ESEPTV - Peças
03/02/2016 - 14:40
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Numa semana em que se assinala mais um Dia do Instituto Politécnico de Portalegre, o presidente da instituição, Nuno Oliveira fala dos projectos e frustações do estabelecimento de ensino superior do interior do país que registou o maior número de entradas de alunos na primeira fase de candidaturas. Nuno Oliveira lamenta que alguns projectos essenciais não tenham obtido financiamento no âmbito do PIDDAC e anuncia que o IPP vai apostar em mais dois mestrados.
Quais as principais dificuldades com que o Instituto Politécnico de Portalegre se debate? Pensa que o Ensino Superior Politécnico possa ter vindo a ser privilegiado ou negligenciado face ao ensino superior universitário?
Teoricamente, a área de influência do Instituto Politécnico de Portalegre deveria ser o distrito de Portalegre, onde, em comparação com outros distritos, apenas existem 8 escolas do ensino secundário.
Quanto mais escolas existirem com turmas de 12º, mais alunos existem. Portanto, maior é a capacidade de atracção da instituição desse distrito em captar esses alunos. O nosso mercado reduz-se a 8 escolas, das quais haverá uma média de 3 turmas do 12º ano, sendo que cada uma terá à volta de 25 alunos, somando assim um total de 600.
Cerca de metade desses alunos não segue os estudos, reduzindo-se a 300. Partindo do princípio que metade desses alunos procuram o politécnico de Portalegre, ficamos reduzidos a 150. Este ano entraram cerca de 700 alunos no IPP.
O Instituto Politécnico de Portalegre apesar deste tratamento de discriminação negativa a que é sujeito ainda vai buscar a outros distritos mais de 500 alunos. Isto diz bem das fragilidades com que nos debatemos. Portanto, é importante que o IPP possa oferecer factores de ordem positiva em termos das suas infra-estruturas, da qualidade de ensino que ministra, do equipamento que disponibiliza aos alunos e das instalações.
Ora, isso não pode acontecer quando tenho uma Escola Superior Agrária de Elvas que está sem instalações próprias há sete anos e que tem dinheiro para fazer obras no quartel do Trem, que é do IPP, mas no qual o governo, bem como o Ministério da Ciência e do Ensino Superior me proíbe de efectuar essas obras. Mais, paga-me para eu não utilizar porque o dinheiro está aplicado na Direcção Geral do Tesouro que é do Estado.
O Estado renumera o IPP para este não gastar esse dinheiro em obras de adaptação do Quartel do Trem. São estas as contradições com que nos debatemos.
Tem-se registado alguma diminuição no número de alunos a entrar no Instituto Politécnico de Portalegre?
Não. O número de vagas que foi atribuído ao IPP este ano foi negociado por mim com o Senhor Ministro, sendo posteriormente negociado pela minha pessoa com as escolas.
Eu tinha 713 vagas para distribuir pelas quatro escolas do Instituto, sendo que tinha de respeitar determinados princípios. Teria que dar primazia às engenharias, à saúde e às artes. Aí poderia pôr um número de vagas mais elevado.
O que sucedeu foi que, mesmo assim, o número de alunos de Educação de Infância e de 1º ciclo foi ainda superior à que tradicionalmente era, pois eram só de 25. Houve um ano em que conseguimos abrir duas turmas do 1º ciclo, mas fomos posteriormente proibidos de o fazer.
E, portanto, nós a nível da Comissão Permanente, ouvidos que foram os respectivos Conselhos Científicos, face às limitações que nos foram estabelecidas pelo Senhor Ministro, entendemos que deveríamos respeitar e fazer uma aposta nessas áreas.
Mesmo assim, o único curso no qual nós tivemos problemas e onde continuaremos a ter (e que não foi um problema apenas da ESE de Portalegre, mas de todas as ESE) diz respeito às variantes de Português – Francês, Português – Inglês e, no ano passado, com o curso de Matemática e Ciências, sendo que este ano, tiveram problemas com a variante de Educação Visual e Tecnológica.
Portanto, se agarrarmos nos mapas de colocação de alunos da 1ª fase nas várias ESE’s do país, vamos reparar nisto. Existe neste momento uma desatracção na procura desses cursos. Eu acho, e essa é a medida estratégica que vai ser tomada em relação à ESE, que é necessário encontrar uma alternativa que faça com que nós não estejamos a falar exclusivamente de educação, de formação de professores, mas que estejamos a falar de algumas actividades, algumas profissões afins.
É essa a nossa aposta. É com isso que nós nos vamos preocupar. Mas isso implica que a ESE, tal como a Agrária e a ESTG reequacionem as suas estratégias porque, contrariamente àquilo que seria desejável neste país, os alunos, talvez por motivos que estão relacionados com aspectos de ordem cultural e social, direccionam mais as suas procuras de cursos para as Humanidades do que para as áreas das ciências exactas, onde predominam a Matemática e a Física.
Mas isto tem a ver também com os tais aspectos de ordem cultural e social que referi. Por exemplo, no curso de Engenharia Electromecânica, que tem muitas saídas profissionais, entraram três alunos na primeira fase, portanto há aqui alguma coisa que se passa na sociedade portuguesa que nós não conseguimos explicar, mas que tem a ver com aspectos de ordem social, estatuto e de ordem cultural.Se calhar é menos importante para as pessoas que se suje as mãos, que se “meta as mãos na massa” quando é necessário fazê-lo, do que vestir fato e gravata e querer ser o senhor doutor ou professor. É este o problema que existe na sociedade portuguesa.
