Portugal vive a pior crise económica desde a I Guerra Mundial diz Silva Lopes

Portugal está a passar pelo pior empenho económico desde o fim da primeira grande Guerra. A opinião é de Silva Lopes, economista e ex-governador do Banco de Portugal. Além disso, disse, desde 2000 que somos um dos países da UE que menos cresceu.

O período económico desta primeira década do século XXI é o pior desde o final da primeira Guerra Mundial, defendeu o economista Silva Lopes durante a conferência “Nova Ordem Financeira e Económica” organizada pelas fundações INATEL e Mário Soares que decorreu na última semana em Portalegre.

“Portugal nesta primeira década do séc. XXI está a passar pela pior fase de empenho económico desde o fim da primeira guerra mundial”, referiu Silva Lopes que defende que para recuperar a economia “não podemos aumentar o consumo e a despesa sem aumentar a produção”.

Para o economista e ex-governador do Banco de Portugal, José Silva Lopes, durante esta década fomos, em conjunto com a Itália, o país que menos se desenvolveu. “De 2000 até agora, não só tivemos o pior crescimento económico, como fomos o país da União Europeia juntamente com a Itália que menos cresceu”. De acordo com Silva Lopes, Portugal e Grécia são os países da Europa que mais se endividaram desde os últimos 20 anos. O economista refere que “andamos há 20 anos a viver do que os estrangeiros nos emprestam. Não é pouco, é cerca de 10% daquilo que gastamos”. O economista disse ainda na conferência que “a nossa dívida externa é cerca de 100% do PIB do que produzimos num ano”.

“Muita gente quer gastar mais dinheiro, ganhar mais, ter pensões melhores, eu concordo, mas o problema é saber com que dinheiro?” questionou. Por enquanto é com o dinheiro dos outros, dos empréstimos, “e quando não nos emprestarem como é que é?”.

Falta produtividade

Contudo, “a economia portuguesa não cresce porque não conseguimos aumentar a produtividade”, considera o economista.
Para resolver os problemas económicos do país, “tenho umas ideias, precisávamos de uma melhor justiça, de empresários dispostos a arriscar”, diz Silva Lopes. “Gostava muito de poder tirar daqui uma coisa da algibeira e dizer nós devemos fazer isto e aquilo. Mas como isso não acontece, pode ser que haja um milagre”. Alguns dos problemas económicos e financeiros de Portugal têm a ver com os sistemas de justiça e de educação. O economista defendeu que “temos uma justiça que é nitidamente um obstáculo ao crescimento económico do país, e a nossa educação é a pior dos 27 países da União Europeia”.

O ex-governador do Banco de Portugal considerou ainda que “neste país tudo funciona mal, ou melhor quase tudo”. Actualmente, o desemprego em Portugal é de cerca de 8%, o que para o economista “é um flagelo político, aliás é a pior coisa que há em Portugal neste momento”.
A taxa de desemprego para o ano de 2010 está prevista para 10%, o que segundo o antigo Governador do Banco de Portugal “é muito grave”.

Em relação aos impostos, o economista considera que “o governo não deve aumentá-los, mas baixar também não”. “Aumentar as despesas é eficaz, mas nem todas as despesas são uma boa opção”, referiu.

Salvação europeia

José Silva Lopes lembrou que “em 1991, Portugal esteve em bancarrota. É claro que desta vez isso não vai acontecer, porque antes de chegarmos a essa situação a União Europeia toma conta de nós”. Todavia, afirma que “impõem condições e nessa altura é que vamos ver o que dói”.
“Eu sou um bocado pessimista, e ficaria muito satisfeito se alguém me provasse o contrário, contudo quando comparo as minhas previsões com aquilo que acontece, chego à conclusão que fui um optimista incorrigível”.

Silva Lopes, conclui que “a chave de tudo isto no crescimento económico e a gente não sabe como por o país a crescer”.

O Presidente do INATEL, Vítor Ramalho, diz que “esta conferência insere-se num conjunto de conferências que a Fundação Mário Soares e a INATEL têm vindo a desenvolver por todo o país, e que terminarão em Março do próximo ano”.

Vítor Ramalho explica que “a razão para estas conferências é simples. Como nós vivemos numa situação de crise de natureza estrutural, entendemos que se justificava procurar respostas aos novos desafios que o mundo está a confrontar”.

 

Ver galeria de imagens