Elvas vai inaugurar parque de estacionamento com 240 lugares

Custou mais de três milhões de euros e vai permitir uma reorganização do tráfego em Elvas. O novo parque de estacionamento está quase pronto. Terá o nome do actual presidente de câmara e os comerciantes suspiram de alívio com o fim das obras.

O parque de estacionamento subterrâneo localizado na Praça da República, em Elvas, deverá ser inaugurado até ao final do mês, de acordo com a câmara local. O parque terá capacidade para 240 lugares distribuídos por três pisos, numa obra que custou cerca de três milhões e meio de euros.

Segundo o presidente da câmara de Elvas, Rondão Almeida, “o parque vem colmatar a falta de estacionamento para quem pretende demorar pouco tempo no centro histórico”.

O autarca refere que se “tem vindo a cumprir as fases de construção dentro do planeamento efectuado”. Quanto aos distúrbios provocados na população e nos comerciantes pelas obras acrescenta que “de uma maneira geral, os moradores da Praça da República e áreas envolventes têm tido uma boa compreensão pelos incómodos resultantes de uma obra desta envergadura”.
Com este parque de estacionamento pretende-se criar novos lugares de parqueamento na zona de maior comércio de Elvas, diminuir o número de carros a circular e a estacionar à superfície, deixar intactos o tabuleiro e o empedrado da praça e aumentar a área pedonal para melhorar as condições aos peões.
Numa primeira fase o parque não vai estar aberto 24 horas por dia, porém há serviço nocturno para quem quiser deixar o automóvel mais seguro durante a noite. Abre às sete horas e encerra à uma da madrugada, em horário de Verão e às 23 horas, no Inverno.

Quanto aos preços, a primeira hora terá um custo de 30 cêntimos, a segunda 40, e a partir da terceira hora, o custo está apontado para os 60 cêntimos. O cartão mensal para não residentes é de 85 euros e para os residentes é de 60 euros. Em relação ao tarifário, as opiniões divergem, há quem o considere barato e outros não, mas numa coisa estão de acordo, “é justo que se pague o parque, já que foi uma obra tão cara”, afirmou Maria Vicente, de 48 anos.

Para Luís Conceição, de 33 anos, o tarifário é um pouco elevado, “eu vou continuar a deixar o carro nos parques fora da cidade, porque paga-se apenas 30 cêntimos por hora, não importa quantas horas lá estamos”. “Aqui vai tornar-se caro se estivermos muito tempo, por isso não vou mudar os meus hábitos e os outros parques, também não são muito longe”, acrescentou.

Obras prejudicam comércio

As obras para a construção do parque decorrem em pleno centro histórico, num dos locais da cidade mais procurados para o comércio. Este facto acarretou alguns problemas aos comerciantes, pois muitos habitantes deixaram de se deslocar ao local por causa dos incómodos causados pelos trabalhos.

A Cervejaria da Praça foi o estabelecimento que mais sofreu com as obras, foi mesmo obrigada a encerrar.
Os outros comerciantes sempre foram vendendo, apesar de ser em quantidades mais reduzidas. Maria do Rosário, proprietária da loja Deo Nature - Centro Dietético, considera “as obras importantes, mas é claro que o comércio é sempre afectado com isso, notei uma descida nas compras, já que só se deslocam à minha loja os clientes habituais, deixou de ser um sítio de passagem”.
“No meu caso, os lucros reduziram, mas acho que não foi por causas das obras, o grande motivo é o aumento dos impostos”, explicou António Duarte, um dos proprietários do Café Vinagre. “Já que os meus clientes são sempre os mesmos há muitos anos e apesar do transtorno das obras vêm cá”, acrescentou.

Outro estabelecimento afectado pela construção do parque foi a Pastelaria da Praça. “O meu negócio foi mesmo abaixo, ganhava bem com a esplanada. A minha pastelaria fica mesmo aqui ao lado das obras e muitas vezes foi complicado por causa da entrada de pó e do ruído, houve dias sem condições”, lamentou Augusto Cordeiro.
“Algumas vezes tive que fechar a loja, porque o pó era muito e sai muitos dias daqui com dor de cabeça por causa do ruído”, disse Mariete do Nascimento, proprietária de um pronto-a-vestir. “O negócio reduziu, até tive que colocar as roupas em saldo, em fora de época”, acrescentou.

Com a conclusão das obras, os compradores vão poder estacionar a menos de cinco minutos a pé das lojas. “Tenho quase a certeza que virão muitas mais pessoas para esta zona e que o comércio vai estar em grande”, disse Mário Alberto, de 45 anos.