Quanto à ESE, os seus dirigentes estão atentos a esse problema.
Em que critérios se baseia o IPP para o estabelecimento do valor das propinas?
De acordo com a legislação, as escolas é que definem o valor das propinas e é compreensível, mas esse valor deveria ser fixado porque da mesma maneira que nós sabemos quanto custa um aluno no curso de Jornalismo e Comunicação, também se sabe, em média, qual é o custo de um aluno no curso de Engenharia Informática.
As propinas foram fixadas no âmbito da decisão da Comissão Geral do Conselho Permanente do Instituto porque o custo de um curso de “lápis e papel” é diferente do que se gasta com um de engenharia, de saúde.
Além disso, um curso de engenharia exige uma maior divisão das turmas e uma consequente necessidade de um número de professores mais elevados.
Apesar do aumento das propinas, as bolsas não aumentaram. Mas há rumores de que o governo possa vir a aumentar as bolsas. Acredita nesta possibilidade?
A bolsa média do IPP ronda os 23 contos. Aquilo que existe como promessa do ex-Ministro Pedro Lynce, e da actual Ministra é de que, para os alunos que tenham necessidades a bolsa será, pelo menos igual ao valor das propinas, para que eles não fiquem prejudicados.
Não é que o IPP ou qualquer outro instituto seja obrigado a aumentar as bolsas, não é essa a indicação que temos. O que temos é a garantia afirmada publicamente de que nenhum aluno ficará de fora do sistema por razões de ordem financeira.
De onde provém o valor das bolsas?
O dinheiro das bolsas está incluído no orçamento dos Serviços de Acção Social e são controlados através do Fundo de Apoio ao Estudante.
Que projectos poderão ser implementados a curto e a longo prazo?
Tantos! Um projecto que não tem uma dimensão de maior, mas no qual eu aposto muito, tem a ver com a instalação nos Serviços Centrais da cantina central, cujo concurso já foi aberto, mas tivemos de o suspender porque não temos verbas do PIDDAC.
Este projecto permitirá, para além da cantina central, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo, um bar, uma esplanada sobre a cantina e uma biblioteca que nós esperamos que seja virtual e que, embora tenha também livros, nos possa ligar em rede com outras bibliotecas e ser um espaço que possa ser utilizado pelos alunos.
Isso leva a que possamos libertar o espaço da cantina da ESE para outros fins necessários. Outro grande projecto, no qual eu deposito ainda algumas esperanças tema a ver com o Quartel do Trem, com o dotar a Escola Agrária de Elvas de novas instalações.
E este de facto é o grande projecto porque o IPP tem de dar um empurrão no desenvolvimento. A transferência para Elvas de uma extensão da ESTG e da ESEnf se pudesse ser transformada em Escola de Saúde seria também extremamente importante.
Na ESE há uma preocupação com as infiltrações que, apesar de algumas terem sido já resolvidas, deixam ainda outras a solucionar.
O que é que aconteceu com os novos cursos propostos para a Escola Superior de Educação?
Conseguimos fazer a remodelação do curso de Jornalismo e Comunicação, o que já foi importante. Mas a ESE é uma escola para estabilizar nos mil alunos. Iremos apostar, como já se verificou, na abertura de mais um ou dois mestrados, isto enquanto os Institutos Politécnicos não puderem, eles mesmos ministrar esses mestrados, o que não se percebe.
De que modo pensa poder estar o IPP a contribuir para o desenvolvimento da região de Portalegre?
Por vezes a população portalegrense esquece-se de que as pessoas ligadas ao IPP vêm, muitos deles de outras partes de país e que, muitos deles se fixam aqui, e o problema demográfico que existe em Portalegre é um problema sério e que pode e tem vindo a ser resolvido pela presença dessas pessoas aqui em Portalegre.
Isto, já para não falar das elevadas quantidades de dinheiro que estas pessoas injectam aqui. As pessoas e os dirigentes ainda não foram capazes de interiorizar a importância de ter uma instituição desta natureza numa cidade do interior.
De um modo geral, que balanço pode fazer acerca da actual situação do IPP?
Não me compete a mim fazer um balanço, mas aos alunos e a todas as pessoas ligadas ao Instituto.
Mas posso dizer que sofri alguns dissabores, ao verificar que não existia nenhum dos projectos apresentados pelo IPP aprovados no PIDDAC, ao ver que, em dez juntas de freguesia às quais foi lançado um desafio relacionado com projectos de animação cultural nas escolas, apenas um esteve presente.
Actualmente qual a projecção do IPP a nível nacional? Existem algumas medidas a ser tomadas com vista a aumentar ou melhorar essa projecção?
Muito bem! Não obstante as grandes limitações que temos, eu posso dizer que foram apenas quatro (Lisboa, Porto, Leiria e Setúbal) os politécnicos que ficaram à frente do IPP na colocação de alunos na primeira fase. Não houve nenhum politécnico nem nenhuma universidade do interior que ficasse à nossa frente na colocação de alunos.
Em termos do ranking nacional o IPP ficou colocado em 14º lugar e a Universidade de Évora em 22º.
Relativamente a medidas para melhorar a projecção do IPP, estou a preparar um projecto ambicioso em articulação com entidades do meio empresarial, do qual não posso ainda falar.
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