ESEPTV - Peças
03/02/2016 - 14:40
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Dentro de dois anos o imóvel Robinson vai começar a sofrer modificações para dar lugar a um centro cultural de múltipla intervenção. A ideia do projecto partiu da administração da fábrica e, mais do que preservar o património arqueológico-industrial e salvaguardar as memórias, o objectivo é levar as pessoas a serem uma componente activa do espaço.
Através do aproveitamento das estruturas conventuais do século XIII e do espólio industrial acumulado desde o início do funcionamento da corticeira pretende-se criar um centro cultural dinâmico e inovador.
“A nossa preocupação não passa só pela criação de um museu, o objectivo é criar um espaço diferente, onde cada um possa construir um atelier, uma taberna ou uma loja de produtos regionais”, esclareceu Manuela Mendes, directora-geral da Robinson. No entanto, este projecto não pode ser visto só do ponto de vista material e comercial. “Existe uma mensagem que não se reflecte nas paredes nem nas antiguidades, que é o facto de termos aqui as memórias de uma população inteira”, acrescentou aquela responsável.
Para gerir este projecto está a ser criada a Fundação Georges Robinson, um organismo formalizado pela administração da fábrica e ao qual já se associaram a Câmara Municipal e o Instituto Politécnico de Portalegre. Paralelamente a estas entidades vai intervir o Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar) que classificou o espaço Robinson de Património de Interesse Público, em Maio do ano passado.
Esta classificação fez com que se “abrissem novas portas” à concretização do projecto, primeiro porque o Ippar já destacou o arquitecto Souto Moura para a revitalização do espaço, depois porque “sendo a Robinson agora um imóvel de interesse público podemos beneficiar da componente de preservação do edifício, recorrer a programas comunitários e sermos financiados por fundos públicos”, referiu Manuela Mendes.
Dada a necessidade de sensibilizar as pessoas para a preservação destes patrimónios industriais e de tornar o projecto “o mais profissional possível”, a administração da Robinson vai deixar o plano gráfico para divulgação a cargo de um grupo de ex-alunos da Escola Superior de Tecnologias e Gestão de Portalegre. Trata-se de um trabalho académico de final de curso que tem como função “alertar a população para a existência de um espaço com potencialidades enormes e injectar uma nova energia na sociedade portalegrense”, referiu Mafalda Almeida, co-autora do trabalho.
Uma fábrica com história
Instalada parcialmente no convento franciscano mais antigo de Portalegre (ano de 1270), a Robinson é a fábrica que mais referências assume na população de Portalegre. Embora tenha iniciado a sua actividade há quase duzentos anos pela iniciativa de uma outra família, os Roynolds, a corticeira deve os seus êxitos aos Robinsons. À medida que as quatro gerações desta família foram passando pela fábrica, as alterações ao imóvel foram aumentando e, consequentemente o número de trabalhadores. Em 1900 contava com 2500 operários e, apesar da corticeira passar por momentos menos favoráveis em termos financeiros, “os Robinsons nunca deixaram de pagar os ordenados a tempo e a horas”, comentou Manuela Mendes.
Num relatório de 1881, quando a corticeira foi visitada pelos inspectores do Estado e pelo rei D. Carlos, era dito que os operários da Robinson eram dos mais bem pagos do país. Este sintoma de crescimento proporcionou nesta altura novos métodos de produção e maquinaria mais avançada, criando condições para a saída dos produtos do país para concorrerem nos mercados mundiais.
As décadas de 20 e 30 levaram a fábrica ao declínio, quando um incêndio causou enormes prejuízos e um grande número de dívidas começou a ser acumulado. No entanto, isso não fez com que se perdessem as antiguidades nem se quebrasse a acumulação do espólio. Actualmente, existem guardados para cima de seis mil documentos escritos, fotografias com mais de cem anos, prensas e todo o tipo de materiais industriais do início da actividade corticeira.
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