávidas arranca no final do ano

A Quinta da Lage, em Portalegre, está a ser preparada para receber um centro de acolhimento a mães adolescentes e solteiras em risco. O projecto chama-se “A Vida Nasce” e pretende acolher dez jovens por grupo integrando-as no mercado do trabalho. O projecto arranca no final do ano no Alentejo, a região com o maior número de mães adolescentes.

O final do ano é a altura prevista para a abertura do centro de acolhimento a adolescentes grávidas e mães em situações de risco. Esta casa, situada na Quinta da Lage, pretende apoiar adolescentes que, por consequência de uma maternidade não desejada e precoce, tenham sido segregadas socialmente. “O nosso objectivo consiste em perspectivar uma inserção ou reinserção familiar e social das jovens”, explica Rosário Nunes, uma das responsáveis pelo projecto.

O projecto “A Vida Nasce” surgiu após o referendo do aborto de 1998 “com o intuito de preencher a lacuna que se verifica no distrito de Portalegre em relação à capacidade de resposta dos intervenientes sociais na área da maternidade precoce em risco”, refere a responsável.

Acolher, formar e integrar são os objectivos

O projecto funcionará em três fases distintas: na primeira, o espaço da Quinta da Lage irá receber dez jovens por grupo. Rosário Nunes afirma que “o número pode parecer escasso face à amplitude do problema, mas é nossa forte convicção de que só com pequenos grupos poderemos criar o ambiente afectivo e familiar desejado”.
Cada jovem encaminhada ao centro de acolhimento será recebida por uma equipa de apoio, constituída, até ao momento, por um psicólogo e um educador, de forma a facilitar a sua integração.

A segunda fase consiste na formação das jovens, tanto a nível escolar como profissional, através de parcerias com entidades de formação profissional e com escolas da região.

Até ao momento, a instituição já estabeleceu parcerias com a Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa; com o Colégio Diocesano de Santo António de Portalegre e com o Centro de Acolhimento do Sagrado Coração de Maria.

Segundo Rosário Nunes “a importância destas parcerias é evidente, pois para além de evitar uma estrutura macrocéfala, contribuem para a integração e interacção das jovens com o meio”.

Por último, a instituição pretende a integração das jovens na vida activa em empresas e instituições da região. Para tal, haverá um gabinete de inserção na vida activa e no mercado de trabalho que as apoiará no início da sua “nova vida”.

A base de todo este trabalho não se restringe a uma unidade de acolhimento ou à formação profissional de algumas jovens. Rosário Nunes esclarece que “o significado de tudo isto é muito mais abrangente, pois diz respeito à criação de um projecto de vida com jovens que, na maior parte dos casos, estão desesperadas e à beira de um precipício”.

Gravidez elevada no Alentejo

O Alentejo é uma região tradicionalmente marcada por uma elevada taxa de gravidez precoce acima da média nacional.

Elvas, Ponte de Sôr e Portalegre foram os concelhos que apresentaram o maior número de nados vivos de mães dos 15 aos 19 anos, segundo os últimos dados (2001). Já Évora e Ponte de Sôr foram as regiões onde se verificou o maior número de mães menores de 15 anos.
Para Dina Isabel, técnica do gabinete de apoio à sexualidade do IPJ de Portalegre, é fundamental olhar com especial atenção para a região do Alentejo. Portugal é o segundo país da União Europeia com o maior número de mães adolescentes e o Alentejo é a região onde aparecem mais. “Esta situação deve-se, a meu ver, ao facto das jovens iniciarem a sua vida sexual cada vez mais cedo e sem terem qualquer tipo de informação contraceptiva, e de pertencerem, maioritariamente, a um meio sócio -económico baixo”, esclarece.

Mães de palmo e meio

Muitas são as jovens que engravidam ocasionalmente ou porque assim o desejaram. Rita e Ana (nomes fictícios) foram mães aos 15 e 19 anos respectivamente. “Como ainda era uma criança, tinha a ilusão de que na primeira vez nunca se engravidava. Enganei-me redondamente”, refere Rita. Os pais do namorado aceitaram a gravidez, enquanto que os seus a expulsaram de casa. “Não tive qualquer apoio dos meus pais e quando a barriga se começou a notar tive que deixar de estudar porque tinha vergonha”, acrescenta. Passados três anos confessa que, por vezes, sente falta de sair à noite ou de ir às discotecas com os amigos, mas o filho está em primeiro lugar.
Já o caso de Ana é bem diferente, pois foi uma gravidez planeada, embora apenas da sua parte. “Tinha uma relação sólida com o meu namorado e por isso queria muito engravidar. Não usávamos qualquer contracepção, até que fiz um teste e deu positivo”, refere.
Quando contou ao namorado este pediu para que ela abortasse. “Disse que era muito novo para ser pai e que se eu não abortasse que me deixava”, conta Ana.

Com o apoio dos familiares, Ana teve o filho e hoje em dia a criança passa o fim-de-semana com o pai. “Não me arrependo de nada do que fiz. Aprendi muito com o meu filho e também a lutar sempre por aquilo que quero”, esclarece.