Serviços de acção social mobilizam “luta contra a tristeza”

Duas Sociólogas, uma Assistente Social e uma Gestora Agrária dão vida ao projecto de luta contra a pobreza “Ajudar a viver”. A ideia arrancou em 1999 em oito freguesias rurais do distrito de Portalegre. Apesar dos responsáveis fazerem um balanço positivo, o projecto vai terminar no próximo ano

Lídia Baptista é a principal responsável pela primeira parte do trabalho que se desenvolve em quatro áreas específicas: melhoria das condições económicas e de bem-estar, animação sócio- educativa cultural e recreativa e diagnóstico social nas freguesias rurais. 2750 inquéritos, distribuídos pelas oito freguesias rurais do distrito de Portalegre (Alagoa, Alegrete, Carreiras, Fortios, Ribeira de Nisa, Reguengo, S:Julião e Urra) resultaram num diagnóstico muito preciso das áreas mais carenciadas. “S. Julião é talvez a freguesia mais problemática, uma vez que apresenta a taxa mais alta de analfabetismo (36 por cento), é a segunda a sofrer de maior isolamento (25por cento) e onde a taxa de indivíduos superiores a 60 anos atinge quase os 50 por cento (48 por cento)”, explica Lidia Baptista. Quase todas as freguesias possuem uma taxa de 30 por cento de reformados, com excepção de S. Julião que atinge os 52 por cento. O isolamento e as acessibilidades acabam por ser as principais barreiras de condicionamento de todo o trabalho de equipa. “É sempre muito complicado, primeiro porque as pessoas já vivem isoladas e depois porque não é fácil chegar até elas devido às condições em termos de acessos”, diz aquela responsável. Promover e dinamizar actividades com as crianças, os jovens e os idosos é a rotina semanal de Isabel Afonso, Animadora Social, responsável pela área da animação sócio- educativa, cultural e recreativa das freguesias. “Gosto de andar nas freguesias, de estar na terra e ver o que faz falta às pessoas, só assim é possível ajudá-las”, refere. "Infelizmente o projecto vai terminar em 2003, lamenta Isabel Afonso. Até lá esta animadora social vai continuar a dinamizar as actividades com crianças, jovens e idosos, tendo sempre como objectivo último “a promoção da autonomia” refere.

«É preciso ter esperança para continuar»

O trabalho de Sandra Almeida está cheio de histórias como as da Maria José (nome fictício), vítima de um acidente rodoviário, vive isolada do mundo e da própria vida. O marido e o filho deficiente são as suas únicas companhias, para além dos ratos que agora vivem “mais à larga, já que o gato morreu”. “Esta senhora fala constantemente na morte, pois há muito que perdeu a esperança na vida”, refere Sandra Almeida. Na despedida não se esquece de agradecer. “Muito obrigada pela visita, Deus lhes dê muita saúde que eu já não presto para nada”. O difícil acesso atrasa o ritmo das ambulâncias que numa situação de emergência não conseguem chegar a tempo. “A ideia central deste projecto é dar algum conforto, já que não podemos ajudar em muito mais, mas aqui apesar das dificuldades as pessoas dão mais valor às coisas, talvez por estarem perto do que nasce, cresce e morre”, diz a sorrir Sandra Almeida. Pelo menos três vezes por semana percorre as freguesias para dar algum conforto e “ver se está tudo bem”, para além de dinamizar a agro-pecuária através de cursos de formação ou acções de sensibilização. Os resultados são visíveis e revelam a melhor forma de lutar contra a tristeza das famílias mais carenciadas. “O facto de nós consertármos o galinheiro, a pocilga, reconstruir-mos o telhado da casa ou fazer uma pequena pintura é motivo de alegria, mais que suficiente, para estes agricultores”. Frases como “Sandrinha não se esqueça da gente” ou “Quando é que nos arranja mais uns tijolos para acabar a obra”, revelam uma humildade comovente bem expressa nas palavras de Sandra Almeida. “Apesar de já lidar com estas situações há muito tempo, nem sempre é fácil partir. É curioso mas às vezes passo aqui ao fim de semana só para ver como eles estão”.

«Não tenho perfil para fazer de secretária»

Eugénia Alves faz de tudo um pouco “para que as pessoas possam ter uma vida melhor”, porque apesar de este projecto ter um orçamento de 80 mil euros, nem sempre esta verba é suficiente. Depois de um diagnóstico específico, as famílias são acompanhadas ou encaminhadas para outras entidades, nomeadamente a comissão de acompanhamento de menores. “Nestas freguesias as pessoas sofrem das carências mais básicas: falta electricidade, água e saneamento básico, São Julião, Reguengo e Fortios são as situações mais preocupantes”, refere. As melhorias habitacionais, a atribuição de equipamento doméstico, instalação de luz e água e acções de sensibilização para a saúde são algumas das garantias já conseguidas na área da melhoria das condições de bem estar. E ninguém melhor do que Eugénia Oliveira para descrever o que se ganha quando se faz este tipo de trabalho. “Ganha-se muito, a maneira como as pessoas nos agradecem é extremamente gratificante e compensatória”.