As mulheres entram no campo dos homens

Ana Valinho começou no desporto aos sete anos de idade. A jovem, natural de Fátima, começou no atletismo no clube da terra, na Casa do Povo de Fátima. Aos doze anos mudou-se para o futsal, no mesmo clube e rapidamente ascendeu na sua carreira. Mais tarde mudou-se definitivamente para o futebol. Aos 21 anos Ana Valinho envergava a camisola do 1º de Dezembro, clube da zona de Sintra, onde jogou três épocas tendo sido sempre campeã e erguendo ainda duas taças. Com naturalidade, foi chamada à selecção nacional onde se tornou internacional pela equipa das quinas. Depois de uma experiência internacional, na Islândia, voltou a Portugal onde representa o Clube Atlético Oureense há quatro anos. No Oureense já foi campeã, já ganhou a Taça de Portugal e ajudou a escrever linhas de história ao contribuir para que a sua equipa se tornasse no clube português que mais longe foi na Liga dos Campeões.

Ana Valinho admite que o futebol não é igual para homens e para mulheres porque “se a mulher quer fazer desporto, normalmente tem de fazer muito mais sacrifícios do que os homens. A visibilidade e reconhecimento também é sempre maior nos homens do que nas mulheres” referindo-se ao facto de a comunicação social não ter dado importância ao feito histórico do Clube Atlético Oureense na Liga dos Campeões.

Comparando realidades, o Clube Atlético Oureense tem equipa masculina e feminina. A equipa masculina militava neste ano, e pela primeira vez, no Campeonato Nacional de Séniores, conhecida antigamente como “Segunda B” (tendo descido para a distrital este ano) enquanto que a equipa feminina luta pela conquista do Campeonato Nacional ou seja, 1ª divisão, mas mesmo assim as diferenças são muitas.  “Na equipa feminina há algumas jogadoras que recebem ajudas de custo para virem treinar. Na equipa masculina quase todos os jogadores recebem uma mensalidade, além dos prémios de jogo. Essa diferença tem vindo a diminuir mas, ainda existe” explica a jogadora de 29 anos. Ana Valinho confessa que “o futebol feminino tem ainda um grande caminho a percorrer mas, acredito que um dia o nível irá ser o mesmo entre os homens e as mulheres”.

 

Do campo para fora de jogo

No futebol feminino, são mulheres que desafiam um mundo maioritariamente masculino e entram dentro das quatro linhas sem medo para ditar as regras do jogo. Acima de tudo, são mulheres com paixão pelo futebol, mulheres que muitas vezes lideram homens e conseguem manter o sangue frio para manter, dentro das quatro linhas, a serenidade, dignidade e respeito que o futebol assim pede.

Mariana Domingos é natural de Leiria, tem 21 anos e sonha, um dia, fazer carreira no futebol. Sem bola nos pés, mas com cartões na mão, Mariana é árbitra no distrito de Portalegre tendo tirado a sua formação em Leiria.

Mariana sempre foi apaixonada pelo desporto, tendo desde cedo praticado patinagem artística. Mas, uma lesão levou-a a virar-se para o “mundo dos homens”: o futebol mas, de apito na mão. “Entrei na arbitragem principalmente por causa do meu pai. Ele era árbitro e lá em casa sempre fui habituada a ver e acompanhá-lo. O bichinho começou a crescer e fui tirar o curso, mas nunca pensei que viesse a gostar tanto disto” revela Mariana. A atleta, natural da Cidade do Liz, é já árbitra há seis anos e desabafa que “falta um pouco de mente aberta em Portugal em relação à arbitragem feminina. No nosso país temos grandes árbitras que são destacadas a nível internacional, por isso qualidade não falta, penso que falta é um pouco mais de valor para atribuir tanto ao futebol feminino como a quem o integra”.

Paulo Batista é o árbitro de 1ª categoria mais antigo a atuar em palcos da primeira divisão. Atualmente decidiu “arrumar” o apito e terminar a sua carreira como árbitro tendo a sua festa de despedida ocorrido no feriado, dia de Portugal, 10 de junho.

No entanto, o árbitro do distrito de Portalegre defende a arbitragem feminina dizendo que “sem dúvida alguma, o desporto deve ser abrangente e funcionar de igual forma para homens e mulheres. Embora no nosso país a atenção maioritária seja para o desporto masculino, é uma tendência que se pode inverter”. O agora ex-árbitro da Associação de Futebol de Portalegre confessa ainda que “existem muito boas árbitras no nosso país, porém estas não são reconhecidas nem abordadas nos órgãos de comunicação social”. Remata ainda dizendo que: “Considero que o respeito é algo que se ganha e sem dúvida que uma mulher conseguia arbitrar da mesma forma que um homem” revelando que em Portalegre “falta muitas vezes a iniciativa de mulheres a querer vingar; muitas decidem ir estudar para fora, o que dificulta o seu percurso, portanto, é mais difícil, mas basta o esforço e o querer para vingar”.