Alert, um ano depois

O Hospital Dr. José Maria Grande tornou-se, em Junho de 2004, a terceira unidade hospitalar do país a ter uma urgência, totalmente informatizada. Um ano depois são apresentados os prós e os contras da utilização do Alert.

A entrada de qualquer doente no serviço de urgências do Hospital de Portalegre, do princípio ao fim, é feita através do computador, com excepção das receitas que ainda são prescritas à mão, mas por pouco tempo. Tudo isto é possível através do Alert uma inovadora aplicação informática que permite uma maior eficácia dos Serviços Hospitalares, na medida em que possibilita o registo, a interligação, a reutilização e a análise de toda a informação relacionada com um episódio clínico.

Médicos identificados por impressão digital para proteger a informação clínica do doente, pacientes portadores de uma pulseira com código de barras para evitar a troca de medicamentos e monitores sensíveis ao tacto ("touch-screen monitors"), em todas as etapas do atendimento são algumas das novidades que o Alert trouxe.
Para além do Alert o Hospital de Portalegre também está a implantar uma nova medida, a Triagem de Manchester. Segundo Luís Amaro, enfermeiro no banco de urgências do Hospital de Portalegre “ o utente é triado e de acordo com a sua situação, o seu grau de gravidade e tendo em conta alguns sintomas, avaliações que nós fazemos como a temperatura, o pulso, a oxigenação do sangue as saturações periféricas é atribuída uma cor ao utente”.

Amélia Coelho, médica do banco de urgências do Hospital de Portalegre, diz que a introdução do novo sistema informático veio trazer vantagens e desvantagens. A grande vantagem assenta no facto de os doentes serem atendidos por ordem de prioridade, os casos mais graves são os primeiros a ser atendidos.
A médica diz que “a pré-triagem é um aspecto muito positivo, de acordo com a gravidade da situação do doente é-lhe atribuída uma cor, o que é muito melhor. Agora o doente traz uma dor no peito antes de o consultar já sei o que ele tem e antes não sabia”.

Com a introdução das novas tecnologias tudo parece mais fácil, mas Amélia Coelho não partilha da mesma opinião. “Muitos de nós não fomos educados a manejar os teclados do computador e demoramos mais tempo a fazer o internamento ”, frisa. A médica do banco de urgência do Hospital de Portalegre considerou ainda que, “com este sistema a consulta torna-se mais impessoal, estou o tempo todo virada de costas para o doente e de frente para o computador”.

Tempo um forte adversário do Alert

A luta contra o tempo e o desespero são alguns aspectos que estão presentes nas salas de espera do serviço de urgência dos hospitais. Pessoas de cabiz baixo, com o cansaço estampado na cara à espera de serem vistos por um médico, são o exemplo de que nem tudo está a funcionar a cem por cento.

O factor tempo é considerado um adversário forte do Alert. Todos os dias, vários utentes estão à espera duas horas para fazer uma triagem, ou quatro a cinco horas para serem vistos por um médico.

O único remédio é esperar ou desistir. Marcos Sousa, residente em Portalegre, esteve cinco horas e 20 minutos à espera para fazer uma radiografia a uma perna. “Mandaram-me voltar na quarta-feira da próxima semana, mas já não vim, ia ser outro dia perdido à espera de ser atendido”, conta Marcos Sousa. Assim como este utente, muitos são os doentes que desistem da difícil espera.

A demora no atendimento começa a ser uma constante e alguns utentes falseiam o seu próprio diagnóstico na parte da triagem de Manchester para que possam entrar mais rapidamente. “Muitos doentes queixam-se de determinada maneira para entrarem mais rápido, para não estarem tanto tempo à espera”, assegura Amélia Coelho.

A adesão ao banco de urgências do Hospital de Portalegre tem registado uma grande afluência, superior a que era a média de outro tempos. O facto das consultas de recurso do centro de saúde terem terminado está na origem desta afluência ao serviço de urgências.

“Este sistema é muito pior que o anterior”

A informatização clínica cria um ambiente sem papel e pretende contemplar todos os intervenientes, desde médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos de laboratório, gestores administrativos a utentes. Contudo, as opiniões dividem-se. Depois de ter saído do consultório com os seus três filhos e entrar, novamente, no ambiente carregado da sala de espera Paula Sousa conta: “ É a quarta vez que cá venho, mas estou muito descontente, principalmente, por causa das crianças. Preferia o outro sistema porque havia um pediatra para atender as crianças, mesmo que estivessem aqui vinte pessoas à espera a criança entrava logo, agora assim não”.

Com este sistema o doente só é atendido de imediato, se apresentar um quadro clínico com alta gravidade. “A minha filha estava com febre, uma amigdalite já muito avançada, viemos às urgências e estivemos cá umas cinco horas à espera de ser atendida. Discuti, fiz reclamações mas não adiantou. Fomos embora voltei com ela duas horas depois como ela já estava mesmo cheia de febre entramos logo”, conta Paula Sousa.

Também Paula Pinto, a morar em Monforte, já fez reclamações no banco de urgência por ter estado tanto tempo à espera para que a sua filha fizesse a triagem. “Vim com a minha filha para as urgências mas antes já tinha sido examinada pelo médico de família que enviou uma carta. Mesmo assim estive duas horas à espera só para que lhe fizessem a triagem, não achei que este novo sistema fosse melhor e reclamei”, assegura Paula Pinto.

Se por um lado, uns reclamam pois não vêem que o Alert tenha trazido melhorias no sector clínico, por outro lado algumas pessoas consideram que o sistema é funcional e pode ser uma mais valia. É o caso de Jorge Lopes, que apesar da tarde quente com um calor abrasador na sala de espera, considera que “nós não podemos exigir mais, porque se exigirmos não temos mais. É claro que eu gostava de chegar e entrar logo, mas a nível de sistema está a funcionar bem, chegamos, sentamos, esperamos se acontecer alguma coisa somos vistos por um médicos lógico que nós gostávamos de ter um bocadinho mais, a nível de saúde acho que devimos ter um bocadinho mais”.

Com o Alert as novas tecnologias chegaram em força ao sector clínico mas não ficam por aqui. O próximo passo consiste em prescrever os medicamentos através do computador e banir definitivamente as esferográficas dos centros clínicos.