ESEPTV - Peças
03/02/2016 - 14:40
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Quatro novos parques de estacionamento, um Centro Coordenador de Transportes a substituir a actual rodoviária e autocarros eléctricos no interior da cidade são algumas das novidades que o executivo de Portalegre pretende introduzir nos próximos quatro anos. Entretanto as ligações ferroviárias e rodoviárias continuam a ser muito criticadas e o TGV não será a “cura de todos os males” de Portalegre.
Câmara Municipal de Portalegre (CMP) tem previstas alterações significativas no que diz respeito aos acessos rodoviários à cidade. Um primeiro problema que se coloca relaciona-se com o trânsito, que constitui um “quebra-cabeças” para muitos, nomeadamente, quanto à dificuldade de conseguir estacionamento. Nesse sentido, está prevista a construção de parques de estacionamento na periferia do centro histórico da cidade, nos seguintes locais: junto à Praça da República, próximo do local onde se situa a actual Cerci será construído um parque de estacionamento subterrâneo com capacidade para 150 a 200 lugares. Na encosta de S. Pedro será construído outro local para estacionar automóveis, também na zona do Jardim da Corredora, será criado um outro parque de estacionamento subterrâneo de dois pisos junto ao edifício da Fábrica Real, onde se situarão as futuras instalações da CMP.
Por outro lado, o próprio Jardim da Corredora, ao longo da Avenida George Robinson, será intervencionado no sentido de recuar o muro que delimita o espaço verde, de maneira a transformar a linha de estacionamento para a forma de espinha, o que, segundo António Biscainho, duplicará o número actual de lugares para estacionar os veículos.
Apesar destes planos municipais, há ainda quem considere que o número de estacionamentos disponíveis não será suficiente. A isso, António Biscainho responde da seguinte maneira: "Pelo contrário, serão mais que suficientes. Conforme o estudo de trânsito realizado para a CMP, haverá mais lugares do que aqueles que serão necessários. Agora, o problema está em que as pessoas querem levar o seu carro até à porta. Portanto, esta também é uma questão de mentalidades. As pessoas têm que se convencer que não faz mal andar a pé uns metros".
O centro histórico ocupa uma área significativa de Portalegre e, sendo uma cidade onde a afluência turística é elevada, a circulação de veículos nas ruas estreitas (situação agravada pelo relevo acidentado da cidade) dificulta a movimentação de pessoas nas vias do centro de Portalegre. Uma solução para esta situação poderia passar pela limitação do trânsito a veículos de duas rodas, moradores e peões.
António Biscainho diz que o estudo de trânsito realizado para a CMP prevê e equaciona a hipótese de a circulação ser cortada na zona que vai desde a Praça do Município até à Praça da República.
Viagens de “Gulliver” superam expectativas
Para que todos este planos relativamente aos acessos rodoviários a Portalegre possam funcionar correctamente e terem a aprovação da população, torna-se necessária a existência de uma eficiente ligação de transportes de superfície no interior da cidade. Neste sentido, a CMP e os Serviços Municipalizados de águas e Transportes com a organização da Associação Portuguesa de Veículos Eléctricos (APVE) e da Direcção Geral de Transportes Terrestres (DGTT), estão a promover, a nível experimental para já, até ao 31 de Maio, a utilização de um meio de transporte alternativo – o mini-autocarro eléctrico, designado por Gulliver, que é especialmente concebido para a circulação em centros urbanos.
O Gulliver tem capacidade para 22 passageiros sentados e atinge uma velocidade máxima de 33km/h. Com esta iniciativa, as entidades por ela responsáveis pretendem "demonstrar que as soluções tecnológicas alternativas (gás e electricidade, para carreiras de autocarros, táxis e outras formas de serviço público) existem e esperam uma oportunidade para serem aplicadas". Em Portalegre, e nesta fase experimental "a adesão das pessoas a este meio de transporte está a ser superior ao que esperávamos, embora tenhamos de contar com o factor curiosidade que é natural nestes casos. A gestão e a autonomia desses veículos contribui para o seu sucesso", constata António Biscainho. O vereador prevê que, em finais de 2004, estes mini-autocarros estejam prontos a funcionar em pleno em Portalegre.
Outra novidade no sector dos transportes em Portalegre consiste na construção de um Centro Coordenador de Transportes que substituirá a actual Rodoviária de Portalegre, e que ficará situado no local inferior às Piscinas Municipais. O prazo para este empreendimento ronda os próximos três ou quatro anos, estando a CMP em negociações relativas à compra do terreno. Sendo assim, o espaço da actual Rodoviária será, segundo António Biscainho, aproveitado para mais um parque de estacionamento.
IC 13 aprovado
No que às estradas de acesso rodoviário a Portalegre diz respeito, destacam-se as obras no Itinerário Complementar (IC) 13, que já foram aprovadas pelo Ministério das Obras Públicas e Transportes, e que visam a construção de uma nova variante que ligue, por um lado, a estrada de Fortios e, por outro lado, a estrada a sul da estação de caminhos de ferro, e que se encontram em concurso público a fim de ser adjudicado ainda este ano.
