ESEPTV - Peças
03/02/2016 - 14:40
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Os professores, pela reduzida dimensão desta escola, vêem as suas vidas cruzarem-se com as dos restantes docentes não só a nível profissional, mas também num cenário de relações sociais e humanas. O espírito de equipa entre os docentes nem sempre é algo que está aos olhos de todos, apesar de o trabalho colaborativo contribuir para a interdisciplinaridade dos cursos e para o sucesso de toda a comunidade escolar.
“Creio que existe espírito de equipa entre professores que trabalham muito próximos, como acontece com os colegas de gabinete”, respondeu prontamente Teresa Coelho, docente de Línguas Estrangeiras (Francês) desta Escola. No entanto a professora reconhece ainda que “as pessoas procuram trabalhar com quem têm mais afinidades. Apesar de que existem situações em que, apesar das orientações profissionais serem diferentes, os docentes acabam por trabalhar em conjunto, como são os casos do Conselho Pedagógico e da Assembleia de Representantes.”
“É difícil nas escolas desenvolver um projecto que englobe a participação de todos os professores,” diz ainda a professora que já dá aulas na ESEP há cerca de 15 anos. Teresa Coelho mostra a sua compreensão perante situações em que o espírito de colaboração não marca presença no quotidiano da docência do ensino superior de Portalegre. “O que dificulta a formação deste espírito de equipa é a sobrecarga e a acumulação de um grande número de funções. O tempo para estar com os outros na concepção de trabalhos é muito limitado.”
Ensino superior depende do trabalho colaborativo
Para o Presidente do Conselho Executivo da ESEP, Albano Silva, “a escola, neste momento, já possui cerca de 80 docentes. É normal que estes não estabeleçam entre si, relações de forte amizade. Apesar de que nesta escola, pelas características familiares e de crescimento que foi tendo ao longo dos anos, acaba por haver um conhecimento grande entre as pessoas. Até porque uma escola, principalmente, no nível superior, só pode funcionar com um espírito colaborativo entre os professores.” Para a presidente do departamento de Ciências Sociais e Humanas, Maria João Mogarro, “o espírito de equipa é uma atitude profissional desencadeada por mecanismos que implicam a cooperação entre os professores”.
A docente vai mais longe quando salienta a necessidade de “aprofundar a relação de professores de áreas diferentes no sentido de permitir uma melhor coordenação dos programas, disciplinas e actividades. É um trabalho lento que pressupõe uma cultura de escola diferente”.
Mais uma vez a ausência de disponibilidade dos professores é a causa apontada para as falhas que têm sido cometidas neste campo social, humano e profissional.
“O número de professores desta escola é reduzido, sendo estes chamados a desempenhar tarefas muito diversificadas, o que envolve muito esforço por parte destes docentes, no sentido de preservarem a qualidade da docência.”
A presidente do departamento da Língua e Literatura Portuguesa, Isabel Vila Maior está na ESEP há cerca de 19 anos e reconhece que “é um pouco difícil por questões de tempo, trabalharmos em equipa. Apesar de que quando há vontade, tudo corre pelo melhor. Tenho tido bons resultados no meu departamento que se mostra bastante unido e coeso.”
Competitividade marca presença no quotidiano dos docentes
Sobre a competitividade entre os docentes Albano Silva, considera que “esta escola tem um quadro que está praticamente preenchido. Noto que existe um pouco de competitividade entre os professores, mas creio que não se reflecte nas relações pedagógicas que estes estabelecem com os seus alunos.”
Professora na Escola Superior de Educação há 19 anos, Maria João Mogarro encara a competitividade como um fenómeno “que existe em qualquer organização social. O que tem que ser claro é que os professores estão posicionados relativamente aos outros em função de um conjunto de critérios definidos pelo estatuto da carreira docente que devem ser respeitados.”
Para Teresa Coelho, a competitividade evidencia-se mais quando “há uma vaga para determinado cargo e existe mais do que um docente com o perfil académico para ingressar essa função. Não esquecer que esta pode ter aspectos negativos, mas também positivos. Creio que existe competitividade entre os professores da mesma forma com que esta acontece entre os alunos”.
“Não sei se existe competitividade. No meu departamento, creio que não, por isso só posso falar do que sei”, disse Isabel Vila Maior. A participação nas actividades extra-curriculares extrapola as competências da docência de um professor do ensino superior, muito embora se tenha verificado que o factor tempo, continua a ser a causa apontada para a participação dos professores neste tipo de actividades.
O presidente desta escola lamenta o facto de o número de professores interessados em assumir projectos extra-curriculares seja mínimo. “Não posso explicar estes números reduzidos, pois também gostaria de ter respostas nesse sentido. Não compreendo quando vejo tantos professores dos respectivos cursos mostrarem o seu desinteresse face às Jornadas de Jornalismo e Comunicação, às Conferências de Turismo, ao Fórum de Animação Sócio-Cultural, entre muitas outras acções. Prefiro pensar que isto acontece por questões de disponibilidade dos professores.”
Segundo Maria João Mogarro “os docentes devem participar na vida da escola, na realização de congressos, exposições, apresentações de livros conforme as aptidões de cada um”. A professora Teresa Coelho vai mais longe quando diz que “para além da ausência de tempo ou vontades, as actividades que vão para além do currículo não interessam toda a gente”, salientando ainda que “o pior é quando as pessoas estão mais preocupadas em fazer críticas do que a tentar construir qualquer coisa.”
Bolonha como uma aposta na interdisciplinaridade
Desde que o Processo de Bolonha foi colocado sobre a mesa, que se discute o valor da complementaridade das disciplinas e a interdisciplinaridade entre professores de áreas científicas diferentes. Para Teresa Coelho, um projecto deste tipo poderia “rentabilizar tempo e esforço”. Já Albano Silva, aponta a interdisciplinaridade como o “grande desafio de Bolonha”, até porque em “determinados projectos são sempre algo de incerto e que possuem áreas científicas diferentes e nos quais a participação de professores de áreas distintas é fundamental.”
Neste sentido, Maria João Mogarro considera que “Bolonha pode ser uma oportunidade para tornar tudo isto possível.”
Apesar de existirem sindicatos e associações de professores, alguns defendem que os docentes do ensino superior não possuem um sentimento de classe, uma vez que são de áreas de formação muito diversificadas. No entanto, em momentos de crise no sistema educativo, como aquele que marca a actualidade, a coesão entre os docentes na discussão de problemas comuns marcam as suas vidas profissionais.
“Todos estamos cientes da crise que o ensino superior atravessa, o fundamental é que todos nos unamos no cumprimento das nossas funções. Na ESEP não há uma hierarquia instituída por graus académicos, mas antes pelas funções determinadas, que não determina as relações entre as pessoas. É uma vitória da nossa escola.”, rematou o presidente do Conselho Executivo da ESEP.
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