Rosa, proprietária de um pronto-a-vestir, explica o motivo pelo qual decidiu, abrir o mês passado, uma loja nesta zona. “Esta casa estava fechada, então decidi abrir esta pequena loja, já a pensar no futuro. Porque apesar de agora os clientes serem pouco, quando o parque estiver a funcionar, serão muitas as pessoas que aqui passarão e o negócio vai aumentar”.
“Espero muito sinceramente que todo o prejuízo que tive consiga recuperá-lo depois das obras estarem concluídas e que a partir dai sejam só lucros”, esclareceu Luísa do Carmo, proprietário de um pequeno comércio.

Parque com nome do presidente da câmara

O parque de estacionamento subterrâneo da Praça da República de Elvas vai chamar-se José António Rondão Almeida. A decisão foi tomada na reunião de 11 de Maio do executivo camarário elvense, realizada em Barbacena, depois da apresentação de uma proposta subscrita por todos os elementos do elenco, tendo sido aprovada por unanimidade.

O presidente da autarquia mostrou-se satisfeito com esta proposta, referindo que “era altura de deixar de lado a simplicidade, até porque em 12 anos de mandato no concelho de Elvas, nunca aceitei qualquer das diversas propostas que me foram apresentadas nesse sentido, não existindo até hoje nenhuma obra com o meu nome”.

O tabuleiro vai ficar igual

A construção de um parque subterrâneo foi vista pela maioria da população elvense como positiva. A grande preocupação das pessoas era o design da Praça da República, pois não queriam alterações.

“Há tantos anos que eu via o tabuleiro da praça aos quadrados e até gostava, não queria que o trocassem por outro mais moderno, porque aquele fazia parte da história de Elvas”, explicou Miguel Rodrigues, de 68 anos. “Fiquei muito feliz quando agora vi os calceteiros a meterem as pedras e o desenho a ficar igual”, acrescentou.

A superfície vai manter-se igual, as principais alterações verificam-se a nível dos bancos, que em vez de serem verdes são brancos, e da vegetação.

No início das obras as pedras foram retiradas cautelosamente, foram recuperadas e limpas para voltarem a ser colocadas. O empedrado tem três cores, o branco e dois tons de cinza.

“As dimensões do tabuleiro da Praça da República vão ficar iguais ao que eram, enquanto o desenho artístico do empedrado vai ser reconstruído. Tudo isto, porque as rampas de entrada e saída do parque subterrâneo foram planeadas e executadas para ocupar anteriores áreas de estacionamento”, explicou o presidente da câmara de Elvas.

Afinal a praça tem história

A Praça da República foi alvo de escavações arqueológicas no período entre Março de 2003 e Setembro de 2004, por causa das obras do parque pois este encontra-se em área abrangida pelas zonas de protecção da Muralha, da Igreja da Sé e dos Passos da Via sacra.

Um bairro islâmico, o esclarecimento das várias fases históricas do centro da cidade e a recuperação de objectos de uso comum dos povos que viveram em Elvas, foram os resultados das escavações.

Todos os dados recolhidos foram importantes porque até ao início das escavações arqueológicas não havia provas de como a Praça da República tinha evoluído ao longo dos tempos.

Após as escavações e as investigações foram identificados quatro grandes períodos cronológicos: a ocupação islâmica nos séculos XI - XII, da qual foi identificado um bairro. O segundo período prosseguiu até ao século XVI tendo sido encontrados silos, muros e canalizações. O terceiro período foi até ao início do século XIX, encontraram desta data as caves. A quarta e última fase começou no início do século XIX, altura em que foi construído o actual tabuleiro.

A investigação arqueológica esteve a cargo de três equipas de arqueólogos, Isabel Pinto, Ocrimira e a Ozecarus.

Os vários profissionais identificaram milhares de fragmentos de objectos de uso diário, como cerâmicas, pregos de construção, moedas, vidros, restos de ossos de animais, entre outros. Estes objectos estão agora a ser alvo de análise. Os de cerâmica foram todos lavados e sofreram uma operação de marcação, foi atribuído um número de inventário, o sítio de onde foi retirado e a camada estratigráfica.

De tudo o que foi descoberto (bairro, cisternas, caves e silos) nada ficou debaixo de terra. Conseguiram preservar dois elementos: uma cozinha do século XVII, com pavimento em tijoleira e um fogão com duas bocas. Estes elementos serão integrados no futuro Museu de Arqueologia de Elvas, onde será organizado um núcleo temático dedicado à Praça da República.

Está a ser também estudada a possibilidade de serem colocados painéis informativos nos acessos aos três pisos do parque de estacionamento subterrâneo. Na entrada de cada andar vão ser expostas em vitrinas algumas peças encontradas sobre a respectiva camada estratigráfica.
Os trabalhos de escavação decorreram em pleno centro histórico da cidade raiana, este facto despertou o interesse dos cidadãos. As pessoas acompanharam de perto os trabalhos até porque as áreas não estavam vedadas.