Este empreendimento vai conduzir à desclassificação da actual variante, sendo que esta passa a integrar a zona urbana da cidade. Recorde-se que, no passado dia 15 de Fevereiro, José Vieira de Castro, secretário de Estado das Obras Públicas, garantiu o começo das obras no IC13 até ao final deste ano. Nessa altura, também ficou garantido pelo responsável governamental, já para o mês de Junho, o início das obras de beneficiação da Estrada Nacional 246 (sentido Alpalhão – Castelo de Vide) e 245 (sentido Alpalhão e Sousel). Para António Biscainho, a vantagem desta mudança reside, precisamente, "na aproximação dessa via para a utilização por parte da população, além de contribuir para o descongestionamento do trânsito no interior da cidade". O edil garante ainda que durante toda a fase de preparação do Plano de Urbanização de toda a encosta poente estiveram contemplados todos os mecanismos de participação da opinião pública. "Durante a primeira fase, houve a recolha de sugestões através da publicação de editais e outros documentos. Posteriormente, quando passarmos à fase de pré-aprovação desse mesmo plano, decorrerão sessões de esclarecimento públicas".
Estação de comboios: «pescadinha de rabo na boca»
O comboio continua a ser um transporte pouco utilizado pelos portalegrenses e por quem viaja com destino a esta região. Isto porque o seu quase inexistente desenvolvimento e o grande distanciamento em relação à cidade fazem com que esta não seja uma alternativa de transporte bem vista pelas pessoas em geral. "A estação foi construída há vários anos e o seu prolongamento até à cidade é impossível", refere António Biscainho. Além disso, sustenta o autarca, esse assunto "é uma pescadinha de rabo na boca, pois não há utilização suficiente do comboio, logo não há uma rede de ligações de transporte consistente para a estação e, como não há uma boa ligação de autocarros à estação, não há utilização dos comboios por parte das pessoas. Portanto, estamos num ciclo vicioso do qual ainda não conseguimos sair".
O responsável adianta ainda que, de tempos a tempos, a CMP exerce alguma pressão sobre a Setubalense, empresa que tem a seu cargo os transportes rodoviários relativos à cidade de Portalegre, mas esta "queixa-se que não pode criar ligações que não tenham um número definido e constante de clientes, pois isso iria trazer óbvios prejuízos, como ficou demonstrado em experiências realizadas no passado".
Esta situação relativamente aos acessos ferroviários para Portalegre não é bem vista pela população estudantil de Portalegre, pois muitos estudantes gostariam de ter condições para utilizar, de modo frequente, os comboios.
Bilhete é mais barato
João Esteves, estudante de Jornalismo e Comunicação, utiliza, actualmente, o transporte ferroviário para se deslocar, aos fins-de-semana, para Queluz, porque "o bilhete é mais barato, a viagem é menos cansativa, mais confortável e mais curta do que a viagem de expresso. Por isso compensa ir de comboio. Vai-se muito mais à vontade". As linhas ferroviárias de Portalegre são da responsabilidade da empresa Refer e os serviços de comboios estão sob a tutela da CP- Caminhos de Ferro Portugueses.
Para António Biscainho, a razão pela qual estas duas empresas não investem mais na linha de leste do país estará relacionada com a rentabilização que esta lhes poderá proporcionar. "Essas empresas é que fazem os estudos que mostram se vale a pena ou não investir em determinada zona. Pelos vistos, parece que, no nosso caso, não é rentável para essas empresas", considera António Biscainho.
Nenhuma das duas entidades se disponibilizou para falar ao ESEPJornal.
Com efeito, as ligações por expresso são alvo de algumas críticas por parte dos estudantes de Portalegre enquanto frequentadores muito assíduos deste tipo de transportes. Eduardo Cheis diz que já lhe sucederam casos em que, após ter adquirido bilhete, apercebeu-se que não tinha lugar no autocarro respectivo.
"O conceito de «expresso» está completamente deturpado, pois as viagens são muito longas, os bilhetes são muito caros e as viagens incluem inúmeras paragens", refere.
Mas as críticas não se ficam por aqui: horários «enganadores» ou «pouco específicos» quanto às terras pelas quais o expresso passa ou quanto às horas de partida e chegada, são outros erros que Eduardo Cheis identifica nas ligações rodoviárias a Portalegre. "É um problema generalizado, pois também as ligações às localidades próximas de Portalegre é deficiente. Já me aconteceu ter que ir para Alegrete dar aulas, de manhã, e não ter autocarro para me deslocar. Tive de ir de táxi para uma viagem de cerca de 20 quilómetros". Tanto a Rede Expressos, como a Rodoviária do Alentejo não se disponibilizaram para prestar declarações.
Falando de viagens e de transportes, tem que se referir a novidade do TGV, mas António Biscainho relativiza a questão. "Os trabalhos, neste momento estão parados. Por um lado, o Governo Espanhol já decidiu que o TGV passará pelo corredor do Caia, com paragem nas Estações de Elvas/Badajoz, por outro lado, o Governo Português ainda não se decidiu quanto ao local de passagem. Nós, naturalmente, achamos importante a passagem pela alternativa escolhida por Espanha. Afinal, é sempre bom o TGV passar aqui perto, mas as vantagens que trará não serão assim tão grande como, às vezes, há tendência para pensar; não será o TGV a dar-nos o tal “empurrão” que tanto precisamos».
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