“Regime disciplinar tem excesso de burocratização das normas disciplinares"

O coordenador do curso de 1º ciclo da ESE defende que se deve acreditar mais na contextualização da acção pedagógica e educativa

A indisciplina e a violência estão a aumentar nas escolas portuguesas, segundo um inquérito publicado recentemente pela Federação Nacional dos Sindicatos da Educação.
Questionados sobre esta problemática, nove em cada dez docentes afirmam que os casos de indisciplina registados em estabelecimentos de ensino aumentou nos últimos anos.

Perante este quadro, David Justino, Ministro da Educação, refere que no próximo mês vai apresentar à Assembleia da República uma proposta de lei sobre o estatuto do estudante do ensino básico e secundário.
A proposta incidirá no código de conduta, no regime de assiduidade e no regime disciplinar.
Para o coordenador do curso de 1º Ciclo da Escola Superior de Educação (ESE), Hermenegildo Correia, o problema da indisciplina decorre de “crises familiares, de valores e de insegurança profissional”.
O professor considera ainda que o resultado de todas estas junções, reflecte-se no comportamento dos alunos nas escolas, podendo ou não ser aqui agravados.
O coordenador do 1º Ciclo sublinha também que o aumento da indisciplina passa por haver, cada vez mais, uma diversificação dos públicos que frequentam a escola, desde o ensino básico ao ensino superior, defendendo que esta diversidade não pode ser combatida de acordo com um só público.

Como exemplo, o docente refere que existem escolas que estão a procurar adequar-se a toda esta diversidade, integrando a sua cultura na acção pedagógica e educativa.
No entanto, de acordo com Hermenegildo Correia “o actual regime disciplinar tem excesso de burocratização das normas disciplinares”. Quanto ao reforço da autoridade dos professores nas escolas que o Ministro da Educação pretende implementar, o docente questiona-se se será o melhor caminho a seguir.

“Face ao estudo da Federação Nacional de Professores, à pergunta relativamente a uma mudança no estatuto dos alunos, só 12% dos professores a consideram uma boa solução para minorar a indisciplina e a violência”, acrescenta. “Acreditar mais nas metodologias, na contextualização da acção pedagógica e educativa, no investimento dos alunos como produtores de saberes ou na descentralização da escola”, são alternativas que Hermenegildo Correia aponta para um melhor funcionamento escolar e, por conseguinte, uma melhor entrega dos alunos à escola e ao meio envolvente.
No entender do professor da ESE, este é “um caminho muito exigente, mas também é aquele que é susceptível de gerar efeitos mais duráveis, em termos de educação.”